Não vejo mais as pessoas fazerem seu trabalho avançar sem ser em parceria com outras | Jonathan CamposGazeta do Povo
Não vejo mais as pessoas fazerem seu trabalho avançar sem ser em parceria com outras| Foto: Jonathan CamposGazeta do Povo

“Faço trabalhos artesanais desde os nove anos de idade. Isso começou com minha avó, que me ensinou crochê, bordado e tricô. Nunca mais parei. Por muitos anos, o artesanato foi apenas um hobby, uma atividade paralela. Desempenhei outras funções, me tornei funcionária pública. Mas há três anos dei um passo que mudou a minha história. Deixei meu trabalho e passei a me dedicar integralmente a minha marca: a Cora Artesanal. As coisas foram crescendo e ocupando espaço, literalmente. Até tomar conta da minha casa toda.

Foi assim que o colaborativismo entrou na minha vida. Um amigo próximo, vendo a necessidade que eu tinha de um espaço maior, me ofereceu uma casa para eu montar meu atelier. Ele fez o aluguel por um preço simbólico, pois queria que eu cuidasse do imóvel, que ele não pretendia vender. Ao conhecer a casa achei um desperdício usar sozinha todo aquele espaço. Então chamei mais duas amigas para colocarem os produtos produzidos por elas comigo. Nossa sociedade durou pouco tempo, mas fui incentivada por amigos e por outros artesãos a continuar. E o espaço se tornou uma referência, uma inspiração para diversos outros ateliers. Passamos a oferecer uma oportunidade para artesãos que precisavam de uma loja física para expor seus produtos. Na Bendita Colab nós damos, ainda, capacitação, consultoria, divulgação, funcionários para atender os clientes, eventos e cursos para a comunidade. Para isso, os artesãos pagam uma mensalidade fixa, de acordo com sua produção e o espaço que vão ocupar na casa. Em pouco tempo chegamos a 40 artesãos. Fazemos feiras juntos, compra de matéria prima para aproveitar melhores preços, trocamos informações. 

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Quando eu montei a Bendita Colab, uma parte do meu atelier ficou ociosa por conta das novas atividades que assumi no suporte aos artesãos. Por outro lado, eu ouvia os artesãos pedirem por máquinas novas. Foi assim que tive a ideia de montar o primeiro coworking de artesanato do país. Um espaço com maquinário, cursos e estrutura para pessoas que estão iniciando nesse ramo, ou sem possibilidade de adquirir equipamentos específicos. São diversas técnicas: costura, colagem, desenvolvimento de protótipos.

E tem sido muito bom poder compartilhar não só o espaço, como a experiência que a gente tem. Queremos desenvolver o artesão de forma completa. 

Economia Criativa 

A economia criativa vive comigo desde que eu comecei a trabalhar com artesanato. Vejo em nossa cidade que temos um potencial imenso, trabalhos muito diferenciados, com alta qualidade. É uma pena que não haja mais incentivo para que essa produção seja estimulada. Mas, de nossa parte, seguimos colaborando uns com os outros. Seja na reunião para dividir espaços em feiras, seja na negociação com fornecedores, e também na disseminação do conhecimento. O trabalho colaborativo é o futuro. Não vejo mais as pessoas fazerem seu trabalho avançar sem ser em parceria com outras. Os velhos modelos não se sustentam mais. Devemos imprimir essa nova fase, sem concorrência. Acredito em aliados. Se você não dissemina o que você sabe, rapidamente isso se perde. Então o que você sabe hoje, amanhã não vale mais. Se você não fez parceiros, planos e projetos, diminuem as chances de avançar. Meu incentivo diário com os artesãos é tornar o grupo coeso, para aproveitarmos oportunidades juntos. 

Hoje a Cora Artesanal está cada vez melhor e eu estou cada dia mais feliz. Faço o que eu amo e sinto que há um propósito na atividade que eu desempenho. Essas atividades impactam diretamente a vida de outras pessoas. Trabalhar de forma colaborativa e empreender ao mesmo tempo é muito especial. Meu recado para quem está inseguro sobre isso é: faça! Se existem propostas de atividades coletivas, aproveite. Se você faz o que gosta, não tem como dar errado. Pode demorar um pouco, o trabalho é árduo, precisa batalhar, mas vale a pena.”