Arquitetura

Bjarke Ingels prova que arquitetura também é diversão

Luan Galani
23/06/2015 01:00
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Foto: Steve Benisty/BIG/Divulgação

Por que os prédios são tão chatos? Essa inquietude levou o jovem arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels, 40 anos, a edificar sua carreira sobre projetos doidos e desenhos improváveis que, no fim das contas, aparentam ser perfeitamente lógicos e práticos.
A hibridização de diferentes elementos que não combinam entre si é sua jogada favorita. O exemplo flagrante dessa atitude está na usina de energia Amager Resource Center, que ele está construindo em Copenhagen. Até 2016, a estrutura vai abrigar a indústria que transforma lixo em energia elétrica, mas também vai virar a primeira montanha de esqui da Dinamarca e um espaço de sociabilização para a vizinhança.
Esse jovem que sonhava em ser cartunista e que se aventurou pela arquitetura, só para melhorar suas habilidades de desenho, já cravou seu nome como um dos profissionais mais inovadores e promissores do setor. Não à toa, é um dos responsáveis pelo novo quartel-general do Google na Califórnia. Desde a fundação de seu escritório em 2006, o Bjarke Ingels Group (BIG) coleciona prêmios. E ainda promete nos surpreender.
Edifício VIA, também conhecido como W57, em Nova York (EUA), com forma de pirâmide para aproveitar a luz solar e a vista do rio Hudson. BIG/Divulgação
Edifício VIA, também conhecido como W57, em Nova York (EUA), com forma de pirâmide para aproveitar a luz solar e a vista do rio Hudson. BIG/Divulgação
Em muitos de seus projetos, as estruturas evocam formas naturais, como montanhas e flocos de gelo. Até que ponto a natureza influencia a sua arquitetura?
Acho que a vida já é interessante com seus desafios práticos, sua logística. Se você olhar cuidadosamente para ela, consegue fazer uma estrutura capaz de reforçá-la, em vez de ser formatado por inspirações externas. Nossos projetos consideram o meio, a paisagem, o contexto. Não importa de onde vem a ideia, mas como ela funciona inserida no mundo.
Que características da arquitetura escandinava você ainda traz consigo? Ou considera ter quebrado com a escola?
Sou muito mais inspirado pelo profano e pelos eventos cotidianos da vida humana do que por discursos artísticos ou estéticos. As estruturas e a organização no mundo estão constantemente se desenvolvendo. Todas as condições sociais, econômicas, políticas e culturais estão mudando. Sempre que nós intervimos como arquitetos, temos uma chance de dar forma física a essas estruturas invisíveis. O que demanda muito interesse, cuidado e respeito, uma vez que a arquitetura não está aqui só para os arquitetos. É um sistema de referência para todos.
O Instituto de Arquitetura da Holanda fala de você como “membro de uma nova geração que combina uma análise perspicaz, experimentação lúdica, responsabilidade social e humor”. Na sua opinião, qual sua qualidade mais particular?
O humor é pouco comum na nossa disciplina. Não tenho tanta certeza se nós [o escritório] realmente focamos em ser engraçados ou irônicos. Nossa maior particularidade, porém, é que somos flagrantes, claros, ostensivos. Nós pegamos os desejos das pessoas e tentamos realizá-los com uma clareza chocante. Isso é engraçado? Talvez.
A hibridização é outra característica latente. Como é esse processo de juntar elementos completamente diferentes e pensar fora da caixa?
Nossas ideias são sempre desencadeadas por condições específicas. Então, os diferentes elementos se juntam como uma reação às circunstâncias. Um exemplo perfeito é a nossa criação Grove, em Miami. Os elementos básicos do prédio são bem locais, como varandas grandes, teto de vidro e vegetação viçosa. Mas a maneira como a estrutura parece girar é única. Por isso, altamente contextual e icônica.
De que trata a arquitetura, na sua experiência?
Arquitetura trata de se certificar de que nossas cidades e prédios combinem com a maneira que nós queremos viver nossas vidas: o processo de manifestar nossa sociedade no mundo físico. A vida está sempre evoluindo. E nossas cidades também deveriam. A vida sempre se adaptou ao meio ambiente físico. Quando inventamos a tecnologia, ferramentas e a arquitetura, nós revertemos a situação e começamos a adaptar o ambiente à vida. Em vez de viver em uma árvore ou em uma caverna, nós poderíamos construir nossa própria árvore, nossa própria caverna. Como seres humanos, não temos que aceitar o mundo como ele é. Nós podemos criar o mundo dos nossos sonhos. É uma grande responsabilidade.
Certa vez você disse que a arquitetura tem estado isolada como uma bolha. Como você enxerga a arquitetura contemporânea?
Ela é confundida como essa atividade elitista, isolada e pensada como “feita por arquitetos, para os arquitetos”. Mas arquitetura realmente é esse esforço coletivo contínuo de tentar fazer nossas cidades e edifícios combinarem com a maneira que queremos viver nossas vidas. Ela está indo mais na direção de ser um facilitador. Eu gosto dessa ideia de que a arquitetura é uma esposa de meia idade que ajuda a sociedade continuamente a dar luz a ela mesma. E cada vez mais de uma maneira interdisciplinar.
Você defende que a sustentabilidade não pode ser um sacrifício moral ou uma questão de quanta qualidade de vida estamos preparados para sacrificar. Como praticar essa “sustentabilidade hedônica”?
Não tem de doer para fazer o bem. Precisamos olhar de modo diferente. Veja o Amager Resource Center, que será a primeira estação de esqui da Dinamarca. É economicamente viável porque faz o lixo virar calor e energia. E é lucrativo e verde, porque dá fim no lixo sem precisar de aterro. Cria energia e uma atividade social que, de outra maneira, seria impossível. Nós temos o frio, mas não tínhamos a topografia. Em breve, Copenhagen terá sua primeira montanha de esqui. Atualmente, levamos oito horas para ir para a Suécia, onde esquiamos. Isso é sustentabilidade hedônica: você pode fazer o mundo mais limpo e mais divertido ao mesmo tempo.

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