“Nobel da arquitetura"

Arquitetura

Burquinense Diébédo Francis Kéré leva o Prêmio Pritzker 2022

Vivian Faria, especial para HAUS
15/03/2022 19:50
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Celebrado arquiteto de Burkina Faso, Francis Kéré é o laureado com o Prêmio Pritzker 2022 | Lars Borges/Divulgação

Se ainda há alguma dúvida sobre como é importante a arquitetura ser social e ambientalmente responsável, preocupada com as comunidades nas quais se insere e com questões como o aquecimento global, a definição do ganhador do Prêmio Pritzker 2022 traz uma resposta definitiva: o vencedor foi o burquinense radicado na Alemanha Diébédo Francis Kéré. O anúncio foi feito nesta terça-feira (15). Com isso, o arquiteto se torna o primeiro africano a receber a mais alta honraria da área - e ainda vai receber 100 mil dólares e uma medalha feita em bronze, concedidos pela Fundação Hyatt, responsável pela iniciativa.
Conhecido (e reconhecido) por seus projetos neovernaculares (que utilizam materiais e técnicas do próprio local onde serão executados, além de envolverem as comunidades), sustentáveis e éticos, ao mesmo tempo em que seguem uma estética contemporânea e expressam grande criatividade, Francis Kéré recebe o “Nobel da arquitetura” 18 anos depois de ganhar seu primeiro grande prêmio, o Aga Khan Award for Architecture, de 2004.
À época, o reconhecimento veio pelo projeto Escola Primária de Gando, a cidade na qual o arquiteto nasceu, em 1965, na Burkina Faso - e da qual teve que sair aos sete anos para estudar, pois ali não havia escolas. Além de ter servido para reduzir o problema do acesso das crianças da região a escolas, o projeto foi desenvolvido para oferecer uma estrutura mais adequada à educação e ao local no qual estava inserida do que aquela que Francis Kéré encontrou no país durante sua infância. Para isso, contou com as ideias e a mão de obra da comunidade.

Retorno às raízes

A Escola Primária de Gando foi o primeiro projeto de Francis Kéré a ser executado e representou o retorno do arquiteto à sua comunidade depois de anos estudando em Berlim, na Alemanha - primeiro, carpintaria, em 1985; mais tarde, arquitetura, em 1995, na Universidade Técnica de Berlim. Apesar dos anos fora, o projeto mostrou que ele sempre se manteve conectado às suas raízes - e que foram elas que motivaram trabalho e o estilo que ele desenvolveu ao longo dos anos.
“Cresci em uma comunidade em que não havia creche, mas a comunidade era nossa família. Todos cuidavam de você e a vila toda era nosso parquinho. Meus dias se resumiam a garantir comida e água, mas também a estarmos juntos, conversando juntos, construindo casas juntos. Lembro-me da sala onde minha avó se sentava e contava histórias com um pouco de luz, enquanto nos aconchegávamos e sua voz dentro da sala nos envolvia, convocando-nos a chegar mais perto e formar um lugar seguro. Este foi o meu primeiro sentido de arquitetura”, explicou o arquiteto à organização do Prêmio Pritzker.

Projetos e prêmios

Depois do Aga Khan, Francis Kéré abriu seu escritório em Berlin, na Alemanha - mas continuou desenvolvendo projetos na África. Foram escolas e unidades de saúde na própria Burkina Faso, no Quênia, em Moçambique e na Uganda, como o Centro de Saúde e Bem-Estar Social de Laongo e a Escola Secundária de Koudougou, ambos em Burkina Faso.
Ao mesmo tempo, passou a desenvolver projetos na Europa, nos Estados Unidos e até na China. Em 2017, por exemplo, projetou a lendária Serpetine Gallery, de Londres.
Os trabalhos foram rendendo outros prêmios, como Cité de l’Architecture et du Patrimoine’s Global Award for Sustainable Architecture (2009), Global Holcim Awards Gold (2012, Zurich, Switzerland), Schelling Architecture Award (2014), e a Medalha de Arquitetura da Fundação Thomas Jefferson (2021).
Serpetine Gallery, em Londres, na Inglaterra
Serpetine Gallery, em Londres, na Inglaterra
Serpetine Gallery, em Londres, na Inglaterra
Serpetine Gallery, em Londres, na Inglaterra
Em 2021, o arquiteto esteve no UIA2021RIO, evento em que falou para profissionais brasileiros. Na ocasião, ressaltou a importância de usar a arquitetura e os projetos para empoderar as comunidades, de valorizar as culturas e os recursos de cada local, sem copiar soluções prontas de outros países e de dar a atenção necessária para as mudanças climáticas. "É a questão mais urgente hoje. Mesmo as pessoas negligenciando isso, os recursos estão ficando mais limitados. Isso é um fato. E a construção é o lugar em que mais se gastar recursos, com uma pegada de carbono altíssima", disse.
Xylem, em Montana, nos Estados Unidos
Xylem, em Montana, nos Estados Unidos

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