Arquitetura

No Dia da Consciência Negra, 10 arquitetos negros que deixaram sua marca na história

Luciane Belin*
20/11/2018 18:51
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Divulgação AIA

A participação de pessoas negras nos cursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil vem crescendo nos últimos anos, mas a porcentagem ainda é bastante reduzida. Em 2015, a Universidade de São Paulo não teve nenhum calouro negro no curso de Arquitetura e apenas dois em Engenharia Civil, de acordo com levantamento da Fuvest. Neste ano, na Unicamp, os cursos de Engenharia de Produção e Arquitetura e Urbanismo foram os que registraram o menor número de alunos aprovados autodeclarados como negros, pardos e indígenas, de acordo com a própria instituição.
Nos Estados Unidos, as pessoas negras representam somente 2% dos arquitetos licenciados, que são mais de 100 mil. No Brasil, este dado sequer existe, segundo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR).
Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, HAUS reuniu alguns nomes inspiradores de homens e mulheres que representam a população negra na história da Arquitetura, do Urbanismo e da Engenharia. É o caso, por exemplo, da primeira engenheira mulher e negra do sul brasileiro, cuja atuação foi decisiva para o estado do Paraná.
Conheça a valiosa contribuição destes profissionais ao longo das décadas.

Enedina Alves Marques

Foto: Arquivo Fundação Cultural Palmares
Foto: Arquivo Fundação Cultural Palmares
Nascida em 1913, Enedina foi a primeira mulher engenheira e negra do Sul do país. Formada Engenheira Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) aos 32 anos, em 1945, pagou os custos dos estudos com seu trabalho como doméstica.
Depois de graduada, ingressou para o Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica, onde contribuiu com o Plano Hidrelétrico para aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu. Foi por meio dos esforços dela que a usina Capivari-Cachoeira realmente saiu do papel. Em seu currículo, estão também participações importantíssimas em obras como o Colégio Estadual do Paraná (CEP) e a Casa do Estudante Universitário (CEU).

Sharon Egretta Sutton

Foto: Reprodução Universidade de Washington
Foto: Reprodução Universidade de Washington
Primeira mulher afro-americana a licenciar-se como professora de Arquitetura nos Estados Unidos, Sutton é hoje professora na Universidade de Washington (Seattle). Carrega também o título de segunda mulher negra a integrar para o Instituto Americano de Arquitetos (AIA).
Graduada também em Música, Filosofia e Psicologia, Sutton tem no currículo universidades como o Instituto Pratt, Universidade Columbia, Universidade de Cincinnatti e Universidade de Michigan. Ao longo de seus quase 50 anos de carreira, Sutton se tornou ativista pela inclusão e diversidade na Arquitetura e no planejamento das cidades e comunidades.

Paul Revere Williams

Foto: Reprodução Archdaily
Foto: Reprodução Archdaily
Laureado em 2018 com a Medalha de Ouro da AIA em memória pela sua atuação profissional, Paul Revere Williams é um dos arquitetos negros mais reconhecidos do mundo. Ao longo de sua carreira, o norte-americano de Los Angeles assinou mais de três mil prédios desde a inauguração de seu escritório, em 1920, até o dia da sua morte, em 1980, com quase 100 anos.
A maior parte das edificações criadas por ele seguia um estilo que transitava entre o clássico e o modernista e, era focado mais em projetos residenciais. A qualidade do trabalho de Williams ganhou tanto reconhecimento ainda em vida que o profissional chegou a assinar casas para grandes figurões de Hollywood, como Frank Sinatra, Lucille Ball, Desi Arnaz, Lon Chaney e Barron Hilton.

Diébédo Francis Kéré

Foto: Wikimedia Commons
Foto: Wikimedia Commons
Nascido em Gando, um pequeno vilarejo no país de Burkina Faso, no Oeste da África, Keré é um dos grandes nomes da arquitetura negra da atualidade. Formado pela Universidade Técnica de Berlin, tem projetos espalhados por todo o mundo, em países como Estados Unidos, Alemanha, Quênia e Uganda.
Depois de sair de sua comunidade para estudar, Kéré nunca deixou de olhar para trás para relembrar suas origens. Ainda estudante, ajudou a erguer a primeira Escola Primária de Gando.”Meu trabalho é primeiro e acima de tudo um instrumento social. As soluções de construção culturais, econômicas e ambientais são sempre permeadas por um processo social”, diz uma citação do arquiteto em seu site.
O africano carrega no currículo premiações como o Global Award de Arquitetura Sustentável e a cadeira na Escola de Design de Harvard. Hoje, por meio da sua Kéré Foundation, realiza um projeto social de incentivo a novos talentos e ao uso da Arquitetura para contribuir com o bem social.

Allison Williams

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Mestre em Arquitetura em 1976 pela Universidade da Califórnia e bolsista da Escola de Design de Harvard em 1986, Allison Williams desenvolveu trabalhos e montou uma histórica carreira na profissão. Em mais de 35 anos como arquiteta, trabalhou em escritórios como SOM (Skidmore Owings & Merril), chegando a ocupar cargos de alto nível, como Diretora do escritório Perkins+Will e vice-presidente da empresa de engenharia AECOM, além de fundar seu próprio escritório, o AGWms_studio.
Considerada uma das grandes referências femininas na arquitetura, Williams foi destaque na exposição “De A a Zaha: 26 Mulheres que mudaram a Arquitetura”, em 2016. Focada principalmente em projetos de arquitetura corporativa, ela com frequência incluía em seus trabalhos princípios como sustentabilidade e tecnologia ambiental. Entre suas obras estão o Museu Internacional da Mulher (IMOW – International Museum of Women) e a Universidade Princess Nora Abdulrahman, a maior universidade do mundo projetada para mulheres.
Em seu site, é possível conferir alguns dos projetos assinados por ela, que ainda hoje atua inovando em construções ao redor do mundo.

J. Max Bond Jr.

Foto: Pinterest
Foto: Pinterest
Graduado em Harvard em 1955, Bond Jr. lutou contra o racismo desde o começo da carreira. Assim como John Williams, foi desencorajado por professores de seguir carreira em Arquitetura pois, segundo os mestres, teria dificuldade em conseguir clientes por conta da cor de sua pele. Ainda assim, persistiu.
Foi à França, onde começou sua atuação profissional, trabalhou em Nova York, mudou-se para Gana, onde assinou uma série de prédios governamentais. De volta ao país natal, assinou prédios como o Centro Martin Luther King Jr. de Mudança Social Não-Violenta e o Instituto Birmingham de Direitos Civis. O arquiteto faleceu em Manhattan em 2009, aos 73 anos.

Roberta Washington

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Por meio de seu escritório, inaugurado em Nova York em 1983, Roberta Washington desenvolveu uma série de projetos institucionais, culturais e residenciais. Graduada pela Universidade Howard, mestre pela Universidade Columbia, ela foi integrante da Comissão de Regularização Fundiária da Cidade de Nova York (NYC Landmarks Preservation Comission)
Com atuação dentro e fora dos Estados Unidos e presente em países como Moçambique, tem entre os projetos a reforma do Centro de Visita ao Monumento Nacional do Cemitério Africano, em Manhattan, e a primeira escola da cidade de New Haven.

Ibrahim Greenidge

Foto: LinkedIn
Foto: LinkedIn
Indicado como Presidente da Coalizão de Nova York de Arquitetos Negros (NYCoba/NOMA), Greenidge é colecionador de prêmios e títulos de arquitetura e um dos expoentes dos Estados Unidos na profissão.
É o fundador da Bolt Arquitetura, que tem foco em projetos residenciais, comerciais, educacionais e religiosos, tendo projetado uma série de prédios que se tornaram roteiro arquitetônico de cidades como Nova York.
Entre seus trabalhos mais famosos estão a escola Saint Albans Montessori e a Old Boy School.

Yolande Daniels

Foto: Joe Angeles/WUSTL Photos - Reprodução School of the Art Institute Chicago<br>
Foto: Joe Angeles/WUSTL Photos - Reprodução School of the Art Institute Chicago<br>
A arquiteta formada pela City College e Columbia University tem uma história próxima ao Brasil. Em 1996, recebeu um financiamento do AIA de Nova York para viajar ao país para documentar os espaços de escravidão.
É co-fundadora do Studio SUMO, escritório fundado em parceria com o também arquiteto Sunil Bald, que possui como premissa a inclusão dos contextos físicos, culturais e sociais no desenvolvimento de seus projetos institucionais, residenciais e instalações artísticas.
Seu trabalho no SUMO foi amplamente reconhecido com premiações e honrarias, dentre elas o Young Architects Award, concedido pela Architectural League of New York. Lecionou no MIT, Columbia University, City College, University of Michigan e foi titular da Silcott Chair na Howard University, cadeira que promove pesquisa e publicações sobre questões relacionadas à arquitetura e ao design. O foco de pesquisa de Yolande inclui raça, gênero, arquitetura e política do espaço.

Annette Fisher

Foto: Reprodução Archdaily
Foto: Reprodução Archdaily
Formada em 1983 pela Universidade de Strathclyde, em Glasgow, Escócia, a britânica Annette Fisher liderou e participação da criação de escritórios e projetos no Reino Unido, África e Estados Unidos. Em 1999, foi a primeira mulher negra a integrar o Conselho RIBA (Instituto Real Britânico dos Arquitetos). Um ano depois tornou-se a vice-presidente de comunicações do instituto e, posteriormente, foi eleita presidente do mesmo.
Premiada internacionalmente, em 1997 recebeu o NatWest Award para Profissional Africano do Ano e abriu seu próprio negócio, o Fisher Associates (FA-Global-Now), localizado em Chelsea, onde até hoje desenvolve projetos de pequena a grande escala.
*Especial para Haus, com informações Archdaily.

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