Arquitetura

Cinquentão modernista: conheça o Edifício Valença, casa do prefeito Rafael Greca

Stephanie D’Ornelas*
28/01/2019 09:57
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400 metros²: essa é a metragem dos apartamentos do Edifício Valença. A residência é privilegiada: há apenas um apartamento por andar, com pé-direito alto. Foto: Rafael Schimidt/Reprodução | Rafael Schimidt

No encontro de duas importantes ruas de Curitiba, a Vicente Machado e a Coronel Dulcídio, emergem os treze andares do Edifício Valença. Os traços limpos e as venezianas marcantes do bloco retangular são características estilísticas próprias do autor da edificação, o arquiteto e engenheiro civil Elgson Ribeiro Gomes, um dos precursores da arquitetura moderna no Paraná.
Mesmo que um curitibano não o reconheça pelo nome, certamente irá identificar Gomes por meio de sua obra: são dele dezenas de edificações icônicas espalhadas pela capital. Outros de seus prédios de esquina que não passam despercebidos são o Edifício Itália, na Rua Fernando Moreira com a Visconde de Nácar, e o Edifício Barão do Serro Azul, a poucos metros da Praça Tiradentes e do Largo da Ordem.
Gomes, que morreu em 2014, aos 91 anos, deixou como legado mais de duas centenas de obras construídas entre São Paulo, Paraná e Santa Catarina. No campo acadêmico, colaborou na formação de diversas gerações de arquitetos nas três décadas em que atuou como docente de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná — curso que, inclusive, ajudou a fundar.
Foto: Rafael Schimidt/Reprodução
Foto: Rafael Schimidt/Reprodução
Nascido em Florianópolis em 1922, durante a adolescência Gomes se mudou com a família para o Paraná. Foi aqui que ele se formou em engenharia civil na UFPR, em 1940. Posteriormente, como a região ainda não contava com um curso de arquitetura, mudou-se para São Paulo, onde permaneceu entre 1946 e 1959. Lá estudou na Faculdade de Arquitetura Mackenzie e trabalhou ao lado do proeminente arquiteto alemão Adolf Franz Heep, que influenciou seu estilo de maneira expressiva.
A vontade de retornar para o Paraná e fazer seu nome em Curitiba falou mais alto. “Papai tinha morado em São Paulo por muitos anos. Ele voltou para Curitiba porque queria ser ‘o’ arquiteto da cidade. Ele veio com a cara e a coragem, sem emprego nem nada”, conta Péricles Varella Gomes, um dos filhos do catarinense. O Edifício Valença, que foi construído entre 1967 e 1970 pela construtora Velloso & Camargo e Comissária Galvão, é bastante similar a outras edificações de Gomes do mesmo período, como o Edifício Provedor André de Barros, na esquina da Rua Comendador Araújo com a Praça Osório, e o Edifício Gemini, na Rua Visconde de Nácar esquina com a Vicente Machado.
“Esse prédio (Valença) é de uma safra de edifícios que ele fez nessa época com a mesma construtora. Curitiba era então a cidade do milagre econômico”, diz Péricles, que também é arquiteto, além de professor e pesquisador da Universidade Positivo.

 Amplitude para viver

Quem mora no Valença pode usufruir de uma residência privilegiada. O prédio tem um apartamento por andar — foi dos primeiros da cidade com essa configuração —, cada um com 400 metros quadrados e pé-direito avantajado. O proprietário de um dos apartamentos é Rafael Greca de Macedo, prefeito de Curitiba, que adquiriu o imóvel em 1991, assim que se casou com Margarita Sansone.
O contato de Greca com Gomes é muito anterior ao da compra do apartamento: o prefeito conta que estudava na mesma escola que os filhos de Gomes e frequentava a casa da família. Seu pai, Eurico Dacheux de Macedo, também mantinha amizade com Gomes, relação reforçada pela carreira em comum como docentes na UFPR.
400 metros²: essa é a metragem dos apartamentos do Edifício Valença. A residência é privilegiada: há apenas um apartamento por andar, com pé-direito alto. Foto: Rafael Schimidt/Reprodução
400 metros²: essa é a metragem dos apartamentos do Edifício Valença. A residência é privilegiada: há apenas um apartamento por andar, com pé-direito alto. Foto: Rafael Schimidt/Reprodução
“Eu e a Margarita moramos no Valença desde que nos casamos, foi nossa primeira e única casa. O prédio continua formidável, não tem nenhum defeito. Tem um belo salão nobre com um acervo de poltronas Mole assinadas pelo Sérgio Rodrigues”, revela Greca. As venezianas que se destacam na obra de Gomes vão além de solução estética; elas permitem uma excelente ventilação que dispensa até o uso de ar-condicionado. “A solução das persianas retráteis vedam completamente os vãos e as janelas que são em esquadrias de madeira”, enaltece o prefeito.
A máxima do “menos é mais” é expressa nos projetos de Gomes. O arquiteto era conhecido por aproveitar o máximo que a legislação urbana e a dimensão do lote permitiam para criar apartamentos amplos, iluminados e funcionais. Recusava-se em seguir “modismos e badulaques”, como destacou o arquiteto e historiador Irã Dudeque em texto publicado no livro “Escola e Profissão: Uma Linhagem Profissional”, dedicado à herança profissional de Gomes. “Quando a arquitetura é boa ela é imortal, é uma beleza permanente. O Edifício Valença é uma elegante senhora de idade. Parece inaugurado um ano atrás”, brinca Péricles.
*especial para a Gazeta do Povo

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