Mercado imobiliário

Arquitetura

O empresário brasileiro que conquistou o mercado americano de construção de imóveis de luxo

Yuri Casari, especial para HAUS
25/03/2022 13:14
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Mansão nos Hamptons, no estado de Nova York, teve a sustentabilidade como conceito base.

Há 20 anos, o empresário maringaense Douglas Strabelli fundou a Sagewood Corporation, e conquistou o mercado americano de construção de imóveis de luxo. Dito assim pode até parecer fácil, mas chegar ao topo e conquistar o sonho americano exigiu mais que força de vontade.
Hoje com mais de 350 projetos, seu portfólio conta com empreendimentos em locais icônicos. Entre eles, o Fasano Fifth Avenue, em Nova York, obra avaliada em US$ 45 milhões. Em conversa por telefone com a reportagem de HAUS durante sua passagem pelo Brasil, em fevereiro, Douglas relembrou o início de sua história, falou sobre os grandes desafios do mercado de luxo nos Estados Unidos e sobre as tendências no segmento da construção.
Douglas Strabelli deixou o Brasil aos 18 anos e hoje atua no mercado da construção de luxo nos Estados Unidos.
Douglas Strabelli deixou o Brasil aos 18 anos e hoje atua no mercado da construção de luxo nos Estados Unidos.

Olhando o início de sua trajetória, o que o levou em um primeiro momento a tentar a vida fora do Brasil?

Desde muito novo, sempre tive vontade de sair do país e explorar. Eu resolvi ir para a Espanha para começar minha carreira por uma questão do idioma, pela cultura ser mais similar. Chegando lá, comecei a trabalhar em uma construtora e, depois de um ano e meio, abri a minha própria construtora. Após alguns anos, saí de lá e fui para os Estados Unidos para começar de novo. Tinha uma ideia de fazer uma coisa diferente da construção. Mas no final eu me envolvi novamente nesta área e estou até hoje nisso.

E como foi iniciar neste mercado de construção de luxo nos Estados Unidos?

Eu cheguei aos EUA com pouco capital e sem experiência na construção americana. Eu tinha conhecimento da construção europeia, que é mais parecida com a brasileira. Quando eu cheguei, eu queria montar um restaurante. Depois que eu entendi que não era para mim, resolvi voltar [para o segmento]. Não sabia se eu voltava para a Espanha ou se ficava. Nesse meio tempo, eu pedi para trabalhar em uma empresa por três meses sem receber, para entender qual era a forma construtiva nos Estados Unidos. A partir de então eu tomei muito gosto pela coisa. Depois de um tempo, eu montei a Sagewood, que na época era Construction e depois virou Corporation. Eu comecei com obras de padrão menor até eu identificar o mercado de luxo. Minhas primeiras obras de luxo foram por meio de uma arquiteta renomada, a brasileira Cristiana Mascarenhas. Tanto que somos parceiros há vinte anos praticamente. Desde que a gente começou a primeira obra não paramos mais. Ela tinha esse núcleo de luxo e eu me encaixei nesse mercado.
Mansão nos Hamptons, no estado de Nova York, teve a sustentabilidade como conceito base.
Mansão nos Hamptons, no estado de Nova York, teve a sustentabilidade como conceito base.

Mesmo você tendo uma carreira consolidada e experiência nesse segmento, acredito que cada projeto traga um desafio diferente. Atualmente, o que há de desafiador?

Em primeiro lugar, existe uma tendência nos Estados Unidos de construção moderna, menos clássica. Há alguns anos havia uma demanda pelo clássico. E existe uma diferença entre um e outro. Em segundo lugar, os desafios são sempre em relação à localização. Nós construímos nos estados da Flórida e de Nova York. É mais difícil construir perto da água, em um lençol freático que é alto, do que em um drylot, que é um terreno que não é na frente da água e em que, possivelmente, o lençol freático é mais baixo. O modo construtivo muda muito dependendo da região americana. Em Nova York há um código de construção, e no estado da Flórida há outro. Dentro das pequenas cidades também há códigos diferentes. Depois tem a peculiaridade de cada arquiteto. Um arquiteto que vai mais para um lado de acabamento fino, outros que vão mais para o paisagismo, para a área verde, para a sustentabilidade. A sustentabilidade é um mercado que está crescendo muito aqui e creio que no Brasil também. Além da crescente evolução nos tipos de automação que você tem hoje. A tecnologia está evoluindo muito, então a gente tem que adaptar cada vez mais os projetos para a automação.

A Sagewood atua majoritariamente na Flórida e em Nova York. Há a intenção de ampliar essa atuação para outros estados?

Nós temos estudado a Geórgia, que é um estado muito atraente e está tendo uma demanda muito grande de casas.
"Um projeto de luxo não é simplesmente desenhado e executado. Ele é modificado durante o processo inteiro até o último dia. É preciso ter esse mindset. Manter sua mente focada nesse tipo de projeto e entender todo esse movimento que existe desde o começo até o final da obra."
Douglas Strabelli

Há alguma tendência que esteja surgindo nos EUA e que em breve deve fazer parte da construção de luxo no Brasil?

A questão da sustentabilidade está muito forte nos Estados Unidos, e também uma arquitetura mais clean. Less is more: menos é mais. É uma tendência que está cada vez mais forte nos Estados Unidos no mercado de luxo. Assim como as casas automatizadas.

E para quem está começando nesse mercado da construção de luxo, quais os conselhos que você daria?

Não é fácil entrar no mercado de luxo. O primeiro passo é entender muito o nicho, o que está envolvido, se está preparado para ter esse nível de atenção. A possibilidade de escala é menor, então automaticamente tem que ter estratégia para isso. É necessário entender o local em que você está, determinar a área que você vai agir. Focar nos arquitetos e profissionais que são dessa área e se aproximar. E aí montar um time que realmente possa atender essa demanda do cliente. É muito mais detalhe, mais atenção ao cliente. É um nível frenético de obra. Não é uma obra normal de médio padrão em que você tem um esquema de construção que consegue manter com as equipe separadamente. E tem que ter uma abertura grande. Tem muitas mudanças.
Duplex no Fasano Fifth Avenue, em Nova York: o maior desafio da Sagewood Corporation.
Duplex no Fasano Fifth Avenue, em Nova York: o maior desafio da Sagewood Corporation.

Em seu portfólio há muitos empreendimentos em lugares icônicos, como a Quinta Avenida, o Central Park, entre outros. Fazendo uma retrospectiva de sua trajetória, quais são os fatores que o fizeram alcançar esse nível?

Foi a busca de um sonho. Para mim, realizar uma obra, começar e finalizar, é fundamental. Nunca deixei de terminar uma obra, mesmo que fosse difícil. Tive um desafio muito grande em duas obras em particular. Uma casa que eu construí nos Hamptons, uma obra de mil e oitocentos metros quadrados de construção. E o prédio na Quinta Avenida, que foi um dos maiores desafios que eu tive na vida. Ter que fechar a Quinta Avenida para completar uma laje, por exemplo. Os desafios foram muito grandes. Mas eu acho que o detalhe disso tudo é ter foco na sua carreira. Foco no seu empreendimento e pensar cada consequência do que você vai fazer hoje, no que sua ação vai refletir na sua carreira lá na frente. A mentalidade de longo prazo de relações e longo prazo de planejamento. Acredito que é isso que me trouxe até aqui.

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