Arquitetura

Um dos símbolos do art déco em Curitiba, prédio do Centro está abandonado

Aléxia Saraiva
27/08/2018 11:30
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Prédio construído em 1941 é um dos melhores exemplares do art déco em Curitiba, com linhas verticais e poucos adornos na fachada. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Em uma época em que Curitiba ainda era uma cidade horizontal, despontava na Praça Tiradentes uma construção à frente do seu tempo. Erguido em 1941, o Edifício Tiradentes e seus seis pavimentos — número maior que os três ou quatro comuns ao período — trouxe na fachada um estilo arquitetônico com fortes traços do art déco. Ele marcava a passagem do ecletismo, comum em Curitiba até o fim dos anos 1920, para esse novo estilo que antecederia o modernismo, ajudando a verticalizar o centro e a limpar as fachadas de adornos rebuscados.
Quem explica é o arquiteto e especialista em estética e filosofia das artes Fábio Domingos Batista. Para ele, o edifício é um dos melhores exemplares do estilo em Curitiba e um dos únicos a manter seu revestimento original em pó de pedra. “O art déco tem como característica a construção feita com concreto armado. A partir disso, marquises e varandas curvas que avançam são elementos que tiram proveito desse material”, explica.
Fotos de alguns exemplos de prédios Art Deco em Curitiba para a Revista HAUS. Local: Curitiba.
Fotos de alguns exemplos de prédios Art Deco em Curitiba para a Revista HAUS. Local: Curitiba.
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Outro elemento típico do estilo são as linhas que sugerem verticalidade, passando a impressão de o edifício ser ainda mais alto. Segundo Batista, o potencial decorativo é explorado com altos e baixos relevos, avanços e recuos.  “Por isso, o art déco também é chamado de protomoderno – é o início do modernismo, que tem um sistema construtivo muito aparente”, completa.
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O único sobrevivente

Apenas um dos andares do prédio é ocupado atualmente. O piso térreo abriga uma loja de cosméticos há cerca de dois anos. Todos os outros estão fechados e em desuso, com sinais de depredação. A porta de entrada para o prédio, na lateral da loja, tem marcas da inscrição do nome em letras com tipografia clássica do art déco — das quais apenas duas ainda estão lá.
Fotos de alguns exemplos de prédios Art Deco em Curitiba para a Revista HAUS. Local: Curitiba.
Fotos de alguns exemplos de prédios Art Deco em Curitiba para a Revista HAUS. Local: Curitiba.
A imobiliária responsável pelo aluguel do piso térreo, LR7 Imóveis, não se pronunciou sobre o atual estado do prédio. A reportagem encontrou processos na justiça referentes à reivindicação da posse do imóvel após o falecimento da antiga proprietária, em 2013.
Fotos de alguns exemplos de prédios Art Deco em Curitiba para a Revista HAUS. Local: Curitiba.
Fotos de alguns exemplos de prédios Art Deco em Curitiba para a Revista HAUS. Local: Curitiba.
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No livro “Morar nas alturas” — que estuda a verticalização de Curitiba entre os anos 1930 e 1960 a partir de estudos das professoras Elizabeth Amorin de Castro e Zulmara Clara Sauner Posse, da Universidade Federal do Paraná —, o Edifício Tiradentes consta historicamente como um prédio de uso comercial e de prestação de serviços ou lazer. Esse era um uso comum na região à época, embora a maior parte dos edifícios do período catalogados — 48% do total, segundo o livro — previssem o uso misto: lojas no térreo e apartamentos residenciais nos andares superiores.
Assim como vários vizinhos da Praça Tiradentes, o edifício ocupou não só uma região nobre da cidade como da própria quadra. “Muitos dos primeiros prédios pegavam a esquina para resolver melhor as janelas, a ventilação e a iluminação”, comenta Batista. Ele aponta como exemplo o Edifício Eduardo VII, localizado na esquina oposta, que foi construído em 1950 e tem características arquitetônicas similares.
Fotos de alguns exemplos de prédios Art Deco em Curitiba para a Revista HAUS. Local: Curitiba.
Fotos de alguns exemplos de prédios Art Deco em Curitiba para a Revista HAUS. Local: Curitiba.
“O Tiradentes marca o início de uma nova cidade. Ele aparentemente foi muito bem construído, tem uma arquitetura bem refinada, e poderia ser utilizado hoje em dia. É uma pena o potencial que a cidade perde com esse imbróglio”, acrescenta o arquiteto.

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