Arquitetura

Com 35 anos, shopping de Curitiba mantém vivo o patrimônio fabril na cidade

Sharon Abdalla
24/09/2018 11:00
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Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

A revitalização de prédios históricos para usos modernos não guarda mais o teor de novidade quando se pensa na paisagem e na rotina urbana contemporâneas. Mas, no início dos anos 1980, quando Curitiba começava a se desenvolver, o restauro de uma antiga fábrica para abrigar a instalação de um centro comercial marcou, para sempre, a história da capital.
A data era 2 de setembro de 1983, quando o Shopping Mueller abriu suas portas para se tornar o primeiro shopping center e um dos mais tradicionais endereços da cidade. Além do ineditismo do projeto, encampado pelos empresários Salomão Soifer, Milton Gurtensten, Samuel Teig e Rubens Teig, a abertura do shopping recebeu a atenção de toda a cidade, e talvez do país, pelo fato de ocupar as instalações da fundição dos Irmãos Mueller, uma das mais antigas e importantes indústrias da capital, localizada no Centro Cívico.
Shopping Mueller em Curitiba que está completando 35 anos
Shopping Mueller em Curitiba que está completando 35 anos
“Naquela época, as lojas na cidade estavam muito reféns das condições climáticas. Conhecendo a fundição, com um prédio que contava com uma arquitetura bastante atrativa, surgiu o interesse [dos empreendedores] em instalar o shopping no local”, conta Daniela Baruch, superintendente do Shopping Mueller.

A fábrica

Inaugurada em 1878 pelo imigrante suíço Gottlieb Mueller, a fundição Mueller foi a primeira oficina mecânica e ferraria de Curitiba. Não demorou para que o modesto estabelecimento se transformasse em um grande complexo industrial, que contou com mais de 600 funcionários e contribuiu para o desenvolvimento da cidade.
Foto: reprodução Julio Covello/Acervo Casa da Memória
Foto: reprodução Julio Covello/Acervo Casa da Memória
“A modernização da indústria fez com que a fábrica ficasse pequena. Então, no final dos anos 1970, ela foi transferida para a Vila Lindóia, na Avenida Wenceslau Braz”, lembra Rodolfo Mueller Schlemm, tetraneto de Gottlieb Mueller.
Não tardou para que os empresários reconhecessem na estrutura desativada o local ideal para abrigar o shopping, que preservou a fachada da antiga fábrica em uma das primeiras intervenções de restauro do patrimônio fabril para uso privado de que se tem notícia na cidade.
Foto: Shopping Mueller/Arquivo
Foto: Shopping Mueller/Arquivo
“Naquele momento, este uso foi adequado para fazer com que o edifício sobrevivesse ao tempo, uma vez que não demorou muito para que ele fosse comprado e refuncionalizado. Se demorasse uma, duas décadas, certamente ele teria ruído”, destaca a arquiteta Iaskara Florenzano, pesquisadora de patrimônio industrial.

Patrimônio

Com características da arquitetura eclética, segundo a pesquisadora, o prédio reproduzia a arquitetura fabril que se produzia na Europa naquele período e tem nos frisos e nas molduras das janelas as principais características que marcam sua fachada.
Outro elemento que chama atenção na construção está na esquina das ruas Mateus Leme e Barão de Antonina, na qual se destaca os contornos do que foi a casa da família Mueller, onde teve início a produção das buchas para as antigas carroças.
Shopping Mueller em Curitiba que está completando 35 anos
Shopping Mueller em Curitiba que está completando 35 anos
“Um dos motivos da família concordar com a compra do imóvel pelo shopping foi porque ele conservou toda a estrutura externa [da fábrica e] da casa. Se tivesse um prédio moderno ali, ninguém saberia [de toda esta história]”, destaca Rodolfo. Tal fato, inclusive, foi uma exigência para a liberação do projeto (o prédio da antiga Fundição Mueller e Irmãos é listado como Unidade de Interesse de Preservação – UIP), como destaca Daniela, assinado pelo escritório CDCA – Coutinho, Diegues & Cordeiro Arquitetos, do Rio de Janeiro.
A manutenção do nome Mueller, por sua vez, vem de um fato curioso. “Quando chegaram de São Paulo [onde visitaram o primeiro shopping da capital paulista], o Salomão Soifer e os sócios pegaram um táxi no Afonso Pena falando somente que queriam ir ao Mueller, e disseram que, se o taxista os levasse até lá somente com esta informação, dariam este nome ao shopping. O próprio Salomão contou esta história ao meu pai quando foram pedir [autorização para] o uso do nome”, lembra Rodolfo.
Passados 140 anos da inauguração da fundição, o nome Mueller mantém sua tradição e continua sendo perpetuado através das gerações, que nas últimas três década e meia passaram a ter nele uma das principais referências de compras e lazer de Curitiba.

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