Arquitetura

Bjarke Ingels lança nota em defesa de seu encontro com Bolsonaro para projetos no Brasil

HAUS
24/01/2020 21:41
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Foto: Steve Benisty/BIG/Divulgação

Após ter recebido uma série de críticas por ter se encontrado com o presidente Jair Bolsonaro para discutir possibilidades de projetos de turismo sustentável para o Brasil, o arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels divulgou uma nota defendendo seu posicionamento e suas possíveis obras no país. A nota leva o título “Nosso papel e impacto no mundo”.
O arquiteto argumenta que criar uma lista de países ou empresas com os quais seu escritório, o BIG, deve evitar trabalhar é uma “simplificação excessiva de um mundo complexo”, e que “dividir tudo em duas categorias não é sensato”.
“Não podemos esperar que todas as instâncias públicas estejam alinhadas com todos os aspectos de nosso pensamento, mas podemos garantir que possamos trazer a mudança que queremos ver no mundo através do trabalho que realizamos“, afirma Ingels na nota.
“Por mais que eu gostasse de trabalhar em uma bolha em que todos concordam comigo, os lugares que realmente podem se beneficiar do nosso envolvimento são os que estão mais longe dos ideais que já temos.”
Presidente Jair Bolsonaro em encontro em Brasília com o arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels. Foto: Marcos Correa/Divulgação
Presidente Jair Bolsonaro em encontro em Brasília com o arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels. Foto: Marcos Correa/Divulgação
Ingels chegou ao Brasil no dia 10 de janeiro e viajou pela Rota das Emoções, — região que abrange os estados do Ceará, Piauí e Maranhão — junto de uma comitiva composta por empresários do BIG, encontrando prefeitos, governadores e ministros.
No dia 14, ele se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e uma comitiva do grupo Be-Nômade, que planeja investir em turismo sustentável no Brasil. A empresa é conhecida pela consolidação de Tulum, na Riviera Maya, no México, como destino turístico ecofriendly. O grupo revelou que está interessado em investir em turismo sustentável no nordeste brasileiro, mas ainda não divulgou mais informações sobre a iniciativa.

LEIA A NOTA NA ÍNTEGRA:

Nosso papel e impacto no mundo
Muitos perguntaram o que estávamos fazendo no Brasil.
Meu colega e eu estivemos em uma viagem de levantamento de fatos com o Grupo Nomade a fim de reunir informações básicas para um plano abrangente para o turismo responsável em destinos social e ambientalmente sustentáveis ​​no Nordeste do Brasil. Alguns devem conhecer os ambientes incríveis e de baixo impacto pelos quais o Nomade é conhecido – uma forma de turismo que não substitui as florestas ou as praias, mas as habita e as preserva. Uma alternativa muito necessária aos arranha-céus na praia que geralmente acontecem quando o turismo internacional chega, como em Cancun, por exemplo, apenas a algumas horas ao norte de Tulum.
Viajamos pela costa nordeste do Brasil, de Fortaleza a Atins, atravessando três estados, encontrando prefeitos, governadores e ministros de todos os espectros políticos e, mais importante, pessoas incríveis de todas as classes sociais. As observações e ideias que apresentamos em nossa pesquisa preliminar aos ministérios da Economia e Turismo tiveram tanto impacto que eles nos pediram para apresentá-las diretamente ao escritório do presidente. Qual a melhor forma de impactar o futuro da região e do país do que plantar as ideias que acreditamos no mais alto nível de governo? Nem o presidente ou os ministros são nossos clientes, mas estamos felizes em compartilhar nossas ideias e ideais com um governo que esteja disposto a ouvir.
Por mais que eu gostasse de trabalhar em uma bolha em que todos concordam comigo, os lugares que realmente podem se beneficiar do nosso envolvimento são os que estão mais longe dos ideais que já temos. Eu amo o Brasil como um país e realmente quero que ele tenha sucesso. A agricultura de corte e queima é um dos muitos exemplos de como os problemas socioeconômicos podem se tornar problemas ambientais. É por isso que quero me envolver ativamente com a transformação necessária do Brasil e compartilhar ideias que acredito serem uma ótima alternativa ao desenvolvimento tradicional que destrói a paisagem, deteriora os ecossistemas e desloca a comunidade local. Podemos não ter sucesso, mas estou certo de que não teremos sucesso se nem tentarmos.
Criar uma lista de países ou empresas com os quais a BIG deve evitar trabalhar parece ser uma simplificação excessiva de um mundo complexo. Dividir tudo em duas categorias não é preciso nem sensato. A maneira como o mundo evolui não é binária, mas gradual e com uma vasta gama de aspectos e nuances. Se queremos impactar positivamente o mundo, precisamos de um envolvimento ativo, não de uma caça-cliques superficial ou ignorância.
Acredito que temos uma grande responsabilidade que vem com a plataforma criativa que criamos. Devemos usar essa plataforma para mudar o mundo para melhor. Não podemos esperar que todas as instâncias públicas estejam alinhadas com todos os aspectos de nosso pensamento, mas podemos garantir que possamos trazer a mudança que queremos ver no mundo, através do trabalho que realizamos. As ideias e ideais dos projetos que propomos têm legitimidade. Isso significa trabalhar em países como o Brasil (e os EUA), apesar das controvérsias que seus líderes eleitos podem gerar. Um dos princípios fundamentais da democracia é a capacidade de coexistir e colaborar, apesar das diferenças políticas.
Na minha opinião, é uma maneira de nós arquitetos termos um impacto ético. Envolver-nos ativamente para criar o futuro que queremos, propondo nossas ideias a pessoas, governos e empresas, mesmo que tenham pontos de vista diferentes dos nossos. Temos que nos envolver e abraçar nossas diferenças, se quisermos ousar imaginar um futuro diferente.
Bjarke Ingels

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