Arquitetura

Em prédio quase centenário, museu em Santos preserva história da cultura cafeeira nacional

Luciane Belin*
21/09/2018 19:54
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Foto: André Monteiro/ Divulgação Museu do Café | Andre Monteiro

O Museu do Café do Brasil celebra duas décadas de funcionamento no dia 25 de setembro, instalado em um ambiente que presenciou a história da cultura cafeeira do país desde o início do século 20. Localizado na cidade de Santos, no litoral paulista, o prédio da Bolsa Oficial de Café foi construído no início do século e inaugurado no ano de 1922 para receber as atividades de pregão, implementadas cinco anos antes.
Considerado um dos principais representantes do estilo eclético na arquitetura brasileira, o edifício é tombado como patrimônio histórico e artístico nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), em esfera estadual.
Foto: Victor Hugo Mori/ Divulgação Museu do Café
Foto: Victor Hugo Mori/ Divulgação Museu do Café
De acordo com a diretora executiva do Museu do Café, Alessandra Almeida, a exuberância nos detalhes e a extravagância no estilo do museu refletem o status que a cultura cafeeira representava na época. “Ao contrário do espaço em que a bolsa atuava até então – uma área com salas funcionais, que pouco diferiam do ambiente interno de um escritório de uma comissária ou exportadora da época – o novo edifício trouxe características luxuosas e uma grandiosidade inovadora”, conta.
Ele explica que existem duas suposições que podem justificar a opulência da construção. “Uma das hipóteses é de que, havia algum tempo, a elite cafeeira paulista tentava se firmar como construtora da nação com outros estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. A segunda hipótese seriam as comemorações para o Centenário da Independência do Brasil, em 1922. Em todo o país, surgiam programações e grandes obras que fariam parte do evento. Em Santos, não podia ser diferente: porta de saída da maior riqueza de São Paulo à época, muito empenho foi colocado para que a data fosse devidamente assinalada como um marco na história”.
Foto: André Monteiro/ Divulgação Museu do Café
Foto: André Monteiro/ Divulgação Museu do Café
Com o passar dos anos, no entanto, os pregões das bolsas de café deixaram de ser frequentados e o prédio seguiu abrigando apenas outras atividades e funções, como as seções de classificação, que aconteciam no segundo andar, e o trabalho de oferecer as cotações diárias. “As firmas foram perdendo o interesse pelo “negócio de bolsa” ao longo da década de 1960. Ou seja: o presidente abria a sessão e ninguém aparecia para negociar”, relata Almeida.
Dessa forma, o prédio foi utilizado como Bolsa até 1986, quando foi transferido para a Secretaria da Fazenda do Estado. Em 1998, o Museu surge dividindo espaço com a Secretaria da Fazenda.
Apesar da relevância do prédio para a cidade e para o patrimônio nacional, a autoria do edifício é desconhecida. “Conhecemos apenas os nomes dos três arquitetos que faziam parte do quadro da Companhia Constructora de Santos na época: Carl Reger, Fritz Muller e Jules Mosbeux”.

Riquezas culturais dentro e fora

Foto: Karina Frey/ Divulgação Museu do Café
Foto: Karina Frey/ Divulgação Museu do Café
Além da fachada, o prédio do Museu do Café conserva um grande valor arquitetônico também em cada uma de suas salas. Ao longo do tempo, ele sofreu intervenções de importantes artistas brasileiros e estrangeiros. “É o caso da cantaria em granito róseo que foi projetada pelo belga Ernest Chaineux e executado pelos irmãos Longobardi. Era bem comum, nessa época, que cada ofício específico – cantaria, gesso, ferro – fosse destinado a um especialista”.
Na transformação em Museu do Café, a restauração do local, realizada na década de 90, preservou aspectos importantes de sua memória, como o Salão do Pregão, onde ocorriam as negociações de café, três pinturas de Benedicto Calixto e o vitral “A Epopeia dos Bandeirantes”.
Foto: Ian Lopes
Foto: Ian Lopes
O local também abriga o Centro de Preservação, Pesquisa e Referência Luiz Marcos Suplicy Hafers, que conserva diversas publicações e registros históricos relevantes para compor a memória regional. Com acesso livre e gratuito para pesquisadores ou para o público em geral, o espaço também funciona como uma biblioteca pública.
Preservação
Administrado pelo Instituto de Preservação e Difusão da História do Café e da Imigração (INCI), uma Organização Social de Cultura qualificada pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, o Museu do Café tem rotinas de manutenção e segurança predial que incluem treinamentos constantes com os funcionários, Brigada de Incêndio, checagem diária de saídas de emergência, validação de extintores e hidrantes, averiguação do funcionamento de itens como os para-raios, aa cabine primária e as instalações elétricas.
“Temos um procedimento ainda mais cuidadoso no que se refere às orientações e acompanhamento de fornecedores e terceirizados, isso principalmente em situações de manutenção e montagem de novas instalações, exposições e realização de eventos”, explica a diretora executiva, em referência às exposições temporárias e ações itinerantes que acontecem no local.
Foto: Divulgação Museu do Café
Foto: Divulgação Museu do Café
Além do restauro inicial feito no período da inauguração, o instituto adianta que está em fase de elaboração de um novo projeto de conservação e recuperação do edifício. “Por ser um prédio tombado nas três esferas (Condepasa, Condephaat e Iphan), existe a necessidade de um plano mais detalhado para realizar qualquer interferência no prédio”, explica a diretora executiva.
*Especial para Haus.

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