Arquitetura
Em discussão na Flip, arquitetos convidam as pessoas a explorar as cidades
Os arquitetos Francesco Careri e Lucia Leitão desafiaram as pessoas a flanar pelas cidades para despertar novamente suas almas. Fotos: Flip/Divulgação
Os arquitetos Francesco Careri e Lucia Leitão fizeram uma ode à caminhada na mesa “Cidades Refletidas”, que aconteceu nesta quinta (30), na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Careri é arquiteto, professor na Università degli Studi Roma Tre e autor de Walkscapes: O Caminhar Como Prática Estética. Já Leitão é professora da Universidade Federal de Pernambuco e escreve sobre a articulação entre arquitetura e psicanálise, por exemplo, em Onde Coisas e Homens Se Encontram“.
Para os dois arquitetos, caminha-se pouco nas cidades, e isso tanto reflete quanto traz consequência para a sociedade que construímos nela.
“Um autor americano diz que cidade que não tem lugar pra caminhar também não tem lugar para a alma. Essa é a marca da sociedade brasileira. Vivemos negando a rua. Gilberto Freyre falava que, na cidade colonial brasileira, as ruas eram caminhos para casas poderosas, exatamente a função que damos a elas hoje, onde temos cidades para o carro”, disse Leitão.
“Ao caminhar num espaço urbano, passamos por lugares que não correspondem à nossa ideia de cidade, então apagamos eles da memória. Nesse sentido falo da amnésia urbana. O que faço com meus alunos é exatamente isso, entender que existem regiões de sombra, uma parte escondida no inconsciente da cidade. É uma reapropriação do espaço”, disse Careri, que os estimula a caminhar e até mesmo entrar em espaços privados.
Imigrantes na cidade
Careri dirige um centro em Roma que realiza pesquisas e cursos sobre habitação popular e integração multicultural no espaço público, se concentrando em comunidades excluídas, o Laboratorio Arti Civiche, por isso foi questionado pela plateia sobre como as cidades europeias estão reagindo à chegada de imigrantes.
“É um fenômeno que observo e acompanho há quase 20 anos e que, neste momento, tornou-se mais evidente. Os centros de asilo estão a 50, 60 quilômetros das cidades, são mantidos o mais distante possível delas. É preciso culpar a Europa e a ONU por tudo isso, é preciso resgatar as pessoas antes que atravessem o mar. Precisamos organizar a cidade para acolhê-las, não para construir campos de concentração.”