Opinião

Arquitetura

Senior living: a tendência da casa nova de quem não é novo

Marcos Kahtalian*
03/09/2021 16:50
Thumbnail
Ninguém gosta de envelhecer. Mas por enquanto é o melhor que pode acontecer com você, se tiver sorte. Só que sorte de verdade é envelhecer bem e para os dois casos – com ou sem sorte – vamos precisar de algum dinheiro. Ou muito. E não me refiro apenas aos remédios e a todos os gastos com saúde que crescem enormemente, mas também onde e como queremos passar esta etapa de nossas vidas. Em que casa vamos morar?
Pois é justamente em atenção a esse momento que começam a surgir (finalmente!) no Brasil os primeiros empreendimentos imobiliários dedicados ao que os americanos chamam de senior living. Sim, a casa, apartamento, condomínio ou o que for, onde existe uma adequação e uma atenção maior àqueles que começam a sentir algumas necessidades novas. E que, no entanto, têm muita vida pela frente e experiências e histórias a compartilhar.
A questão é que, depois de certo tempo, algumas tarefas domésticas, antes triviais, passam a exigir mais atenção. As pernas fraquejam, a visão também. Tomar banho - sem quedas ou sustos - torna-se uma aventura épica; cozinhar passa a ser um desafio de coordenação; e descobrir onde estão os óculos, uma verdadeira gesta. Arrumar a casa, ou seja, apenas viver o dia a dia, já não será mais tão simples.
No tempo em que as famílias eram enormes, com certeza era mais fácil envelhecer com todos os parentes em uma casa grande, pois sempre havia muita assistência. Mas no contexto atual, de famílias e imóveis menores, muitos de nós começam a se perguntar sobre os desafios de uma escada; ou sobre como é o acesso com equipamentos ortopédicos e para cadeirantes, bem como tudo que pode tornar a vida mais confortável – para justamente nos dedicarmos ao que verdadeiramente interessa, que é cultivar nossas relações.
Os novos empreendimentos começam a surgir com adequação de banheiros, largura de portas maior, mobiliário preparado, campainhas de auxílio, serviço pay per use para refeições e serviços de saúde, apoio de enfermagem e tudo o que mais for, conforme as várias propostas. Importante comentar que, muitas vezes, até mais importante que a estrutura física, é a estrutura do serviço e de atenção. E mais ainda, a criação mesma do sentido de convívio, de comunidade e de interação social.
Isso é, claro, custa dinheiro, e por enquanto só vem sendo lançados no mercado produtos para aqueles, digamos, happy few – e com muito sucesso. Um recente lançamento em Curitiba teve mais 50 contratos assinados no primeiro dia de vendas, sem estardalhaço. E vem muito mais por aí, segundo nossas pesquisas.
É certo que a tendência destes condomínios senior living se espalhará no país, e como nos EUA, atenderá todos os gostos e bolsos, com vários níveis de segmentação e verdadeiras comunidades de residentes em um mercado que movimenta lá mais de 500 bilhões anuais de dólares, segundo algumas estimativas.
Como a alternativa ao envelhecimento não é interessante, é bom ficar atento a esse movimento. E seguir sempre aqueles conselhos que você não aguenta mais ouvir: ir ao médico sempre, fazer refeições saudáveis, praticar esportes, manter uma rotina agradável e ter sorte – e algum dinheiro. Bem vindo à casa nova, para quem já não é mais (tão) novo.
*Marcos Kahtalian é sócio-fundador da Brain Inteligência Estratégica (jogando, com sorte, no time 50+).

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!