Arquitetura

Confira trechos da entrevista exclusiva que a Haus fez com Zaha Hadid

Luan Galani
31/03/2016 18:53
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Retrato de Zaha Hadid por Brigitte Lacombe. Foto: Zaha Hadid Architects/Divulgação

A arquiteta Zaha Hadid, que faleceu nesta quinta-feira (31), foi ferina na cruzada pela fluidez total dos edifícios que construia e, em entrevista recente a Haus, rechaçou a tendência mundial de “construir casarões enjaulados dentro das cidades como pequenos Kremlins russos”.
Confira alguns trechos da entrevista, que será publicada na íntegra na próxima edição da revista, em 30 de abril.
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Você cresceu em Bagdá. O próprio arquiteto holandês Rem Koolhaas, com quem você trabalhou no início da carreira, disse certa vez que seu trabalho remete à caligrafia. Até que ponto a sua herança árabe influencia o seu design?
Se você olhar para os anos de 1960, quando eu vivi no Iraque, o país era uma república recente e estava passando por um período de construção da identidade nacional. E, como em muitos outros lugares em desenvolvimento naquele tempo, havia uma crença inquebrável no progresso e um grande senso de otimismo. Essas ideias de mudança, liberação e liberdade foram críticas para o meu desenvolvimento. Embora não existam referências formais diretas a minhas raízes culturais no meu trabalho, é pela matemática do mundo árabe que eu sou fascinada, pelo mix de lógica e abstrato.
Foi isso que a levou para a arquitetura?
Eu estudava matemática na universidade, em Beirute, no Líbano, e percebi que havia uma conexão entre a lógica da matemática, a arquitetura e o abstrato da caligrafia árabe. A geometria e a matemática têm uma conexão tremenda com a arquitetura, que também está ligada à identidade árabe em termos de álgebra e caligrafia. A fluidez que você vê na minha arquitetura é uma evolução dessa pesquisa. Então, meu irmão mais velho estava estudando em Oxford e me falou sobre a Architectural Association School of Architecture, em Londres. Resolvi visitar e fiquei. Havia um burburinho naquela época. Todo mundo estava à beira de fazer algo novo.
Você é uma grande fã das obras de Niemeyer. Como foi o primeiro contato com o trabalho dele e o que mais chamou atenção nos desenhos do brasileiro?
A sensibilidade espacial e o talento do Oscar Niemeyer [1907-2012] são únicos e insuperáveis. Suas obras me levaram para a arquitetura, onde continuo seguindo-o na cruzada por fluidez total em todas as escalas. Ele estava entre os primeiros arquitetos a falar sobre arquitetura orgânica, em termos de como o design dos edifícios são cuidadosamente pensados, como se fossem um organismo unificado. Eu o visitei algumas vezes em sua casa no Rio. É uma obra de arte, e uma lição de como alcançar algo com linhas muito simples. Arquitetura é como escrever: você precisa editar e reeditar, de novo e de novo, até que pareça sem esforço.
A fluidez está no DNA da sua linguagem como arquiteta. Mas em que consiste o seu idioma arquitetônico?
A arquitetura não segue ciclos econômicos ou de moda. Segue ciclos de inovação gerados por desenvolvimentos sociais e tecnológicos. A sociedade contemporânea não para e as edificações precisam evoluir com novos padrões de vida para corresponder às novas necessidades. Acho que a arquitetura contemporânea precisa ir além da arquitetura de blocos octogonais, repetição e compartimentação do século 20. E ir em direção a uma arquitetura do século 21 que responda às complexidades e dinamismo de nossas vidas. Consequentemente, meu trabalho opera com conceitos, lógica e métodos que examinam e organizam padrões da vida contemporânea. A repetição e separação que definiu construções do último século foram substituídas por construções que integram, adaptam e engajam.

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