Arquitetura

A casa a que todos os artistas recorriam

Luan Galani
29/04/2015 01:00
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Como era a Casa Stenzel, que foi transferida do bairro São Francisco para o Parque São Lourenço. Foto: Fred Kendi/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

O movimento paranista deu bobeira. Resgatou a araucária, o pinhão e os temas indígenas em uma tentativa de construir a identidade regional para o estado do Paraná. Mas seus intelectuais deixaram passar as casas populares de araucária. Os arquitetos Key Imaguire Junior e Marialba Rocha Gaspar Imaguire – com a experiência de quem dedicou a vida à arquitetura de madeira – defendem a mesma tese. E explicam: “A casa de madeira é um produto cultural que, em grande parte, aconteceu em decorrência do ciclo econômico da madeira no estado, por volta de 1930. Afinal, a madeira de araucária era um material abundante e barato”.
Do estilo tradicional de construção de tábua e ripa com madeira de araucária, a casa Stenzel não passa despercebida. Para muitos, é apenas aquela casinha rosa abandonada no Parque São Lourenço. Porém, a construção não é uma qualquer. Erguida em 1928, sobrevive à umidade do parque, que a corrói sem discrição desde o dia em que foi transportada do bairro São Francisco em 1998. E resiste heroicamente ao descaso do poder público, que a mantém fechada há seis anos. A Fundação Cultural de Curitiba (FCC) informa que existe um projeto de reutilização do espaço, mas falta verba para tocá-lo.
Arquitetonicamente falando, a casa não se encaixa em nenhuma tipologia conhecida pelos almanaques. É única. Sua exclusividade reside no pé direito externo, que foi aumentado para facilitar a habitabilidade do sótão. E a construção se torna ainda mais especial por guardar histórias da família Stenzel, cujo seu membro mais ilustre foi o escultor Erbo Stenzel (1911-1980).
Descendente de alemães e austríacos, Stenzel foi artista, tradutor e professor da Escola de Belas Artes e Música do Paraná. Como um dos únicos detentores de prensas de gravura na época, Stenzel era o socorro de diversos artistas paranaenses, que recorriam a ele para imprimir seus trabalhos, como era o caso do pintor italiano Guido Viaro. Ao contrário do que é propagado, Stenzel não fez o homem nu da Praça 19 de Dezembro, que homenageia a emancipação política do Paraná, como conta a artista plástica Vera Lucia Didonet Thomaz. Essa gaúcha de nome comprido, uma autoridade da história da família e da casa Stenzel, garante: Stenzel não fez a maquete, não trabalhou na pedra e não pegou num martelo. O que se confirma com uma entrevista concedida em 1972 pelo escultor. Ele conta que a ideia foi toda do governador Bento Munhoz da Rocha e que sua única contribuição foi o painel em baixo relevo que está na praça.
Stenzel nunca se casou. Ficou no imóvel até seus 60 e poucos anos e depois foi para o Lar Dona Ruth, uma casa de repouso particular  entre Curitiba e Almirante Tamandaré, onde veio a falecer. A residência ficou fechada por seis anos. Daí foi a vez da costureira Gerda Metzenthin, uma parente distante de Stenzel, que passou a viver na casa e se tornou a guardiã de tudo que a família do artista havia juntado ao longo dos anos. Acumuladora de primeira linha, morava entre gatos, cachorros e galinhas. Mas diz-se por aí que o Erbo foi sua verdadeira paixão. Após sua morte em 1996, ela foi enterrada ao lado de Stenzel. Foi o destino cumprindo seu papel.

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