Arquitetura

Reitoria da UFPR completa 60 anos, conheça a história dos prédios

Júlia Rohden*
13/09/2018 14:00
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Permeabilidade entre espaço público e parte interna dos edifícios marca o projeto moderno do D. Pedro I e D. Pedro II. Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

É comum nas conversas entre alunos e ex-alunos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que os edifícios D. Pedro I e D. Pedro II foram projetados para uma cidade do nordeste do Brasil, possivelmente Salvador, e por isso causariam desconforto térmico. No livro Universidade Federal do Paraná – 90 anos em construção, publicado em 2002, Key Imaguire Junior e Cleusa de Castro escrevem um capítulo sobre a arquitetura da universidade e comentam que a orientação dos brises (peças instaladas na fachada para impedir a ação do sol sem perder a ventilação) não permite controle da captação de calor nos prédios do conjunto da reitoria, o que ajudaria a explicar o frio que dá origem ao boato.
Projetados pelo paranaense David Xavier Azambuja, os dois edifícios, paralelos entre si, são um marco da arquitetura dos anos 1950. Em 2018, comemora-se 60 anos do ano de conclusão do conjunto que é tombado como patrimônio do Estado. No site do Patrimônio Cultural do Governo do Paraná consta que “a história que envolve o conjunto de prédios está intimamente ligado ao professor Flávio Suplicy de Lacerda, ex-reitor da UFPR. Foi ele quem trouxe o projeto do MEC (Ministério da Educação e Cultura) e o implantou. O MEC possuía vários projetos prontos e o professor Flávio pegou aquele que estava mais disponível. Havia uma certa urgência pois era preciso entregar o projeto ao MEC para que as verbas já requisitadas pudessem ser liberadas e não havia tempo hábil para isso. Só que este projeto tem uma peculiaridade era para ser implantado na região nordeste mas, mesmo assim, foi construído”.
Prédios foram projetados pelo paranaense Azambuja. Foto: Armin Henkel/Acervo da Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba
Prédios foram projetados pelo paranaense Azambuja. Foto: Armin Henkel/Acervo da Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba
No livro publicado em comemoração aos 90 anos da UFPR, Imaguire e Castro contradizem essa versão. “Criou-se o mito de que o prédio fora projetado para o Nordeste do Brasil e construído em Curitiba por contingências burocráticas”, escrevem os arquitetos. “O que nos parece ter ocorrido foi uma fidelidade excessiva aos princípios projetuais modernistas. Entre eles, a confiança plena e limitada na tecnologia como capaz de resolver todos os problemas. Assim como se confiou aos elevadores o principal fluxo vertical, certamente pensou-se também que qualquer desacerto em relação ao clima poderia ser resolvido com o condicionamento. Raciocínio, de resto, lícito quando a crise energética ainda não despontara no horizonte”, complementam.
Paulo Chiesa, professor do departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPR, conta que o projeto foi inspirado no Ministério de Educação e Saúde do Rio de Janeiro, mas são projetos distintos. “Muito dessa lenda [do projeto da UFPR ter sido pensado para outra região do Brasil] está relacionado a uma crítica aos prédios modernistas de modo geral, que não viam problema na repetição de estilo. Seria possível projetar com o moderno em qualquer lugar do planeta”, comenta.
Ressaltando a importância da obra no contexto do modernismo paranaense e brasileiro, Maria Luiza Marques Dias, professora aposentada da arquitetura da UFPR, defende a qualidade dos prédios. “É um conjunto com excelentes características para a época e com uma proposta arquitetônica inovadora“.
Foto: MarceLo Andrade/Gazeta do Povo
Foto: MarceLo Andrade/Gazeta do Povo

Semelhanças com edifício do Rio de Janeiro

No livro da editora da universidade, Key Imaguire Junior e Cleusa de Castro entendem que é “inevitável” a comparação entre o projeto feito por Azambuja e o edifício do Ministério de Educação e Saúde do Rio de Janeiro, elaborado por Le Corbusier e equipe brasileira. “Os conceitos e o método de trabalho do mestre suíço determinam uma influência decisiva e perceptível na faculdade paranaense”, escrevem. O edifício carioca, projetado em 1936 e concluído seis anos depois, consolida o modernismo no Brasil, até então feito de forma dispersa.
Os dois arquitetos ressaltam algumas características em comum: soltura dos volumes sobre colunas (pilotis) para liberação de áreas do térreo, brise-soleil fixo na elevação sudoeste e janelas comuns na elevação oposta, uso de rampas para circulação vertical evidenciado por grandes áreas envidraçadas e as laterais cegas dos blocos. “Todo um vocabulário em comum, portanto, atesta a filiação do conjunto curitibano ao carioca”, afirmam.
TCU UFPR - Vida e Cidadania - Curitiba, 05/02/2009 - Reportagem sobre o processos em tramitação no TCU - Tribunal de Contas da União - referentes à Universidade Federal do Paraná. Na imagem aparece o Edifício Dom Pedro II, na Reitoria da UFPR. Foto: Daniel Derevecki / Gazeta do Povo.
TCU UFPR - Vida e Cidadania - Curitiba, 05/02/2009 - Reportagem sobre o processos em tramitação no TCU - Tribunal de Contas da União - referentes à Universidade Federal do Paraná. Na imagem aparece o Edifício Dom Pedro II, na Reitoria da UFPR. Foto: Daniel Derevecki / Gazeta do Povo.

Características

O professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Salvador Gnoato, ressalta que os prédios da UFPR são porosos, sem grades e com uma praça aberta para a rua. “Esse espaço público é algo importantíssimo da arquitetura moderna brasileira”, diz.
Chiesa também ressalta a praça como um espaço importante de convivência e a permeabilidade entre o espaço do conjunto e o espaço público. Outras características modernistas elencadas pelo professor da UFPR são a circulação vertical envidraçada com rampas, a estrutura em concreto, o revestimento externo em pastilha e as calçadas de petit-pavé.
*Especial para Gazeta do Povo.

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