Arquitetura

Um passeio curioso pela arquitetura de Curitiba

Luan Galani
01/04/2015 01:00
Thumbnail

Cenas que traduzem o que Curitiba tem: arquitetura, intervenção urbana e elementos étnicos. Fotos: Hugo Harada, Márcio Pimenta, Brunno Covello, Daniel Castellano e Antonio More / Gazeta do Povo

“O Paraná tem cânions, cataratas e serras, mas Curitiba esteve, está e estará num planalto de terrenos pantanosos e pouco acidentados, sem belezas naturais”, sentencia o arquiteto e historiador Irã Dudeque no livro Espirais de Madeira: uma história da arquitetura de Curitiba. Restou à cidade, portanto, edificar-se. E sobrou para arquitetos, engenheiros e urbanistas convencer a urbe de sua própria importância.
A arquitetura foi levada a sério. Mas, apesar do papel que desempenhou na construção do perfil da cidade, hoje, por causa da distração comum e da correria do dia a dia, passa por vezes despercebida. Para redescobrir a sua cidade, todas as quartas-feiras, a começar por hoje, nesta mesma página do Caderno G, a Haus, nova plataforma de arquitetura design e decoração da Gazeta do Povo, promove um passeio por Curitiba.
Surge aqui a oportunidade de entender porque tudo é como é na capital do Paraná. Por exemplo, já parou para olhar em detalhes o conjunto da “obra” da Rua XV? Já se perguntou por que as cúpulas dos seus quiosques são roxas? E de onde saíram aquelas luminárias afrancesadas? Já se questionou sobre a origem daquelas capelinhas na entrada de algumas casas mais antigas? Pense em outros cantos da cidade: você consegue citar algum casarão modernista de cabeça? Lembra-se dos nomes mais importantes que agitaram a arquitetura local? Tudo isso diz muito a respeito da cidade em que se vive. E é aqui que você vai conhecer curiosidades e marcos da arquitetura de Curitiba.
Cenas que traduzem o que Curitiba tem: arquitetura, intervenção urbana e elementos étnicos. Fotos: Hugo Harada, Márcio Pimenta, Brunno Covello, Daniel Castellano e Antonio More / Gazeta do Povo
Cenas que traduzem o que Curitiba tem: arquitetura, intervenção urbana e elementos étnicos. Fotos: Hugo Harada, Márcio Pimenta, Brunno Covello, Daniel Castellano e Antonio More / Gazeta do Povo
Inspirações pelo mundo
Para a arquiteta Elizabeth Amorim de Castro, que é professora na Universidade Federal do Paraná, “todas as cidades passam por um processo de urbanismo bastante similar. O que Curitiba tem de diferente são as pessoas que moram aqui”. O repertório da arquitetura, segundo a arquiteta, está no mundo. O que cria construções diferentes são as pessoas. “Se alguém viajou e gostou de algo que viu, ela vai trazer para fazer aqui também”, comenta.
Exemplos não faltam. Foi assim com o Castelo do Batel. O empresário do café Luís Guimarães era um amante de castelos. Depois de visitar a França, mandou fazer um para uso próprio em 1923. Com a sede do Museu Paranaense não foi diferente. Na mesma década, o pecuarista Júlio Garmatter visitou a Alemanha e se encantou por uma mansão da cidade de Wiesbaden. Conseguiu a planta da tal casa e decidiu construir um palacete igual por aqui.
Não, obrigado
Mas, diz-se por aí, que Curitiba sempre preferiu o tradicional e resistiu às novas ideias. Repudiava as lufadas de ar fresco que vinham de todos os cantos do mundo com prazer. O próprio Ayrton “Lolô” Cornelsen, ex-jogador de futebol do Clube Atlético Paranaense e uma das luzes da arquitetura paranaense, afirmou em entrevista que, na passagem para a década de 1950, Curitiba era um piano de borracha. Podia-se dedilhá-lo, martelá-lo ou esmurrá-lo que nenhum som era ouvido. Nomes como o do engenheiro Rubens Meister, autor dos projetos do Teatro Guaíra, a Rodoferroviária e o Centro Politécnico, ou do arquiteto Vilanova Artigas, que dispensa apresentações, não faziam o gosto dos curitibanos da gema.
O próprio Sérgio Rodrigues, arquiteto e designer carioca de retumbante sucesso internacional, abriu nessa mesma época uma loja de móveis modernos em Curitiba e se arrependeu. “O entusiasmo foi grande, porém o fracasso foi garantido. […] Em seis meses eu só vendi um móvel. Um sofá. Foi um prejuízo total”, confidencia Rodrigues no livro Móvel Moderno no Brasil, da filósofa Maria Cecília dos Santos, que leciona no curso de design da Universidade de São Paulo.
Novidades começam a pegar
Esse apego ao tradicional – estilos art-déco e neocolonial – começou a mudar somente a partir da década de 1960, quando uma série de arquitetos paulistas, gaúchos, cariocas e mineiros mudou-se para cá para ensinar no recém-criado curso de arquitetura da UFPR. A partir daí começaram as soluções urbanísticas que colocaram Curitiba no hall dos modelos de desenvolvimento planejado.
O arquiteto e urbanista Jaime Lerner foi figura crucial nessa caminhada da cidade. Graduou-se na primeira turma de arquitetura da UFPR em 1965 e, cinco anos depois, foi indicado para o cargo de prefeito da cidade.
À frente da prefeitura, foi o homem das soluções não ortodoxas e defensor do que ele chama de “efeito demonstração”. Ele mesmo explica: “A obrigação que a gente tem é a de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Mas para isso é preciso mudar tendências que não são desejadas. Às vezes tem de ir contra o tradicional”.
Junto de uma equipe igualmente criativa, como o arquiteto Abrão Assad, veio o fechamento da Rua XV, a criação de parques e áreas verdes para evitar alagamentos causados pelos rios e o sistema rápido de transporte. Assim Curitiba virou o que é: objeto de grande interesse em função dos resultados colhidos pela gestão urbana sistemática.
“Todas as cidades passam por um processo de urbanismo bastante similar. O que Curitiba tem de diferente são as pessoas que moram aqui”. Elizabeth Amorim de Castro, arquiteta.
“A obrigação que a gente tem é a de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Mas para isso é preciso mudar tendências que não são desejadas”. Jaime Lerner, arquiteto e urbanista.

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!