Arquitetura

Interditado desde 2015, casarão símbolo de Guaraqueçaba pede socorro

Vivian Faria*
18/03/2019 15:08
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Casarão histórico de Guaraqueçaba está interditado desde 2015. Foto: Vivian Faria/Gazeta do Povo

Quem desembarca no trapiche de Guaraqueçaba, no Litoral do Paraná, e observa o sobrado conhecido hoje como casarão do Ibama, pouco vê de seus dias de glória, nas primeiras décadas do século XX. Naquele tempo, o município vivia seu apogeu econômico e o prédio era símbolo dessa fase, abrigando a Cooperativa dos Produtores de Bananas e, mais tarde, servindo como residência de personalidades locais.
Hoje, abandonado à ação do tempo, o casarão vem se transformando em ruínas. Buracos no forro e nos assoalhos, telhas caídas, paredes tomadas por infiltrações e estruturas ameaçadas fazem com que o prédio esteja interditado desde 2015 e que a história do local vá se perdendo aos poucos. “O casarão representou o auge econômico de Guaraqueçaba e a comunidade tem um sentimento de pertencimento em relação a ele. Eles estão indignados e tristes, porque o patrimônio deles está sendo menosprezado pelos órgãos responsáveis”, afirma o arquiteto, urbanista e antigo gestor da Estação Ecológica e da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, Miguel von Behr.
Para buscar uma solução para a situação, Behr se uniu a membros do departamento paranaense do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-PR). Dali saiu a sugestão de fazer um concurso para a escolha de um projeto de restauração do prédio. “Nossa ideia é ajudar a fazer com que o casarão volte a funcionar com toda a dignidade. E a maneira mais adequada de fazer isso é o concurso. É uma forma democrática e que garante a qualidade [do projeto]”, explica o presidente do IAB-PR, Luiz Reis.

O processo

Concursos que têm por objetivo a seleção de projetos de arquitetura e engenharia não são novidade. “Brasília foi motivo de concurso público, o Maracanã, o nosso Teatro Guaíra também”, exemplifica o coordenador de concursos do IAB-PR, Jeferson Navolar. No caso do Casarão do Ibama, que pertence atualmente ao ICMBio, outro órgão público ligado à preservação do meio ambiente, eles são, inclusive, previstos por lei. “A lei estabelece que projeto é uma atividade intelectual e não deve ser contratada apenas pelo preço, tem que ser contratada pela qualidade”, afirma Navolar.
Para garantir a execução, o edital deve fixar um valor máximo. Outros critérios devem ser estabelecidos em conjunto com os responsáveis pelo prédio. “O casarão não está sujeito à legislação estadual e federal de preservação. Isto possibilita maior liberdade de projeto”, diz.
Até o momento, as conversas com o ICMBio ainda estão em estágios iniciais. De acordo com o IAB-PR, a proposta foi apresentada e agora eles aguardam um posicionamento oficial do órgão. O ICMBio não respondeu nosso contato até a publicação da reportagem.
Contudo, a questão que mais preocupa os representantes do IAB-PR é a que se relaciona aos recursos. “Para o concurso dar certo, é preciso ter recursos para pagar a premiação e para a execução do restauro”, afirma Reis. Para isso, os arquitetos buscam empresas interessadas em patrocinar ou apoiar o processo de seleção dos projetos e as obras.

O casarão

Apesar de ter ficado conhecido como Casarão do Ibama a partir da década de 1980, o prédio tem uma história que remonta ao fim do século XIX. Conforme conta Miguel von Behr em seu livro “Guarakessaba”, o sobrado foi construído por volta de 1880 por Laudemiro Ferreira Lopes, importante
comerciante de banana da época.
Foi só a partir do início do século XX que o local se tornou sede da Cooperativa dos Produtores de Banana e símbolo do apogeu econômico do município. A partir de 1939, seu uso começou a
ser diversificado e, nos anos 1950, com o fim da era de ouro de Guaraqueçaba, sua arquitetura original passou a ser modificada de acordo com o fim dado ao sobrado, que abrigou de fábrica de palmito a salão de festas.
Com o tempo, o prédio foi abandonado e se deteriorou. A sorte do casarão mudou quando, em 1985, ele foi adquirido pela Fundação Brasileira de Conservação da Natureza, com recursos do Fundo Mundial para Vida Selvagem (WWF) para ser sede regional do Ibama. “Nessa época, compramos o casarão
e conseguimos apoio e parcerias para restaurá-lo. Essa foi uma das primeiras experiências de unir o patrimônio histórico-cultural com o ambiental, para ter uma visão mais ampla da questão ambiental”, lembra Behr.
Reformado, ele serviu não apenas como sede do Ibama, mas também como a primeira sede do IAP e centro de visitantes, reunindo documentos e peças que contavam um pouco da história da região. “Com o tempo, infelizmente, não foi feita a manutenção necessária e o prédio foi se deteriorando”, diz. Para ele, a falta de recursos e a burocracia complicaram a situação do sobrado, que, a partir dos anos 2000, começou a ser abandonado novamente, até a interdição total em 2015.
*Especial para a Gazeta do Povo.

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