Arquitetura

A vida controversa de um dos maiores gênios da arquitetura mundial

Luan Galani
20/11/2017 13:40
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O complexo que construiu em Taliesin tornou-se um centro de formação de jovens arquitetos. Foto: Reprodução

Frank Lloyd Wright (1867-1959) foi um desses sujeitos que a gente gosta de chamar de gênio, já que a palavra consta nos dicionários. Quem é da área sabe que o norte-americano é um dos “três porquinhos” da arquitetura moderna: seus mais de mil projetos concebidos ao longo da vida são estudo obrigatório. Se você nunca ouviu falar, para início de conversa é bom saber que o norte-americano é um peso-pesado da arquitetura moderna, tal qual Einstein para a física moderna ou Muhammad Ali para o boxe.
Casa da Cascata, uma das mais famosas do mundo, que lançou Wright ao estrelato em 1938. Foto: Reprodução
Casa da Cascata, uma das mais famosas do mundo, que lançou Wright ao estrelato em 1938. Foto: Reprodução
E ele sabia disso. Era o rei que ninguém desafiava. Sua arrogância não deixava barato. O arquiteto francês Le Corbusier, outro pai da arquitetura moderna, fez uma visita aos Estados Unidos e Wright se recusou a conhecê-lo. Depois de ver um projeto do arquiteto finlandês Eliel Saarinen, sentenciou: “Que grande arquiteto… eu sou”. Ficou ainda mais famoso quando se negou a cumprimentar o arquiteto alemão Walter Gropius, um dos fundadores da escola Bauhaus. “Sr. Wright, é um prazer conhecê- -lo. Sempre admirei seu trabalho”, teria dito o alemão. Em resposta, o ianque não sorriu nem levantou a mão — e seguiu seu trajeto de carro.
Os jornais que noticiavam escândalos gostavam dele por isso. Foi um dos primeiros arquitetos do mundo a virar capa da revista Time. Inaugurou o rol dos starchitects (arquitetos estrelas, em tradução livre). Explosivo e fascinado pelo culto a sua própria personalidade, vivia muito acima das suas posses, adorava comprar vasos chineses, pijamas de seda e gravatas. Seu esporte favorito era apontar o que lhe desagradava com a bengala. “Desde muito cedo, tive que escolher entre a arrogância honesta e a humildade hipócrita, e ainda não vi motivo para mudar”, disse certa vez.
O complexo que construiu em Taliesin tornou-se um centro de formação de jovens arquitetos. Foto: Reprodução
O complexo que construiu em Taliesin tornou-se um centro de formação de jovens arquitetos. Foto: Reprodução
Sexo, tragédia e sangue
Natural do interior do Wisconsin, aprendeu a amar a natureza como expressão divina e criou um jeito próprio de habitar a paisagem. O que para sempre influenciou sua maneira de enxergar as cidades. Para Wright, a cidade moderna, como a conhecemos, deveria ser destruí- da. Para salvar seu país, defendia cidades meio campesinas, em que cada um precisava apenas de um pedaço de terra, ar e luz suficientes para permitir às pessoas viverem como indivíduos, e não como cifras. O patrono da arquitetura norte-americana achava que as megalópoles nos tornavam artificiais. Talvez não estivesse tão errado.
Um de seus projetos mais icônicos, prédio principal do Museu Guggenheim, em Nova York foi finalizado em 1959. Foto: Reprodução
Um de seus projetos mais icônicos, prédio principal do Museu Guggenheim, em Nova York foi finalizado em 1959. Foto: Reprodução
Sua vida é digna de um filme, recheada de casos amorosos, homicídios, incêndios e prisão. Casou-se diversas vezes. Ganhou uma péssima fama pelos diversos casos extraconjugais que colecionava. Durante o primeiro casamento, com Catherine Lee Tobin, com quem teve seis filhos ao longo de 20 anos, abandonou a família e se refugiou na Itália com Mamah Cheney, esposa de um cliente. Na volta aos Estados Unidos, funda sua casa e centro de ensino de Taliesin, no Wisconsin, nome que homenageia um bardo do País de Gales, terra dos seus pais. O destino decide contra-atacar: um assistente dele mata Mamah, os dois filhos dela, quatro colaboradores, e depois incendeia todo o complexo.
Ao longo dos anos, casou-se mais algumas vezes e quase foi à falência em decorrência dos divórcios. O casarão ganhou diversas versões e resiste até hoje. No terreno ele foi enterrado.
Apesar de seu retumbante sucesso, ao fim da carreira teve sua arquitetura (a genuína escola norte-americana de projetar e construir) trocada na época pela Bauhaus e Mies Van der Rohe, que enfiou metade dos Estados Unidos nos cubos criados para os operários alemães. A escola alemã estava em alta e sua efervescência cultural encantava os norte-americanos. A vida também gosta de ser arrogante.
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