“Essa reforma durou dois anos, mas devo dizer que foi feita de forma muito ‘tranquila’, ou seja, fazíamos quando podíamos”, conta Breno, explicando que os dois dividiam o tempo com os cuidados da vinícola Weingut Klamas e outros trabalhos na área administrativa e imobiliária.

Para Vanessa o maior desafio foi morar dentro da casa durante a reforma, mas a satisfação de ver o trabalho pronto, com todas as imperfeições dessa primeira experiência, compensou. “É muito profunda essa ligação, foram dois anos muito intensos. Eu me emociono com isso. Nós e a casa nos misturamos, viramos um só. Quase como a segunda pele”, conta Breno. “Foi dedicado muito suor, mas em nenhum momento foi difícil, ou um trabalho maçante, como sempre imaginamos que deve ser o trabalho de um pedreiro. Claro, como fazemos pra nós mesmos, é bem diferente do que trabalhar dias seguidos, das 8h às 18h, sob pressão”, observa.

Quando mudaram para a Áustria, em 2014, já tinham o projeto de encontrar uma casa em ruínas para reformar com as próprias mãos. O casal conta que na Europa essa cultura é mais forte e quase todos fazem suas reformas. O desejo de colocar a mão na massa veio da paixão por decoração, história e peças antigas, com inspirações de viagens a lugares pitorescos e de revistas. “Gostamos do detalhado, do tradicional, mas com o tempo também aprendemos a gostar (e muito) do minimalismo, do moderno, e na medida do possível, dessa união”, conta Breno.

Alugaram um quarto em uma pousada ao lado da casa por cinco meses, mas nas primeiras semanas começaram a almoçar e dormir algumas noites no novo lar. Assim que terminaram de construir o banheiro já se mudaram. “Meio acampados ainda”, revelam.

No ano passado, Vanessa e Breno adquiriram apartamento em Sankt Gilgen, onde novamente reformaram por conta própria. Durante a semana viviam Sankt Gilgen e nos fins de semana ficavam no antigo casarão, trabalhando no vinhedo em Langenlois. Recentemente eles venderem o casarão com a vinícola e agora pretendem encontrar outro imóvel para transformar.

Frutas, batatas e marmeladas podres: foi o que o casal encontrou na casa em Langenlois. O antigo morador, um senhor solteiro de 89 anos, faleceu no vinhedo de forma inesperada – provavelmente por problemas no coração, já que Breno encontrou os medicamentos ainda em cima do balcão do armário. “Assim como sua última ceia e tantos outros pertences. Como se ele apenas estivesse saído dali, mas havia passado seis meses”, conta.

A adega abobadada era também usada como uma espécie de geladeira da casa. “Lá no fundo tinha grandes prateleiras onde ele [antigo morador] deixava as maçãs do seu pomar, mas imagine quase um ano depois. Estavam pretas e emboloradas. Ali ele mantinha também muitas batatas que usava para alimentar os porcos,  ramos de uva conservados no frio que seriam usados em enxertias e também, em um canto com areia, ele mantinha mudas de raiz forte”, lembra Breno. Vidros de marmeladas de várias frutas e garrafas de vinho também estavam na adega.

O trabalho de limpeza foi extenso: teias de aranha, pó, areia e muitos móveis para desmontar. “Quase quebrei minhas costas com o fogão a lenha”, conta o paranaense.

“Na casa não havia banheiro, somente patente, ou a famosa ‘casinha’”, conta Breno, que construiu o canal de esgoto à mão. Até então ele não tinha experiência com reformas, exceto com pinturas simples.

Além do banheiro, ele fez a parte elétrica, cabos e tomadas novas. Vanessa lixou e alisou as paredes, além de restaurar o chão original de madeira antigo esfregando com soda cáustica, uma dica das vizinhas. Breno também fez a distribuição hidráulica da cozinha pelo chão. “Tudo sem técnica, usando o bom senso e o Youtube pra ajudar”, revela.

As janelas originais foram mantidas após intenso trabalho de recuperação, enquanto as portas internas foram trocadas. Outra mudança, que ganhou elogios da vizinhança, foi a restauração do portão que foi inteiramente lixado. A vinícola também foi reformada pelo casal, com limpeza pesada, instalação de novas luminárias, além da parte hidráulica.

Em agosto de 2016 o casal adquiriu outro imóvel no qual hoje vivem, em Sankt Gilgen. Com uma reforma mais tranquila, que levou apenas três meses, o apartamento integra uma espécie de condomínio de imóveis com arquitetura típica alpina, construídos em 1980. Esse apartamento de 30 m², eles alugam por sites como Airbnb e Booking.

O outro apartamento, no mesmo condomínio, de 75 m², é a moradia da família e ainda está em reforma. “Falta quase tudo, só o quarto da minha filha Liesl que está pronto”, diz Breno.

Apesar de não ser o plano inicial do casal fazer diversas reformas, eles comentam que se apaixonaram pela atividade. “Quando terminamos uma [reforma] sentimos vontade de começar tudo de novo. Fazer outra nova”, explica Breno. O casal tem projeto de investir e renovar outros dois imóveis em breve e estão sempre pesquisando imóveis antigos.

Um dos projetos ainda não está concretizado e por isso preferem não adiantar. O outro, é a reforma da nova vinícola que compraram recentemente, depois da venda da antiga casa, também em Langenlois.

Diferente do outro imóvel, que reunia casa e vinícola, o novo local é somente a vinícola com uma adega subterrânea espaçosa. Breno ressalta que essa nova vinícola tem a peculiaridade de estar localizada na Kellergasse de Heiligenstein, uma referência na viticultura austríaca. “A viticultura no local remete há mais de dois mil anos, desde os tempos dos celtas seguidos dos romanos”, informa.

Eles pretendem descascar as paredes e deixar só na pedra. “Aqui na Áustria tem essa particularidade que eu acho linda: as paredes são feitas ‘com o que tinha’ (são muito econômicos, ecológicos), com partes em pedras misturadas com tijolos a vista”. Também farão os rejuntes das pedras, a lavagem dentro da adega, a iluminação, além de colocar lustres, portas de chapas e castiçais de ferro. “Estilo medieval moderninho”, define Breno.