Arquitetura

Curitiba de metal: a história das obras públicas que marcam a paisagem da cidade

Sharon Abdalla
21/08/2017 10:30
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Construídas em metal e vidro, Ópera de Arame, Jardim Botânico e Rua 24 Horas deram a cara da Curitiba moderna. Foto: Hugo Arada/Gazeta do Povo.

Era início dos anos 1990. Após se tornar referência em planejamento urbano, Curitiba voltou ainda mais os olhos do país e do mundo para si com a construção de três obras públicas em metal e vidro: a Rua 24 Horas, o Jardim Botânico e a Ópera de Arame. Mais do que simples áreas de lazer e serviços, estes equipamentos inauguraram uma nova linguagem arquitetônica para a cidade e deram a “cara” da Curitiba moderna.
“Curitiba tinha um paradoxo, pois sua vertente arquitetônica era muito pobre quando comparada ao seu modelo de planejamento urbano. Tínhamos que ter um desenho para tornar a cidade mais acolhedora para a população e os turistas”, pontua o arquiteto Abrão Assad, responsável pelos projetos da Rua 24 Horas e do Jardim Botânico.
Inaugurada em setembro de 1991, Rua 24 Horas era algo inédito no país. Foto: Hugo Arada/Gazeta do Povo.
Inaugurada em setembro de 1991, Rua 24 Horas era algo inédito no país. Foto: Hugo Arada/Gazeta do Povo.
Inaugurada em 11 de Setembro de 1991, a Rua 24 Horas foi a responsável por apresentar aos curitibanos as construções em vidro e metal branco. “Ela surgiu da ideia de que a cidade tem que ter animação constante, ter vida, ter gente se encontrando”, conta o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, então prefeito de Curitiba. Para isso, a proposta de uma rua que não fechasse e oferecesse comércios e serviços 24 horas por dia, algo inédito no país, fazia todo sentido.
“Considerando que não havia muitos shoppings na época, a Rua 24 Horas foi um presente para a cidade”, acrescenta Assad.

Parques

Passados 24 dias, o arquiteto viu outra obra sua ser entregue à população com a inauguração do Jardim Botânico. O parque, que é um dos principais cartões-postais de Curitiba, tem na estufa de metal e vidro seu ponto focal.
“Muitos dizem que ela foi inspirada no Palácio de Cristal, de Londres, mas isto é errado. Aquele desenho é irmão dos anteriores [das estações-tubo e da Rua 24 Horas] em ferro e vidro. Os jardins, com formas geométricas, são [inspirados] na bandeira de Curitiba”, afirma Assad.
O arquiteto acrescenta que, além da intenção de criar uma nova linguagem arquitetônica para os equipamentos públicos, a opção pelo metal e o vidro tinha por objetivo integrar as obras à paisagem do entorno.
Mesma visão tinha o arquiteto e urbanista Domingos Bongestabs, que assina o projeto da Ópera de Arame. Aberta ao público em março de 1992, ela ocupou um espaço ocioso do Parque das Pedreiras, onde desde 1989 funcionava o Espaço Cultural Paulo Leminski.
“A ideia original era fazer uma construção transparente, para trazer a paisagem de fora para dentro da Ópera. Assim, a única opção possível era a de uma construção em estrutura metálica”, conta o arquiteto.
Outra curiosidade em relação à obra refere-se à rapidez de sua execução, realizada em apenas 75 dias a partir de dezembro de 1991. Segundo o arquiteto, tal urgência decorreu do desejo do então prefeito Jaime Lerner de inaugurá-la para a 1ª edição do Festival de Teatro de Curitiba, realizada em março do ano seguinte. Isso, por sua vez, exigiu certa padronização das peças, percebida na modulação que se repete em toda a volta da plateia e “abraça” o volume do palco.
“Uma pedreira é uma ferida feita pelo homem na natureza. Com o tempo, essa ferida ganhou outra paisagem e nós nos aproveitamos dela para instalar equipamentos que são importantes para a cidade”, pontua Lerner.

Linguagem arquitetônica

O ex-prefeito afirma que, apesar de muito similares, a correspondência da linguagem arquitetônica das obras, decorrente da utilização do material metálico, foi mais uma “boa coincidência” do que algo intencional.
“Estas eram obras que precisavam ser construídas rapidamente, e o material metálico foi o escolhido pela agilidade [que proporciona]. Elas estão incluídas na escola da boa arquitetura, que é a arquitetura simples, marcante e rápida em sua execução”, aponta o ex-prefeito Jaime Lerner.

Obras perenes

Para o arquiteto e urbanista Marco Nogara, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), estas três obras representaram um resgate da autoestima da população a partir de um material contemporâneo. Ele lamenta, no entanto, que elas não tenham recebido a devida atenção por parte das gestões municipais subsequentes para que fossem atualizadas – em termos de conforto acústico, térmico e ambiental – e mantivessem sua vanguarda.
“Para mim, tão importante quanto a manutenção é não desvirtuar o uso para o qual [o espaço] foi projetado. E este está sendo mantido”, pontua Lerner. O ex-prefeito acrescenta que quando uma obra é bem recebida pela população, como ocorreu com estes três pontos turísticos curitibanos, ela mesma se encarrega de cuidar dela.

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