Gravuras, tapeçarias e talhas raras

Arquitetura

Família de Poty Lazzarotto doa acervo de 4 mil obras do artista para o MON

Luan Galani
28/03/2022 21:16
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Obra de Poty Lazzarotto na Praça 29 de Março, em Curitiba. | Arquivo/Gazeta do Povo/Henry Milleo

A família Lazzarotto decidiu doar mais de 4 mil obras do acervo de Poty Lazzarotto para o Museu Oscar Niemeyer (MON). O contrato entre os familiares e o governo do estado do Paraná foi consumado em dezembro de 2021, mas a administração estadual o anunciará somente nesta terça-feira (29), dia do aniversário de 329 anos de Curitiba, em audiência pública no Palácio Iguaçu, às 10h30. A informação foi obtida em primeira mão por HAUS junto à família de Poty, e foi confirmada pela Superintendência de Cultura do Paraná.
"Entregar o acervo do meu irmão é respeitar o desejo dele, que foi sempre de deixar suas obras permanentemente públicas. Estou feliz por estar vivo para concretizar essa vontade", confidencia com exclusividade para HAUS o tabelião João Lazzarotto, 89 anos, irmão de Poty. Agora, o MON terá um espaço permanente de exposição das peças do artista curitibano.
Um dos painéis mais conhecidos de Poty, no Largo da Ordem, em Curitiba.
Um dos painéis mais conhecidos de Poty, no Largo da Ordem, em Curitiba.
O advogado Guilherme Rodrigues, amigo pessoal de Poty desde a década de 1970 e representante da família no processo de doação de escritura pública do acervo, conta que entre as peças existem algumas bem raras, como tapeçarias, talhas de madeira, blocos de concreto com figuras. Há ainda cerca de 3 mil desenhos e 366 gravuras assinadas pelo artista.
"Apesar de ter obras até na Europa, a intenção do Poty era de que suas obras ficassem preservadas aqui em Curitiba. Por isso, o João organizou e catalogou tudo", explica Rodrigues. Segundo o advogado, desde 13 de dezembro do ano passado o museu está com todo o acervo.
Fachada do Teatro Guaíra com painel de Poty Lazzarotto.
Fachada do Teatro Guaíra com painel de Poty Lazzarotto.
Com as obras já em mãos, o museu organiza uma exposição com parte do acervo do artista - a segunda de Poty no MON (a primeira foi em 2012). Ela deve ser inaugurada em julho e vai ocupar dois andares da torre do Olho. Há ainda planos de levar as obras de Poty Lazzarotto para o interior, em mostras itinerantes.

Quem foi Poty Lazzarotto?

Napoleon Potyguara Lazzarotto (1924-1998), popularmente conhecido como Poty, é um dos artistas símbolo de Curitiba. A cidade é cravejada por seus murais: do Teatro Guaíra ao monumento do Centenário do Estado, dos azulejos atrás da Catedral às sedes de várias empresas públicas e privadas. Como defende a artista plástica Luciana Ferreira em artigo publicado em 2011 no 8º Fórum de Pesquisa Científica em Arte, Poty escolheu o mural como interface principal por considerar que, desta forma, sua arte seria mais democrática e estaria à disposição de todos.
"Em cinco décadas de atividades ininterruptas, a maior parte da
obra de Poty é representada pela arte pública – e se encontra, quase toda, em Curitiba. Até 1986, o artista plástico já havia assinado mais de vinte murais espalhados pela cidade", ensina Luciana no artigo.
Poty ao lado de Helena Kolody.
Poty ao lado de Helena Kolody.
Entre as características principais de Poty, seu traço tem algo de rural, mas é também moderno, seja pela distorção criativa ou pelo uso de justaposições de espaços e tempo. "Graças a esse traço peculiar, tipos de uma Curitiba ainda ligada a hábitos agrícolas, mas flagrada por uma linguagem contemporânea, surgem na forma de pessoas comuns, no exercício de usos, costumes, atividades e diversões paranaenses", explica a artista plástica.
"Cenas tão triviais do cotidiano humano foram expressas por um simbolismo carregado de humildade e singeleza, que levam, possivelmente, aqueles que as veem a identificar-se, mesmo que inconscientemente, pelo que é sugerido no contexto de sua obra", finaliza.
Autorretrato de Poty.
Autorretrato de Poty.
Sua obra também ilustra livros de grandes autores brasileiros, como Dalton Trevisan, João Guimarães Rosa, Gilberto Freire, Jorge Amado, Mário Palmério, Rachel de Queiróz e Graciliano Ramos, para citar apenas alguns.
Procurada pela reportagem para falar sobre a doação, o governo do estado do Paraná preferiu não conceder entrevista nem divulgar fotos do acervo até o evento de anúncio público nesta terça (29).

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