Arquitetura

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Delimitar ou separar? Entenda como dividir ambientes sem usar paredes

Bruno Gabriel, especial para HAUS
09/10/2020 14:56
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O ambiente projetado por Paula Passos mostra como é possível fazer a delimitação de espaços por meio de tapetes | Maura Mello/Divulgação

O conceito de integração de ambientes parece ter vindo para ficar. Considerado mais prático por muitos, esse tipo de projeto associa a ideia de espaços conectados à sensação de cômodos mais amplos. O que tem sido observado, contudo, é que para garantir a fluidez e a personalidade dentro de áreas integradas, alguns recursos têm sido eficientes para determinar as funções que cada peça desempenha em uma casa. Com isso, formas criativas e sofisticadas de delimitar espaços sem utilizar paredes têm surgido como tendência.
A arquiteta Paula Passos, sócia da Dantas & Passos Arquitetura, explica que as possibilidades para criar a sensação de separação entre cômodos são muitas. “O próprio layout de móveis pode ajudar nessa proposta aberta e meio separada”, garante. O primeiro passo seria entender qual é o tipo de separação ideal para o ambiente. “Há objetos que sugerem uma delimitação visual e outros que causam uma separação física mesmo”, explica a arquiteta.
A delimitação visual, segundo Paula, diz respeito a dar um ar diferente para cada cômodo, mas sem necessariamente inserir uma barreira física entre eles. Para isso, o ideal seria o uso de diferentes revestimentos de piso e parede ou acessórios no chão. “O tapete funciona como um curinga, pois visualmente cria um desenho no chão. Quando não temos paredes ou móveis altos para ajudar na divisão, ele faz esse papel de delimitador, além de trazer aconchego e decorar o espaço”, garante. A arquiteta ainda chama a atenção para o fato de que tapetes grandes são os mais recomendados, pois dão um ar de amplitude.
Quando a ideia é inserir algum elemento para separar os ambientes, mas ainda assim deixá-los integrados, Paula afirma que bancos e aparadores são peças ideais. “É melhor um elemento vertical, que segure a circulação. Podemos dividir duas salas com um banco no meio, por exemplo. Ela vai continuar integrada, sugerindo dois ambientes separados de conversas”, aponta.
Além do aparador delimitando as salas de estar e de jantar, a porta branca de correr permite a integração com o restante do ambiente, como no projeto de Paula Passos e Danielle Dantas
Além do aparador delimitando as salas de estar e de jantar, a porta branca de correr permite a integração com o restante do ambiente, como no projeto de Paula Passos e Danielle Dantas
Para quem quer elementos mais robustos e decorativos, a arquiteta coloca como opções divisórias vazadas de madeira e painéis de cobogó que, por serem vazados, permitem a divisão sem o fechamento completo da visão. “Também temos os biombos, que hoje em dia são verdadeiras obras de arte da marcenaria. Além de serem peças removíveis, que permitem que sejas usadas e, depois, afastadas para a parede”, afirma.
A divisória vazada feita em aço foi inserida pela Dantas & Passos Arquitetura para delimitar a entrada para uma adega
A divisória vazada feita em aço foi inserida pela Dantas & Passos Arquitetura para delimitar a entrada para uma adega
Mas se o objetivo é garantir ainda mais privacidade, portas de correr podem ser a solução, de acordo com Paula. Ela afirma que esse sistema permite que até 10 metros de porta em folha sejam recolhidas e abertas, conforme a necessidade, com materiais que vão do alumínio ao vidro.
O vidro é um dos materiais utilizados para realizar a separação de ambientes
O vidro é um dos materiais utilizados para realizar a separação de ambientes
Um dos projetos da arquiteta, inclusive, usou tal estratégia não para promover privacidade, mas para evitar maus odores do churrasco. “A integração de sala e varanda era feita por meio de painéis de vidro. A ideia era poder fazer churrasco sem que o cheiro tomasse conta de tudo. Assim, o vidro que ficava recolhido num canto da sala, num pilar de concreto, era inserido nesses momentos”, diz.

Visão externa

Arquiteta nos Estados Unidos, Simone Andrade conta que os projetos desenvolvidos no país têm usado muitos painéis ripados e vazados dentro da proposta de integração. “Por aqui, temos feito muitos ripados com vegetação. Essa divisória se transforma em um espaço verde, com decoração”, garante.
Para Simone, a delimitação do espaço com objetos é uma tendência,
pois ninguém quer uma divisão permanente, que impeça a mudança de layout do
imóvel. “Delimitar com móveis, tapetes ou biombos está sendo ideal. Ao mesmo
tempo que diz como cada espaço deve ser utilizado, não cria uma barreira física
que demande obra, ajudando as pessoas que gostam de promover mudanças no
ambiente”, diz.
Entre os materiais que podem ser utilizados para essa sensação de separação, Simone ainda cita a pintura. “Antes uma casa tinha todos seus espaços com o mesmo tom, o mesmo mood. Hoje, podemos delimitar o espaço mudando a cor ou fazendo algum tipo de ambientação diferente”, sugere. Ela salienta, porém, a importância de que todas as separações tenham relação com a composição do ambiente. “O design da decoração e a arquitetura da casa vão indicar que tipo de material é mais apropriado para ser usado”. De toda forma, os materiais que tragam leveza para o ambiente são os mais indicados”, assegura.
Um dos projetos da arquiteta no país foi para um salão de beleza com a fachada envidraçada. Ela explica que a cliente queria que as pessoas que chegam no ambiente tivessem a sensação de que conseguem ver o outro lado, mesmo que não integralmente. Já quem estava de dentro não deveria ter a ideia de que estava sendo visto enquanto passava pelos tratamentos estéticos. “Nesse caso, usamos ripados e nichos. O espaço continuou integrado, mas manteve certa privacidade, bloqueando um pouco da visão”, justifica.
Ripado utilizado no projeto de Simone Andrade para salão de beleza
Ripado utilizado no projeto de Simone Andrade para salão de beleza

Para fechar espaços

Mesmo com a ideia de integração agradando a maior parte das pessoas, existem alguns casos em que os ambientes precisam ser fechados depois de um tempo. A arquiteta Paula Passos conta que durante a pandemia, esse tipo de pedido tem sido recorrente, já que clientes passaram a procurá-la em busca de um espaço privativo para trabalhar em home office. “Nesses casos, podemos usar painéis de marcenaria reversíveis. Eles são fechados quando se quer isolamento e abertos para recuperar a integração com o espaço”. Essa solução, contudo, não funciona para isolar a acústica, já que a porta de correr sempre deixa uma fresta e parte do som acaba vazando.
A alternativa mais indicada em casos assim acaba sendo a construção de uma barreira física fixa, como é o caso do drywall. A arquiteta Simone Andrade conta que se trata de um recurso bastante utilizado nos Estados Unidos e que há algum tempo já vem sendo aplicado no Brasil. Segundo ela, essas placas de gesso podem ser usadas para qualquer tipo de necessidade e tem a vantagem de proporcionar uma construção limpa, pois não faz a mesma sujeira de obras tradicionais.
É importante salientar, porém, que sozinho o drywall não fornece isolamento acústico. É necessária a inserção de um material como a lã de rocha ou um trisoft entre as duas camadas do gesso. “Com o tratamento adequado, ele faz a vedação do som e também da temperatura. E, além disso, permite que essa nova parede receba um revestimento diferente, como pintura, papel de parede, entre outros”, sugere Simone.

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