Arquitetura

Edifício Asa: moderno, pero no mucho

Luan Galani
14/04/2015 23:30
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Edifício Asa. Fotos Letícia Akemi / Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

O Edifício Asa é uma incógnita. Pouco se sabe sobre sua história. Não existe versão oficial. Sua presença é tímida nos registros dos arquivos públicos e arquitetos e historiadores ainda não se interessaram em decifrá-lo. Soma-se a isso o fato de a planta original ter se perdido e ninguém saber exatamente quem foi o arquiteto responsável pelo projeto. Alguns chegam a afirmar que até ferro e cimento desviados da construção de Brasília foram utilizados no Asa, como conta o atual síndico do edifício, o médico aposentado Antonio Pedro Nuevo Miguel, 74 anos.
O que se sabe com certeza sobre a habitação é que o nome peculiar vem das iniciais da construtora responsável pelo empreendimento: Aranha S.A. (ASA). Completado em 1954, o prédio é tido como a primeira habitação da capital paranaense a associar espaços comerciais e residenciais. Cravado no centro da cidade, com saídas para a Praça Osório, a Rua Voluntários da Pátria e a Alameda Dr. Carlos de Carvalho, o edifício reúne 22 andares e 414 unidades, entre lojas e residências.
Mas, na contramão do que assegura o imaginário urbano acerca do prédio, a arquiteta e urbanista Juliana Suzuki, que leciona História da Arquitetura na Universidade Federal do Paraná (UFPR), acredita que o Asa muito provavelmente não foi o primeiro a associar residências e comércio. “A função mista era um elemento recorrente nas construções daquele período”, justifica.
Quase uma minicidade, o Asa não passou despercebido na época, porém. Transformou-se em um marco importante da paisagem da cidade, principalmente por ser um gigante. “Na época, os edifícios costumavam ter dez pavimentos, quando muito”, explica Juliana.
No estilo, o edifício se mostra um híbrido de marca maior. Guarda características modernistas, como a clareza estrutural com as colunas circulares e as esquadrias discretas, e, ao mesmo tempo, não abandona elementos da art decó, como a moldura de algumas janelas, o padrão geométrico do piso, os ornamentos do corrimão e das paredes.
O hibridismo de estilos do prédio fica claro quando comparadas as duas fachadas: uma tem janelões com esquadrias discretas e a outra é pontuada por molduras arte decó. Essa foi a saída encontrada pela construtora para casar o desejo de fazer algo moderno com o apego das pessoas ao tradicional
O hibridismo de estilos do prédio fica claro quando comparadas as duas fachadas: uma tem janelões com esquadrias discretas e a outra é pontuada por molduras arte decó. Essa foi a saída encontrada pela construtora para casar o desejo de fazer algo moderno com o apego das pessoas ao tradicional
Art decó na decoração interna: piso de granilite com padrões geométricos e paredes dos corredores com duas cores e rodameio.
Art decó na decoração interna: piso de granilite com padrões geométricos e paredes dos corredores com duas cores e rodameio.
Fachada do edifício Asa
Fachada do edifício Asa
A pintura do teto imita o céu e brinca com o nome do edifício. As paredes são revestidas com granito, formando detalhes geométricos
A pintura do teto imita o céu e brinca com o nome do edifício. As paredes são revestidas com granito, formando detalhes geométricos
O nome peculiar vem das iniciais da construtora responsável pelo empreendimento: Aranha S.A. (ASA)
O nome peculiar vem das iniciais da construtora responsável pelo empreendimento: Aranha S.A. (ASA)
As colunas circulares são um elemento tipicamente modernista: concedem clareza visual e autonomia estrutural. Depois do advento do concreto armado (concreto com barras de aço e outros componentes no seu interior), a parede deixou de ser fundamental na estrutura e passou a ser só um componente de vedação. Por isso, começou a ser menos empregada nas fachadas dos prédios da época
As colunas circulares são um elemento tipicamente modernista: concedem clareza visual e autonomia estrutural. Depois do advento do concreto armado (concreto com barras de aço e outros componentes no seu interior), a parede deixou de ser fundamental na estrutura e passou a ser só um componente de vedação. Por isso, começou a ser menos empregada nas fachadas dos prédios da época
O corrimão das escadas do prédio é ornamentado em estilo arte decó. Essa foi uma das concessões do empreendimento modernista ao tradicional, ainda tão caro para a população curitibana da década de 1950
O corrimão das escadas do prédio é ornamentado em estilo arte decó. Essa foi uma das concessões do empreendimento modernista ao tradicional, ainda tão caro para a população curitibana da década de 1950
Completado em 1954, o prédio é tido como a primeira habitação da capital paranaense a associar espaços comerciais e residenciais
Completado em 1954, o prédio é tido como a primeira habitação da capital paranaense a associar espaços comerciais e residenciais
Os dois primeiros andares do Asa tem sacadas com mais espaço para o comércio. Essa função mista também é uma característica de construções modernas
Os dois primeiros andares do Asa tem sacadas com mais espaço para o comércio. Essa função mista também é uma característica de construções modernas
O atual síndico do edifício, o médico aposentado Antonio Pedro Nuevo Miguel, de 74 anos
O atual síndico do edifício, o médico aposentado Antonio Pedro Nuevo Miguel, de 74 anos
A decoração peculiar do Asa é sua marca registrada, mas não é original. Foi feita a partir da década de 1970 por de um de seus síndicos mais famosos, o advogado Floriano Zarur, já falecido
A decoração peculiar do Asa é sua marca registrada, mas não é original. Foi feita a partir da década de 1970 por de um de seus síndicos mais famosos, o advogado Floriano Zarur, já falecido
Corredor interno do edifício Asa
Corredor interno do edifício Asa

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