A “cultural hacker” Caroline Bond: economia colaborativa é necessidade básica | Divulgação
A “cultural hacker” Caroline Bond: economia colaborativa é necessidade básica| Foto: Divulgação

“Nômade digital” e “cultural hacker” são algumas formas da jornalista socioeducacional Caroline Bond descrever sua atuação. Entre outros projetos, ela criou o Inspiratório Uhbzurv (leia “observe”), que desenvolve estratégias colaborativas de geração, distribuição e compartilhamento de recursos.

“Eu pesquiso, estudo e trabalho em rede desde 1997. Já era meio ratinha de internet e fazia uns trabalhos como tradutora e jornalista freelancer. Em 2013 fiz minha transição no trabalho e abandonei a CLT. Meu primeiro projeto colaborativo se chama Rede NOS (Nova Ordem Social), com encontros na Associação Paranaense de Psicodrama. Na época havia pouquíssimas iniciativas e eu queria mapear quem trabalhava com isso de forma mais independente. O trabalho era todo manual, a internet era discada, eu passava horas pesquisando. Tenho muitos cadernos de anotações da época em que eu precisava pesquisar assim. Também promovia eventos para reunir pessoas e projetos com ideias colaborativas.

Eu acredito na ‘suficiência’. Ao aplicarmos a suficiência em nossas vidas, já damos um grande passo. Além de fazer você economizar um bom dinheiro, vai lhe ajudar a viver uma vida mais leve, saudável e criativa.

A economia colaborativa para mim vai muito além de conceito e tendência. É uma necessidade básica. E é urgente que cada um de nós perceba que toda e qualquer ação isolada impacta ‘mundos’. Ou seja, impacta tanto seu contexto familiar quanto seu bairro, sua cidade, seu país etc. É como o efeito doppler, da pedra no lago. O que você fizer vai reverberar, de uma forma ou de outra. Quando a gente começa a perceber nossa importância no mundo, tudo acontece. A gente encontra nosso lugar, conhece pessoas que também estão vivendo esse processo, e naturalmente redes são formadas, seja para resolver um problema pontual no seu condomínio, criar uma horta comunitária no bairro, formar coletivos socioculturais, entre tantos outros desdobramentos. 

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Hoje, empreendo em rede de forma colaborativa, como jornalista, com pessoas de diferentes lugares do mundo. Conquistei minha autonomia e minha liberdade em poder fazer meus horários e cuidar e acompanhar o desenvolvimento do meu filho. Além disso, sempre procuro levar o conceito para minhas relações pessoais e profissionais, e volta e meia tenho um sucesso relevante quando as pessoas se permitem vivenciar a transição e abandonar o medo de arriscar e confiar nos outros. 

Eu costumo trocar muito produto por serviço e vice-versa, como a mensalidade da escola do meu filho. O processo está todo bem acelerado. A crise mundial, o desemprego e as questões econômicas deram conta disso. Isso é bom. O desemprego e as surpresas econômicas nos obrigaram a repensar. E não só repensar a carreira, mas estimular a retomar sonhos, a questionar decisões e paradigmas. Também acredito que o trabalho com carteira assinada passa uma falsa sensação de segurança e que o futuro é o trabalho freelancer. Serão novos arranjos e parcerias, com pessoas que olham mais para suas potencialidades e sonhos e que buscam no outro complementar o que não têm.

Atualmente faço parte da RBG, Rede Brasil Global, uma plataforma com sede em Londres que conecta brasileiros expatriados e brasileiros espalhados pelo mundo, criada por duas jornalistas brasileiras. Lá eu tenho um programa de rádio chamado Rádio Matriztica, que fala sobre novas economias e o futuro do trabalho.

Como resultado do mapeamento de iniciativas colaborativas, criei o Inspiratório Uhbzurv (significa ‘observe’), espaço para divulgar e informar projetos e novidades.

Historicamente o individualismo foi uma conquista do ser humano: luta por sobrevivência, luta pela vaga no vestibular, na empresa, na fila do pão. Ou seja, já crescemos com medo da escassez. Porém, perdemos nossa essência coletiva no caminho e nos desequilibramos. Isso fez com que o planeta todo sofresse as consequências e estamos sendo cobrados como espécie. 

Vivemos um momento singular em nossa evolução. Está claro que a tecnologia tem promovido uma aceleração na formação de redes entre pessoas que já trabalhavam e serviam à sociedade buscando solucionar problemas e desafios sociais muito antes da internet. O que eu faço questão de destacar também é que muitos hoje ao falarem de economia colaborativa a associam ao ‘paradigma da escassez’ versus ‘paradigma da abundância’, trazendo a natureza abundante do planeta como palavra de ordem. Eu acredito na ‘suficiência’. Ao aplicarmos a suficiência em nossas vidas, já damos um grande passo. Além de fazer você economizar um bom dinheiro, vai lhe ajudar a viver uma vida mais leve, saudável e criativa. Esse minimalismo é perfeito para fomentar o colaborativismo”.