Paisagem preservada

Arquitetura

Casa de campo: projeto na Zona da Mata de Pernambuco prioriza o essencial e destaca a natureza local

Luan Galani
19/07/2021 23:44
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A casa de 240 m² foi pensada para um terreno em declive de 450 m². | Manuel Sá/Divulgação

Colocando de forma muito simples, o maior desafio arquitetônico para uma boa casa de campo é justamente o de valorizar a atmosfera ao seu redor e abalar a paisagem o mínimo possível. E o jovem escritório pernambucano NEBR conseguiu exatamente isso na Casa Carpina: projetar uma residência de 240 m² sem excessos, primando por uma expressão plástica de retas rigorosas, com volumes diferentes, sem protagonismo formal, e com um diálogo pleno com o habitat, estando o morador dentro ou fora do edifício.
A casa de campo de dois pavimentos no município interiorano de Carpina foi pensada para um terreno em declive de 450 m², apropriando-se do perfil natural da Zona da Mata de Pernambuco. O projeto é assinado pelo arquiteto Edson Muniz, com colaboração de Amanda Brandão e Chico Santos.
A residência foi feita com o sistema de concreto armado, conjugado com uso predominante de blocos de vidro.
A residência foi feita com o sistema de concreto armado, conjugado com uso predominante de blocos de vidro.

Luz e sombra

Os arquitetos optaram pelo sistema construtivo convencional, o concreto armado, conjugado com uso predominante de blocos de vidro, que promove a privacidade ao mesmo tempo em que faz proveito da luz natural e propicia nuances, causadas pelos raios solares nas distintas horas do dia ao longo das quatro estações do ano.
Olhando desde a fachada voltada para a rua, a casa aparenta ter apenas um nível.
Olhando desde a fachada voltada para a rua, a casa aparenta ter apenas um nível.
“A casa é composta por dois volumes e a fórmula para distribuição dos ambientes partiu justamente de seu programa: o volume de maior gabarito se constitui da sala de estar, jantar e terraço, enquanto o volume menor contempla cozinha, área de serviço, banheiro, quatro suítes e garagem”, esmiúça Muniz. Na fachada voltada para a rua, a casa aparenta ter apenas um nível, diferente da fachada voltada para a reserva natural.
A arquitetura da Casa Carpina tem paredes que avançam longitudinalmente para fora dos volumes. “Sua função é manter a privacidade dos usuários e também demarcar a arquitetura, em sua caligrafia reta, dura e inflexível. Dentro de seu valor estético, também traduz certa dinamicidade ao passo que, ao longo do ano, em seu movimento solar, produz sombras distintas desenhadas no branco de seu volume”, explica o arquiteto de Pernambuco.
Retas rigorosas, com volumes diferentes e sem protagonismo formal marcam a arquitetura da Casa Carpina.
Retas rigorosas, com volumes diferentes e sem protagonismo formal marcam a arquitetura da Casa Carpina.

Promenade contemplativa

A moradia de campo foi projetada desde o início para ser colocada à venda. Ainda assim, existiu a preocupação com a família que fosse ocupar a casa, prevendo espaços como o terraço, que permite inúmeras possibilidades para seu uso, de acordo com os hábitos e as necessidades dos futuros moradores.
Um dos destaques da Casa Carpina é o inesperado passadiço envidraçado, que flutua sobre a paisagem. “Com a proposta de dois volumes díspares, o projeto precisava de um elemento que os conectasse. E, mediante uma natureza estupenda, o vidro viabiliza a contínua promenade em contemplação, ao mesmo tempo em que provoca sensações”, justifica o profissional.

Só o essencial

No interior, poucos elementos. Uma preferência quase monástica que materializa as tendências do minimalismo e essencialismo que têm “bombado” no último ano e que mostram que a felicidade não reside na quantidade de coisas que temos.
“Trouxemos ao interior da casa peças de relevante valor artístico para o artesanato brasileiro: os leões de Nuca, feitos em barro na cidade de Tracunhaém, muito conhecida por seu artesanato, e os quadros do artista pernambucano Glauber Arbos. Junto a essas peças, compomos cadeira de balanço em fita e a rede, como forma de reafirmar seu lugar de origem”, exemplifica o arquiteto do NEBR.
Outro ponto interessante é a árvore de pequeno porte no espaço interno, que quebra a delimitação tão estanque entre “dentro” e “fora”, e alguns rasgos na edificação (janelas sem esquadrias), que ajudam na circulação e cruzamento do vento. “Utilizamos os rasgos em ambientes como banheiros e circulações. Temos adotado em nossos projetos essa estratégia por ser uma solução que, além de possibilitar a renovação do ar e permitir a entrada de luz natural, ainda é econômica”, pontua Muniz. “No Nordeste prezamos por aberturas que provoquem o vento a cruzar pelo ambiente a fim de amenizar temperaturas. Mas não necessariamente que os rasgos sejam uma prática geral na região”, lembra.

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