Arquitetura

Edifício Uirapuru, desde os anos 1970 um arranha-céu laranja e solitário no Água Verde

Marina Pilato*
08/10/2018 13:58
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Edifício Uirapuru foi construído no início dos anos 1970, no Água Verde. Pouco depois, a regra de zoneamento impediu que prédios com essa altura fossem construídos na região. Foto: Fernando Zequinão / Gazeta do Povo. | Gazeta do Povo

Ao passar pelo bairro Água Verde e arredores, é impossível não notar um espigão laranja que reina soberano na rua Tenente Max Wolf Filho. Na região, de onde quer que se olhe, o Edifício Uirapuru – com características do brutalismo, movimento da arquitetura dos anos 1950 e 1960 com acabamento cru e utilização de materiais como concreto e pedra aparentes – fará parte da paisagem. São 20 pavimentos de uma estrutura esbelta que levanta o questionamento: por que ele é o único prédio com tamanha altura a figurar o local?
Foto: Fernando Zequinão / Gazeta do Povo.
Foto: Fernando Zequinão / Gazeta do Povo.
Construído no início dos anos 1970, foi um dos primeiros edifícios da cidade com essa magnitude a ter um apartamento por andar. O autor do projeto, o arquiteto Agostinho Zanelo de Aguiar, explica que, na época, as regras de zoneamento e uso do solo da cidade permitiam que, no raio de quadras do qual o Uirapuru faria parte, fossem feitas construções daquela altura desde que, quanto mais andares fossem erguidos, mais espaço houvesse entre o prédio e as construções vizinhas. Essa regra fez com que houvesse, em afastamento de cada lado da edificação, um recuo equivalente à largura dela.
De acordo com Aguiar, o objetivo era que os moradores não fossem privados da luz do sol, caso outros prédios de altura similar fossem construídos. “Orientado para o Norte, na parte da tarde recebe uma insolação plena. A parte social é voltada para aquele lado, enquanto que elevadores e área de serviço foram colocados no outro sentido”, comenta o arquiteto. Logo após sua construção, mudanças na Lei de Zoneamento impediram que, dali em diante, outros gigantes como ele fossem erguidos, o que explica a solidão do Uirapuru.
O Uirapuru é um dos primeiros edifícios da cidade a ter um apartamento por andar. O projeto é assinado pelo arquiteto Agostinho Zanelo de Aguiar. Foto: Fernando Zequinão / Gazeta do Povo
O Uirapuru é um dos primeiros edifícios da cidade a ter um apartamento por andar. O projeto é assinado pelo arquiteto Agostinho Zanelo de Aguiar. Foto: Fernando Zequinão / Gazeta do Povo
A área onde o prédio está localizado faz parte da chamada Zona Residencial Quatro (ZR-4), segundo a arquiteta do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), Maria Cristina Trovão Santana. Com característica de maior adensamento urbano, de acordo com a regra atual a altura máxima permitida é de oito a dez pavimentos. “Essas decisões são tomadas com base em estudos e em discussões com a população. Há regiões em que um aglomerado de prédios altos causaria perda de qualidade daquele espaço urbano, o sistema viário seria afetado por causa da maior concentração de veículos em um só local, além da questão da sombra, menor insolação e perda de privacidade”, esclarece.

Vista e estilo

Caso existissem mais edificações altas na região a vista única com a qual os moradores do Uirapuru são privilegiados também ficaria impossibilitada. Ao contornar os 360 graus do terraço do prédio, é possível ver com clareza os bairros ao redor, como Portão e Rebouças, o cemitério do Água Verde e o estádio Joaquim Américo Guimarães, casa do Clube Atlético Paranaense. À esquerda dele, mais ao longe, o paredão de prédios no Batel anuncia a proximidade com o centro da cidade. Mas nenhuma dessas características – nem a vantagem de ver, de cima, a mescla de cimento e verde que forma a cidade – tira o brilho da maior estrela da vista do edifício: os contornos nítidos da Serra do Mar.
Vista panorâmica do prédio tradicional do Água Verde. Foto: Fernando Zequinão / Gazeta do Povo
Vista panorâmica do prédio tradicional do Água Verde. Foto: Fernando Zequinão / Gazeta do Povo
Ao redor dele, apesar da presença de cada vez mais empreendimentos novos, permanecem casas antigas, a maioria dos anos 1950. O arquiteto Agostinho Zanelo de Aguiar lembra que, ao chegar ao local e ver as casas, pensou no contraste que a edificação, um dos primeiros projetos de sua carreira, geraria. “O que inspira o arquiteto é o lugar, o que você vai colocar nele. Dá aquele clique e você imagina o projeto sendo montado e o prédio surgindo na sua frente”, conta.

Outras fotos do Uirapuru

Foto: Fernando Zequinão / Gazeta do Povo
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