Arquitetura

Antonina conclui obras de restauro da estação ferroviária e igreja com mais de 150 anos

Karina Pizzini*
02/11/2019 11:00
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Fotos: Karina Pizzini

Nas escadarias que dão acesso à estação, o coral se apresenta com a classe que remete à década de 20 ou 30. Luvas, laços, pérolas e vestidos de uma única cor, ternos e chapéus contrastam com o amarelo da nova fachada da Estação Ferroviária de Antonina. A cidade se reúne na praça para ver o coral, a banda da cidade e presenciar a entrega das obras de restauração da Estação e da Igreja Senhor Bom Jesus do Saivá, tombados como Patrimônio Cultural Brasileiro. Entre a nostalgia e as expectativas para o futuro, os capelistas acompanharam, na última quinta-feira (31), a cerimônia de entrega das obras com esperança de ver o trem voltar à cidade.
Dona Tereza Santos Rocha, de 71 anos, não vê o trem passar por Antonina desde a década de 1970. A memória dos passeios de trem com o pai, que era maquinista, alimentam sua esperança de reviver esses momentos na cidade. “Lembro da minha mãe fazer uma roupa nova para passearmos de Maria Fumaça e ela ficou toda furadinha com a faísca depois”, conta relembrando a sua animação em passear de trem com a família. Tereza recorda da infância com nostalgia, mas se anima em pensar que a reativação da estação trará um futuro mais turístico à cidade.
A Estação de Antonina está ligada à história ferroviária do Paraná, iniciada com a inauguração do trecho Curitiba-Paranaguá, em 1885. A construção em estilo eclético ocorreu em 1916, após o incêndio que destruiu a antiga estrutura em madeira. Segundo a chefe da divisão técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-PR), Anna Eliza Finger, a obra foi integralmente de conservação.
O diretor da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária Regional do Paraná (ABPF), João Luís Teixeira, conta que os capelistas voltarão a ver a Maria Fumaça na estação ferroviária da cidade ainda em 2019. Ele espera que a primeira aparição seja em dezembro com o trem temático de Natal. Ainda de acordo com Teixeira, o trecho contará com uma locomotiva original de 1884, reformada pela ABPF, em Curitiba. “Ela conta a história do Paraná, já que foi a primeira Maria Fumaça a entrar em operação”, afirma.
Segundo o Iphan, a previsão é que a linha turística do trecho de 14 km entre Antonina e Morretes ocorra no dia 22 de dezembro. “Se a estação não estivesse restaurada, provavelmente não seria possível viabilizar o retorno do trem. Há muita expectativa da comunidade sobre o trem”, reforça Anna.
Desde 2003, o edifício da ferroviária abriga alguns órgãos da Prefeitura Municipal de Antonina e desde 2017 estava fechada para visitação devido às obras. Com um investimento de R$ 1,4 milhão, o restauro contemplou a troca do telhado por um sistema de telhas metálicas térmicas, a substituição dos sistemas elétricos e eletrônicos, a reforma geral dos banheiros e sistemas hidráulicos e a restauração total das esquadrias de madeira.

Igreja Senhor Bom Jesus do Saivá de Antonina

Dona Nisamar Finkensieper Sbrissia se considera capelista, mesmo não tendo nascido em Antonina, para onde se mudou com a família ainda muito pequena. Ela e a Dona Vera Maria de Oliveira Ribas podem ser consideradas guardiãs da Igreja Senhor Bom Jesus do Saivá e já estavam com saudades de frequentar a igreja como de costume. A restauração do local começou em maio de 2018 e desde então funcionava de maneira precária e com missas esporádicas.
Para ambas, mais do que ter a segunda casa aberta novamente, a igreja restaurada é importante para se valorizar a religiosidade que ela representa e a história que carrega. “A conscientização é muito falada, mas não é praticada. Tem que educar as crianças para mostrar a importância da fé e da religião”, diz Dona Nisamar. “Agora eu quero a conservação, não adianta restaurar e não preservar”, complementa Dona Vera.
Fotos: Karina Pizzini
Fotos: Karina Pizzini
Tombada pelo Iphan em 2012, a Igreja guarda a tradição das capelas luso-brasileiras coloniais, construída de alvenaria de pedra e com ornamentação austera. A execução da obra contou com recursos de R$ 1,5 milhão para a substituição do telhado, todo sistema elétrico e hidráulico, nova pintura e iluminação cenográfica. Com a conclusão da obra, a imagem setentista original talhada em madeira do Senhor Bom Jesus do Saivá retorna ao local.

Comunidade

A obra contou com a participação direta da comunidade, que doou telhas cerâmicas tipo colonial, colocadas na parte de cima da Igreja. Agora, os fieis, juntamente com o padre, se reúnem para arrecadar verba para a restauração do altar. O balconista José Gilson Almeida, morador de Antonina há dez anos, conta que desde o início das obras de restauro houve uma mobilização de moradores e comerciantes para revitalizar a cidade. “As obras incentivaram os moradores a pintarem suas casas e comércios, no sentido de melhorar a cidade e deixá-la mais bonita”, diz.
Segundo a presidente do Iphan, Kátia Bogéa, o tombamento de patrimônios culturais e históricos pelo Iphan, em âmbito federal, projeta essas pequenas cidades a um patamar de importância nacional para a cultura brasileira. “É perceptível nessa comunidade a esperança depositada no seu patrimônio cultural como um elemento potencializador do desenvolvimento econômico local, e isso se reflete em um aumento da autoestima dos moradores, que hoje olham para seu patrimônio com um maior orgulho”, diz.

Armazém Macedo

O Conjunto Histórico e Paisagístico de Antonina, tombado pelo Iphan em 2012, conta com oito intervenções em bens tombados com previsão de recursos do Governo Federal de R$ 16,9 milhões. Até o momento já foram investidos R$ 5 milhões. As obras fazem parte do PAC Cidades Históricas, iniciativa do governo federal de 2013. Entre os projetos que aderiram ao programa está a restauração do Armazém Macedo, construído quando a erva mate era o principal produto de exportação do Paraná e Antonina tinha o posto de maior movimento nesta atividade.
Além das duas obras entregues, e da restauração do Armazém Macedo, ainda estão em etapas preparatórias: a restauração da Fonte da Laranjeira e requalificação do Largo da Fonte e entorno; restauração do Santuário de Nossa Senhora do Pilar e requalificação do entorno; restauração da Fonte da Carioca e requalificação do Largo da Carioca e entorno; a restauração do Sobrado da Prefeitura Municipal e anexo; além da restauração da Igreja São Benedito e requalificação do entorno.
*Especial para a Gazeta do Povo.

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