Arquitetura

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Cozinha com ilha ou península? Saiba a diferença e como usá-las para abrir e integrar o ambiente

Bruno Gabriel, especial para HAUS
29/09/2020 17:58
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A bancada da península realizada pelo arquiteto Renan Altera conta com cooktop a gás, cuba com torneira gourmet e exaustor. Foto: Photons Fotografia/Renan Altera

A integração da cozinha com as demais áreas da casa tem tido destaque nos projetos de arquitetura, seja pela possibilidade de ampliar o espaço de convivência ou pela garantia de maior funcionalidade aos espaços. A escolha de um ambiente aberto e integrado, contudo, traz uma questão importante: devo escolher o formato em ilha ou em península para minha cozinha?
Para entender a diferença entre os dois formatos, é possível recorrer à geografia. A ilha é aquele elemento que não tem conexão nenhuma com o que está ao redor. Para a arquitetura, é quando armários ou paredes não são tocados por ela. Já a península apresenta um dos lados conectado aos móveis adjacentes, ou até mesmo com a parede lateral.
O arquiteto Renan Altera explica que o primeiro passo para a escolha de uma cozinha aberta ideal é entender o espaço que há em cada ambiente da casa, o layout geral. “O elemento principal para a decisão entre ilha e península é entender as circulações. Onde e de que forma vamos conseguir colocar cada elemento nessa cozinha”, explica.
A cozinha em península facilita a organização, pois permite trabalhar com móveis na extensão da bancada, como é o caso do projeto de Renan Altera. Foto: Photons Fotografia/Renan Altera
A cozinha em península facilita a organização, pois permite trabalhar com móveis na extensão da bancada, como é o caso do projeto de Renan Altera. Foto: Photons Fotografia/Renan Altera
Segundo a arquiteta Andréa Benthien, a principal diferença entre os dois modelos de cozinha também diz respeito à metragem disponível. Ela explica que o formato em ilha exige uma circulação maior ao seu redor, afinal, o acesso precisa estar disponível a partir de qualquer ponto. “Para uma ilha se tornar viável, é preciso que a área tenha, pelo menos, 15 m² disponíveis. Somente para o espaço de circulação precisamos prever 80 centímetros de cada lado”, indica ela.
Projeto de Andréa Benthien de cozinha em ilha permite maior interação entre quem cozinha e quem está à mesa. Foto: R.R.Rufino/Andréa Benthien
Projeto de Andréa Benthien de cozinha em ilha permite maior interação entre quem cozinha e quem está à mesa. Foto: R.R.Rufino/Andréa Benthien
Esse é um dos motivos pelo qual os cliente de Renan optam, em sua maioria, pelo formato península. "A bancada fica muito maior, com a circulação ocorrendo apenas de um dos lados. Ao encostar em uma extremidade, ganhamos centímetros", indica.

Pontos de apoio

Na busca por otimizar o trabalho na cozinha, Renan insere em seus projetos a utilização da parte de baixo da ilha ou da península. “Coloco ali o máximo de coisas que serão usadas no espaço: talheres, panelas, porta temperos. E se possível, uma lixeira”, diz. Na parte de cima, se houver espaço, são colocados fogão, cuba e área seca para manusear os cortes.
Andréa diz que qualquer item pode ser inserido em uma bancada. No entanto, alguns exigem maior atenção, principalmente por questão de profundidade ou de altura. “Um fogão colocado em uma ilha exige um espaço bem maior. E isso faz com que ele tome o lugar de outros objetos, como banquetas ou cadeiras. Aí precisamos pensar em alternativas”, diz. Uma solução para isso, segundo a arquiteta, seria usar diferentes níveis para colocar tudo o que se deseja na bancada ou mesmo repensar a inserção do fogão nela.
Para a cozinha em ilha, Andréa inseriu fogão e mesa em dois níveis diferentes, além de utilizar a coifa com dois motores para realizar a troca de ar. Foto:  Rodrigo Ramirez/Andréa Benthien
Para a cozinha em ilha, Andréa inseriu fogão e mesa em dois níveis diferentes, além de utilizar a coifa com dois motores para realizar a troca de ar. Foto: Rodrigo Ramirez/Andréa Benthien
Caso o espaço não seja suficiente para agregar todos os elementos, o ideal é pensar a inserção de elementos-chave em um formato de triângulo. De acordo com esse critério, cuba, fogão e geladeira ficam inseridos um em cada canto. Com os itens em pontas diferentes, o trânsito de pessoas fica facilitado.

Coifas

Quando a opção é deixar o fogão na ilha ou na península, a utilização de coifas é bastante indicada. Renan Altera garante que a extração de odores é essencial em projetos desse tipo, principalmente para pessoas que se utilizam de técnicas de frituras ou grelhadas na hora de cozinhar. “Existem diferentes tipos de coifas para diferentes gostos. O importante é entender os dois tipos de sucção: exaustão e indução. Por exaustão, o odor é sugado e jogado para fora do apartamento. No caso da depuração, o odor é sugado, filtrado e devolvido ao ambiente", explica.
Renan conta que, embora seja mais eficaz, a exaustão nem sempre pode ser escolhida, por conta da infraestrutura do local. "Algumas vezes, as construtoras deixam furos nas vigas para que os dutos sejam passados. Mas quando percebemos que nada disso será possível, optamos pela depuração". O arquiteto ainda chama a atenção para a existência de um cálculo para saber a potência e a sucção da coifa, de acordo com o tamanho do fogão.
Projeto de Renan Altera para cozinha em ilha. Foto: JP Image/Renan Altera
Projeto de Renan Altera para cozinha em ilha. Foto: JP Image/Renan Altera

Infraestrutura

A infraestrutura é mais um item a ser considerado. Em primeiro lugar, pontos de gás ou energia precisam estar presentes. “Mesmo que o cliente escolha um cooktop por indução, que exige apenas eletricidade, deixamos também um ponto de gás disponível. Isso porque ele pode ter essa opção disponível para o futuro”, diz Renan.
Quanto à parte elétrica, o arquiteto aponta que a inserção de tomadas acaba sendo mais fácil em penínsulas, por permitir que os pontos sejam colocados nas paredes. “No caso das ilhas, colocamos as tomadas nas duas laterais, no pé da ilha, ou fazemos uma torre de tomadas”, aponta.
O arquiteto também chama a atenção para o fato de que a escolha de instalar a pia na ilha ou península exige o planejamento da parte hidráulica. Ele acrescenta que a inserção de pia e fogão juntos na estrutura exige um espaço maior da cozinha, mas garante a praticidade na hora de higienizar pratos e talheres e de realizar cortes.

Organização

Ter uma cuba próxima, segundo Andréa, pode facilitar a organização na hora de cozinhar. “Se a pia está muito distante, toda a louça suja acaba ficando na bancada em algum momento”, afirma. Uma solução para isso aparece em um dos projetos da arquiteta, que integra pia e península apostando na discrição.
“Trabalhei com duas alturas de bancada para esconder a área de trabalho da pia. A ideia é que durante o churrasco, a parte da cozinha fique mais reservada”, conta. Nesse caso, como o balcão tem um metro de altura, as banquetas também são mais altas.
No projeto de cozinha em península, Andréa Benthien trabalha com dois níveis de bancada para que a pia fique mais escondida. Foto: Rodrigo Ramirez/Andréa Benthien
No projeto de cozinha em península, Andréa Benthien trabalha com dois níveis de bancada para que a pia fique mais escondida. Foto: Rodrigo Ramirez/Andréa Benthien
A arquiteta aponta que, usualmente, cadeiras mais altas são colocadas em espaços gourmet com churrasqueira agregada. "Isso garante a proximidade de quem está do outro lado. Quando são cozinhas individuais, os clientes optam por cadeiras mais baixas, pensando em refeição, em café da manhã", pondera.

Materiais adequados

O arquiteto Renan Altera indica para as ilhas e penínsulas o uso de pedras sinterizadas, como o dekton, produzidas a partir da mistura das matérias-primas usadas na fabricação de porcelana, vidro e superfícies de quartzo. Por conta de suas propriedades, o revestimento é resistente e não mancha. O principal problema, explica Renan, é o alto valor.
Os quartzos também são indicados pelo arquiteto, mas exigem cuidados com a temperatura, principalmente quando se apoiam panelas quentes diretamente na pedra.
Como opção mais barata, entram as pedras naturais, como o granito. Além delas, lâminas de porcelanato podem ser usadas, pois são resistentes, mas o arquiteto indica que sejam escolhidos os porcelanatos de massa única. “Normalmente, há um esmalte em cima e dentro temos cerâmica ou massa única. Caso descasque ou lasque, visualizamos menos os defeitos na massa única”, aponta.
Outra recomendação diz respeito à inserção de um escorredor quando a pia é inserida na ilha ou na península. Renan indica que esse escorredor seja feito com calha úmida ou esculpido na própria pedra: “se for esculpido, há um custo mais elevado, mas fica esteticamente lindo e é bastante funcional”, diz.

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