Smart Working

Arquitetura

Como a Covid-19 pode mudar o futuro dos tradicionais locais de trabalho

Fernanda Massarotto, especial para HAUS
27/03/2020 11:01
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Um espaço de trabalho confortável é fundamental pra trabalhar com foco durante a crise, já que não se sabe quanto tempo o home office será necessário. Foto: reprodução | Norbert Levajsics/Unsplash

O início do século 21 foi marcado por uma revolução no mundo digital que, pouco a pouco, também transformou o "jeito" de se trabalhar. Nascia o conceito de teletrabalho, mais conhecido como home office. O tradicional escritório passou a ocupar fisicamente o ambiente familiar, sem a necessidade do cumprimento de horários rígidos.
O conforto do lar, porém, impôs uma nova premissa: o alcance de objetivos bem definidos. Muitos se perguntaram se seria o fim dos locais de trabalho. A questão paira no ar até hoje e agora, com a pandemia do novo coronavírus e a necessidade de uma quarentena forçada, volta à tona.
Deslocar a força de trabalho para o chamado home office - principalmente para os profissionais que atuam em áreas como o design, arquitetura, desenho gráfico e comunicação - só demonstra que o conceito de smart working é mais uma alternativa. E não uma ameaça.
"Para quem está no campo das áreas citadas, basta um computador e uma boa conexão de internet. E são profissionais que já estão até acostumados a essa modalidade", observa a italiana Anna Piacentini, CEO da People 3.0, uma consultoria de negócios, RH e gestão de projetos na área de smart working.
Para ela, essa nova tendência veio para ficar. "É um fenômeno recente. Não significa somente poder trabalhar de casa, mas um novo modo de trabalhar. O tempo que se emprega para alcançar um objetivo não é mais tão importante, o que se leva em conta é o resultado", destaca.

Arquitetura e comportamento 

Estaremos vivendo uma mudança comportamental? Os escritórios irão desaparecer? A resposta divide. Há quem seja favorável. Mas, há também quem defenda os "velhos costumes". Apesar da comodidade do home office,  devemos levar em conta que o ser humano ainda aprecia viver em comunidade.
"Talvez seja uma ocasião para refletir sobre o potencial do smart working, tornando-o mais acessível", diz o designer espanhol David Lopez Quincoces que, além de assinar projetos de design de interiores para grandes empresas, também colabora com marcas como Living e Lema, ambas com vasta linha de mobiliário corporativo.
Os arquitetos responsáveis pelo prédio da Amazon na Itália, Antonio Gioli e Federica De Leva. Foto: divulgação
Os arquitetos responsáveis pelo prédio da Amazon na Itália, Antonio Gioli e Federica De Leva. Foto: divulgação
Há, porém, quem acredite que os tradicionais ambientes de trabalho estejam com os dias contados. E agora mais do que nunca. Nicholas Bloom, professor de economia da Universidade de Stanford, é um dos ferrenhos defensores do smart working. Para ele, "em casa o funcionário tem a possibilidade de se concentrar ainda mais, sem mencionar os impactos positivos no meio-ambiente, como a diminuição do trânsito e da poluição".
O modelo padrão proposto pelo americano é compartilhado por um vasto número de adeptos. Mas agora, depois do isolamento forçado pelo risco de contágio pelo coronavírus, o velho e bom escritório tende a reconquistar uma fatia considerável de pessoas.
"Acho que essa experiência traumática representará uma oportunidade para modernizar ambas as modalidades. Ou seja, mostrar que o smart working pode ser tão eficaz quanto o modelo tradicional e vice-versa", avalia Anna Piacentina que, nos últimos anos, tem se dedicado à implantação desse novo fenômeno em empresas italianas.
"E digo mais: haverá um número considerável de empregados que irão detestar ficar em casa, sem as chamadas regras, e outros irão perceber que é melhor discutir com o colega de trabalho do que com o próprio marido ou mulher", completa.

A nova cara dos escritórios

Piero Lissoni, arquiteto e designer que se considera um dos precursores do trabalho remoto, acredita que é preciso um equilíbrio. "Há 20 anos introduzi o home office e, posteriormente, o smart working nas minhas sedes em Nova York e Milão. Flexibilidade é fundamental nos dias de hoje. E temos de agradecer às novas tecnologias", diz ele que, nos últimos dias, comanda suas obras e projetos do seu apartamento.
O arquiteto italiano ressalta, porém, que os escritórios de hoje não são nem sombra do que eram os de duas ou uma década atrás. "Muita gente ficou parada no tempo e acha que os locais de trabalho são feios, desconfortáveis, sujos e sem graça", observa Lissoni. "A verdade é que a arquitetura e o design proporcionaram a concepção de ambientes agradáveis, para que possamos, inclusive, relaxar e nos divertir", aponta.
Prédio da Amazon, no bairro de Porta Nuova, o novo centro moderno de Milão. Foto: divulgação
Prédio da Amazon, no bairro de Porta Nuova, o novo centro moderno de Milão. Foto: divulgação
As palavras de Piero Lissoni se comprovam, principalmente, quando se pensa nas salas temáticas de empresas como Google e Facebook, que também disponibilizam aos seus funcionários espaços híbridos, compartilhados, além de áreas verdes. É o caso do "quartel general" da Amazon Itália, que ocupa vários andares de um edifício de primeira geração, no bairro de Porta Nuova, o novo centro moderno de Milão.
O projeto, de autoria do escritório de arquitetura GBPA SRL, é a prova viva de que já não se fazem mais escritórios como antigamente: ambientes arejados e iluminados, produção de energia renovável e com emissão zero de CO², móveis de linhas assinadas por designers de fama mundial.
Antonio Gioli, um dos sócios do GBPA e autor do projeto da sede italiana da gigante mundial do varejo, sai em defesa das empresas que ainda investem em renovar suas filiais, dando aos seus colaboradores a oportunidade de trabalhar em espaços confortáveis e belos. "Com certeza, essa experiência [da quarentena] irá mudar o modo como percebemos o trabalho, mas não acredito que determine o fim dos escritórios", opina o arquiteto, que prefere chamar o smart working de emergency remote working (trabalho remoto emergencial).

Casa-escritório, escritório-casa

Storage Porro, por Piero Lissoni. Foto: divulgação
Storage Porro, por Piero Lissoni. Foto: divulgação
Nada será como antes, especialmente para quem está trabalhando em seu próprio lar. A mesa da cozinha ou do jantar provavelmente virou escrivaninha e a adaptação dos espaços domésticos à rotina de trabalho pode ter disparado o alerta para a postura e a ergonomia.
Então, por que não pensar em um home office futuramente? As marcas de mobiliário estão aí para ajudar com uma infinidade de produtos para todos os bolsos e metragens de ambientes. "Em apartamentos pequenos, o fundamental é escolher uma peça que não seja um elemento avulso e que tenha várias funções", aconselha o designer David Lopez Quincoces. "Cadeiras com braços, mesmo mais caras, valem o investimento, e eu não descartaria também uma luminária", propõe o espanhol que destina alguns metros quadrados de seus projetos para os home offices.
E as possibilidades são ilimitadas. Corredores, cozinhas, na sala de estar, até no quarto cabe o escritório "informal". Piero Lissoni, por exemplo, desenhou para a Porro um sistema modular que acomoda armários e uma escrivaninha/penteadeira. A criatividade é tudo nessas horas. Afinal, casa e trabalho podem compartilhar espaços harmoniosamente.

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