Arquitetura

Escola que virou museu, MON guarda características de uma arquitetura inclusiva

Carolina Werneck*
26/06/2017 21:52
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Em seu projeto original, o prédio principal do Museu Oscar Niemeyer deveria abrigar um centro educacional. Foto: Ivonaldo Alexandre/Arquivo Gazeta do Povo | Carolina Werneck Bortolanza

Originalmente projetado para abrigar o Instituto de Educação do Paraná, o Museu Oscar Niemeyer (MON) encantou o arquiteto argentino Enrique Walker, sumidade no mundo acadêmico da arquitetura; e o espanhol Andrés Jaque, ganhador do Leão de Prata da Bienal de Arquitetura de Veneza em 2014 e entusiasta da inovação nas cidades. Ambos professores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, eles visitaram e se impressionaram com a história do cartão postal em passagem recente pela capital onde palestraram na Expo Curitiba 2017, evento que reúne 18 projetos para repensar a arquitetura e urbanismo da cidade.
“O Museu pulsa com a cidade”, diz Jaque. O arquiteto Oscar Niemeyer entregou o projeto do MON em 1967, mas o prédio só foi inaugurado em 1978. O volume principal, então batizado de Edifício Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, tem três pavimentos e foi desenvolvido para ser um colégio. Mas sua função educacional nunca chegou a ser cumprida. A obra funcionou como sede de secretarias do governo até se tornar um museu, em 2002.
Os amplos espaços do MON poderiam perfeitamente ser usados para sua finalidade original, de acordo com os especialistas. Foto: André Rodrigues/Arquivo Gazeta do Povo
Os amplos espaços do MON poderiam perfeitamente ser usados para sua finalidade original, de acordo com os especialistas. Foto: André Rodrigues/Arquivo Gazeta do Povo
Os amplos espaços do MON poderiam perfeitamente ser usados para sua finalidade original, de acordo com os especialistas. Foto: André Rodrigues/Arquivo Gazeta do Povo

Marcas

A vocação para ser um centro educacional, que poderia também cumprir uma função de inserção social na educação,  ainda pode ser observada no MON, segundo eles. O espaço grandioso com sua estrutura aberta poderia abrigar, sim, uma escola sem divisão de classes. “Durante a visita, imaginávamos que todas as crianças de Curitiba pudessem vir a esse colégio. Especulamos se o projeto de Oscar Niemeyer não teria sido mesmo por ele calculado para que todas as crianças um dia passassem por ali, como um grande ponto de encontro da cidade”, diz Walker.
As observações dos arquitetos sobre o MON são fruto de uma discussão mais ampla sobre o papel da arquitetura nas sociedades atuais, que defendem que a profissão deveria se voltar para questões sociais, o que resultaria também em mais segurança para a cidade. Para Walker, “sociedades mais justas são mais seguras. É uma aposta de longo prazo, mas é importante porque uma arquitetura que exibe seu exercício da segurança vai contra a possibilidade de uma sociedade aberta”. Ele afirma que o investimento em segurança deve ser feito na educação, e não nas prisões.
Voltando ao exemplo do MON como uma escola, Jaque complementa com uma avaliação. “Inicialmente, o projeto não previa grades. Provavelmente confiava-se na mistura social, na normalização da convivência como um mecanismo para fortalecer a sociedade e fazê-la mais justa e segura, no longo prazo”, fala.
Produzir uma arquitetura que preze pela segurança parece fazer sentido em comunidades castigadas pela violência, como é o caso de muitas regiões da América Latina. Mas, segundo os arquitetos, essa é a forma equivocada de tratar o problema. Conhecer o projeto original do MON e sua vocação escolar também contribuiu para reforçar esse ponto de vista. Para Jaque, a ausência das grades e a arquitetura ampla e aberta desenvolvida por Niemeyer seriam “uma forma sensível e culta de incorporar a segurança como algo que não requer esse reumatismo [de edifícios fechados e cheios de vigilância]”.
*Especial para a Gazeta.

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