Arquitetura

Antigo prédio nazista em Hamburgo vira empreendimento de luxo e causa polêmica

HAUS
23/02/2018 22:00
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Projeto do novo prédio da Quantum Immobilien que dará lugar ao atual Stadthöfe. Foto: reprodução/Quantum Immobilien

O projeto que prevê um novo complexo de luxo a ser erguido no centro de Hamburgo, na Alemanha, tem levado a muitos protestos contra a sua construção. O novo prédio daria lugar à antiga sede em Hamburgo da Gestapo — polícia secreta nazista que atuou durante o período do Terceiro Reich. A indignação vem principalmente por parte das famílias que tiveram parentes torturados no local.
Em 2009, a cidade anunciou que a empresa Quantum Immobilien ficaria responsável pela transformação de quatro prédios históricos da cidade, datados do século 19, em um novo complexo multiuso de apartamentos. Entre esses prédios está o Stadthöfe, que foi utilizado pela Gestapo para interrogações e torturas durante os anos de 1933 a 1943.
O Stadthöfe, prédio adminsitrativo de Hamburgo, já foi quartel-general da Gestapo. Foto: Ruptly
O Stadthöfe, prédio adminsitrativo de Hamburgo, já foi quartel-general da Gestapo. Foto: Ruptly

Memorial das vítimas de tortura

Segundo o jornal britânico The Guardian, o contrato de venda do edifício aos investidores incluiu uma recomendação para que os novos proprietários disponibilizassem um espaço não-comercial de cerca de mil metros quadrados para a construção de um memorial das vítimas da Gestapo no local, que informaria os visitantes do importante papel do prédio na história da Alemanha.
Desde então, esse espaço disponível diminuiu drasticamente para 70 m², que ficariam na parte de trás de uma livraria. As autoridades culturais de Hamburgo afirmaram que vão trabalhar para encontrar um meio-termo adequado junto à construtora, dialogando com ativistas e parentes das vítimas.
O projeto para o novo complexo Stadthöfe prevê uma área total de 100 mil metros quadrados. Ele ostenta 88 flats de luxo, um espaço de 15 mil m² para negócios e um hotel com 126 quartos, bares, lojas, restaurantes e terraço na cobertura. No projeto, o local é descrito como “um eterno prazer”.
Novo projeto prevê vários espaços de luxo, como restaurantes, bares e lojas. Foto: reprodução/Quantum Immobilien
Novo projeto prevê vários espaços de luxo, como restaurantes, bares e lojas. Foto: reprodução/Quantum Immobilien

Culpa que dura eternamente

O designer Henning Kunow, alemão que mora em Curitiba, afirma que o peso que os alemães carregam pelo nazismo permanece durante toda a vida. “A história da Alemanha é uma coisa que fica ao longo das gerações. É uma culpa eterna por conta dos crimes do regime”, explica.
No entanto, segundo ele, o país sempre tentou mostrar que está além do seu passado. “Investindo forte em tecnologia sustentável, agora com os refugiados, e jogando bem futebol, a gente mostra que a Alemanha tem, sim, humanidade”, comenta ele. Nesse sentido, Kunow explica que é importante preservar a memória, mas também olhar para o futuro. “Como no contrato consta uma recomendação e não uma lei, então a construtora pode diminuir esse espaço. Por outro lado, eles fizeram um compromisso de construir o memorial”, afirma. Para ele, o ideal seria que a cidade promovesse uma votação para determinar o destino do memorial.
Manifestantes também pede a retirada da placa de boas-vindas do Stadhöfe, que se assemelha à do campo de concentração de Auschwitz. Foto: Olaf Wunder/Hamburger Morgenpost
Manifestantes também pede a retirada da placa de boas-vindas do Stadhöfe, que se assemelha à do campo de concentração de Auschwitz. Foto: Olaf Wunder/Hamburger Morgenpost

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