Processo para sustentabilidade exige questionamentos e  autoconhecimento.
Processo para sustentabilidade exige questionamentos e autoconhecimento.| Foto: Pexels

Somente a indústria têxtil gera, anualmente, cerca de 175 mil toneladas de resíduos no país, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Não à toa, cada vez mais as pessoas estão antenadas ao que vestem, pensando em um consumo mais consciente.

A indústria têxtil é a segunda em consumo de água e responde por cerca de 10% da emissão de gases-estufa, além de despejar 500 mil toneladas de resíduos nos oceanos por ano, segundo a Organização das Nações Unidas Meio ambiente.

Mas aplicar o conceito de moda sustentável no dia a dia não é tão simples quanto parece. Além de pensar nos pilares da sustentabilidade – social, econômico e ambiental -, é preciso ir além e considerar a cadeia produtiva como um todo: o plantio, a colheita, o processo de tingimento, de deslocamento, o uso da peça, o desuso, as condições das pessoas que trabalham, entre outros pontos.

É um processo complexo, que exige muito questionamento e também autoconhecimento, mas não é impossível e pode trazer benefícios ao meio ambiente.

Por onde eu começo?

Estar consciente de que consumir com responsabilidade social é necessário para (tentar) mudar o mundo é o primeiro passo. Mas não adianta apenas buscar empresas que carregam o selo eco ou de moda sustentável, e não saber se elas aplicam o conceito em todos os processos. Nestas horas, informação, pesquisa e conhecimento ajudam a encontrar os melhores locais para compras.

Além da escolha das marcas que merecem o seu olhar, o autoconhecimento é fundamental. Saber suas necessidades, as peças que realmente precisa e evitar as compras por impulso já ajuda a desenfrear o que os especialistas chamam de fast fashion: a fabricação, o consumo e o descarte acelerado e a renovação constante do guarda-roupa.

Para a designer de moda e consultora Mariana Reis, essa conscientização deve começar internamente. “É legal olhar o que tem, desapegar com consciência, questionar os motivos pelos quais você comprou uma peça e nunca a usou. Entender e se identificar com as suas roupas é fundamental”, diz.

Brechós e as peças de segunda mão

O consumo de peças de segunda mão, para quem quer se vestir de forma responsável e com menos impacto, é uma das melhores alternativas. De acordo com um relatório do Sebrae, o número de brechós e estabelecimentos que vendem peças usadas cresceu 210% nos últimos anos. Esse boom se deve aos novos olhares dos consumidores em relação a essas roupas.

“Roupa sustentável é aquela que já existe. Hoje em dia, o conceito do brechó mudou muito, são lojas, com peças limpas, com garimpo, sem avarias e com identidade visual”, afirma Mariana.

A designer de moda explica que produzir uma peça de roupa hoje é muito barato, mas alguém paga por isso, seja por meio de condições precárias de trabalho ou com o uso de mão de obra infantil. Por isso, valorizar o que já temos, fazer pequenos reparos, consumir peças de segunda mão ajuda a diminuir esse mercado.

“Reparar peças aumenta o ciclo de vida das roupas. Seria bacana pensar no consumo de roupas de segunda mão, nos processos de produção socioambientais, mas ainda não vivemos assim. Por isso, temos que olhar para o que temos e criar uma relação positiva com isso”, diz.

A designer de moda mantém somente as roupas necessárias.
A designer de moda mantém somente as roupas necessárias.| Arquivo pessoal

Dicas para um consumo consciente de moda sustentável

Compre somente o que precisa - Faça uma lista, se necessário, para evitar as compras por impulso e pense nas possíveis combinações que pode fazer com as peças que já tem. “Consumimos muito além do que precisamos. É preciso questionar e buscar formas de mudar esse consumo dos excessos e impulsos,  começando pela conscientização do consumidor”, explica Mariana.

Não hesite em doar - Dê uma olhada no seu guarda-roupas e tire (com consciência) as peças que não utiliza mais. Roupas sem condições de uso podem ser transformadas em outros produtos, como bolsas, panos ou até mesmo enchimento para almofadas.

Atenção ao que passa para frente - Antes de doar, veja se a roupa não necessita de um reparo. Não faz muito sentido doar peças que podem ir para o lixo. “Muitas vezes a gente doa uma peça que está rasgadinha, mas quem a recebe acha que não serve e vai para o lixo, sendo que é uma peça que poderia ter sido reparada”, exemplifica a designer.

Faça bazares com suas roupas sem uso - Renove seu guarda-roupas vendendo o que não usa e adquirindo novas peças em brechós. Para quem tem dificuldade em comprar de segunda mão, venda as peças paradas e compre uma nova.

Saiba de quem compra - Procure por lojas sustentáveis e ecologicamente corretas, informe-se sobre elas: as políticas adotadas, se trabalham com logística reversa, as pautas sociais que aplicam. Caso elas não tenham, questione, é seu papel como consumidor cobrar.

Apoie causas - Fortaleça instituições e os movimentos, compre por uma causa (do local, do pequeno, de mulheres, dos socialmente invisíveis, dos negócios sociais, de negros).

Aumente o ciclo de vida das roupas - Faça a roupa girar, aumente o ciclo de vida dela, crie uma relação, valorize seu dinheiro e torne a moda sustentável. “E informe-se, repense. A informação é a ferramenta para a transformação”, diz.

Acompanhe outras dicas sustentáveis.

Conheça outras iniciativas no projeto Você Mais Sustentável.