Arquitetura

Construída há 18 anos, passarela que liga dois campi da UFPR teve inspiração lúdica

Aléxia Saraiva
26/11/2018 09:52
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Inaugurada em 2002, passarela que une campi da UFPR é inspirada em flor de lótus. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo | GAZETA

Há não muito tempo, quem estudava no campus Jardim Botânico da Universidade Federal do Paraná (UFPR) precisava de planejamento se quisesse almoçar normalmente. No fim da década de 1990, quando o campus ainda não tinha seu próprio restaurante universitário, os alunos costumavam atravessar a BR 476 a pé para cortar caminho e chegar ao Centro Politécnico, onde poderiam comer pagando apenas R$ 1,30. Isso porque o chamado Campus III da universidade — que abrange os dois locais e a Escola Técnica —, além de imenso e entrecortado por rodovias, ainda não tinha a icônica passarela que liga os espaços de ensino.
“Na época, o pessoal cruzava muito a pista da BR. Um dia, o reitor voltava do aeroporto e, passando por ali, viu um aluno atravessando de chinelo de dedo e perdendo um dos calçados no meio da pista”. Quem conta é o professor Flávio Zanette, que foi pró-reitor de Administração da gestão de Carlos Roberto Antunes dos Santos, reitor da UFPR de 1998 a 2002. Foi a partir desse episódio que a gestão tomou como prioritária a ideia de criar a ponte entre os campi.
Foto: Daniel Castellano/Arquivo/Gazeta do Povo
Foto: Daniel Castellano/Arquivo/Gazeta do Povo
No entanto, a maior dificuldade era encontrar meios financeiros de viabilizar a obra. “Não se pagava luz e água por falta de recursos. Não tínhamos verba ou apoio nenhum durante o governo”, conta Zanette. Por isso, ele recorreu ao apoio da Prefeitura — comandada à época por Cássio Taniguchi — para realizar o projeto, assumido então pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).

Pétalas em aço

Quem assinou o projeto da passarela foi o arquiteto Fernando Canalli, que na época trabalhava junto ao IPPUC. Canalli apostou em uma estrutura feita com tubos de aço, que se entrelaçam e formam desenhos para quem vê de dentro, o que acontece graças à forma arredondada da estrutura. O conceito foi justamente tornar a travessia menos monótona para os pedestres, fugindo de um aspecto estático.
“A ideia é ter uma perspectiva que vai evoluindo enquanto se transita”, explica o arquiteto. “As pétalas se desenvolvem conforme você vai caminhando. Os desenhos da flor de lótus têm uma evolução muito similar, e essa foi minha principal inspiração. Eu quis propor um desenho contemporâneo, mais dinâmico e agradável”.
Desenho do arquiteto que inspirou o formato da passarela. Foto: Fernando Canalli
Desenho do arquiteto que inspirou o formato da passarela. Foto: Fernando Canalli
Quanto ao piso da ponte — que, vazado, permite que se veja os carros passando pela rodovia — Canalli diz que o projeto inicial propunha um piso mais fechado, item que se alterou durante a obra. Outra mudança que acontece ao longo do tempo é a cor dos tubos: originalmente brancos, eles escureceram devido à fuligem dos carros.
Por conta da sua estrutura em aço, a passarela acaba integrando a lista de obras curitibanas ligadas por sua estética. A ponte, inaugurada em 2000, se segue à Ópera de Arame, à estufa do Jardim Botânico e à Rua 24 Horas. “Não que eu tenha partido da premissa que outras obras ícones da cidade tivessem utilizado tubos, mas estruturalmente fica semelhante. Você junta a resistência à estética e eles se tornam bem adequados”, destaca.

Melhor solução?

Apesar de a adesão dos estudantes ter sido imediata, como relata Zanette, há críticas à escolha da passarela como solução para ligar os campi. A professora aposentada do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPR Maria Luiza Marques Dias, que já foi prefeita da Cidade Universitária e coordenadora do Plano Diretor da UFPR, defende que outras soluções poderiam trazer mais benefícios.
Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo
Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo
Segundo ela, passarelas sempre privilegiam o carro e têm limitações na sua função — já que, por exemplo, um ciclista não pode fazer a travessia pedalando. “Você precisa estabelecer pontos importantes para o cruzamento e, nesses pontos, fazer a rodovia servir ao pedestre. Ou ela afunda ou levanta, como um viaduto”.
No caso da passarela da UFPR, ela elogia o projeto de Canalli e vê uma solução do problema imediato. No entanto, afirma que seria importante ter uma integração efetiva entre os campi. “Se você tem verba para construir uma rodovia e dar condições de trafegabilidade para o carro, o primeiro a ser respeitado deve ser o pedestre”, afirma.
Segundo ela, esse diálogo com o município renderia uma decisão urbanística mais adequada. “A universidade tem um papel importantíssimo dentro da cidade. Nossa sede foi eleita símbolo de Curitiba. É um local onde se processa conhecimento, cultura, uma condição melhor de vida no imaginário das pessoas. Isso deve ser levado em consideração”.

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