Arquitetura

Gambiarras nas instalações elétricas provocaram incêndio no Museu Nacional

Gazeta do Povo*
04/04/2019 20:01
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Foto: Mauro Pimentel/AFP | AFP

Peritos da Polícia Federal encontraram fortes indícios de que uma série de gambiarras no circuito elétrico provocou o incêndio que atingiu o Museu Nacional há oito meses e o mantém a portas fechadas desde então.
A “mais plausível causa primária” do fogo foi identificada: o ar-condicionado C, um dos três aparelhos que resfriavam o auditório no térreo, entrou em pane na noite de 2 de setembro de 2018, logo abaixo da sala que guardava o fóssil de 13 metros de comprimento do Maxakalisaurus topai, um dinossauro que habitou a América do Sul há 80 milhões de anos.
Laudo apresentado nesta quinta-feira (4), na Superintendência da PF no Rio, para jornalistas, aponta sinais de que as instalações elétricas não seguiam “recomendações do fabricante” em ao menos dois momentos, segundo o perito criminal Marco Antônio Zatta.

Razões do incêndio

Cada um dos três aparelhos de ar condicionado no auditório deveria ter um disjuntor próprio. O que se constatou: “Em vez de ligar direto num quadro principal, foi feita uma ligação em paralelo. Deveria ter um disjuntor para cada ar. Era um mesmo para os três”.
A PF já havia recebido esse relato, a evidência foi encontrada, afirmou Zatta. “Obviamente não é algo normal. Não estava seguindo a recomendação do fabricante.”
O aparelho que entrou em curto era o único energizado na hora. “Não quer dizer que estava ligado, e sim em stand by, esperando comando do controle remoto.”
Foto: Tânia Rego/Agência Brasil
Foto: Tânia Rego/Agência Brasil
A segunda causa apontada é de que também não havia aterramento elétrico ali. Segundo o perito, isso pode ter colaborado para que uma pane tenha se maximizado. É como “a história do terceiro pino na tomada, tem sentido de estar ali”, exemplificou. “Em caso de falha na corrente, escoa pelo aterramento.”

Agravante: falta de equipamentos

Zatta apontou também a falta de equipamentos que poderiam ter debelado as labaredas mais rapidamente.
Fora as deficiências no sistema de combate a incêndio. Até havia extintores dentro da sala onde o fogo começou, todos no prazo de validade, e um hidrante próximo dali, mas o time da PF não localizou, por exemplo, sprinklers (chuveiros automáticos para abafar o fogo, geralmente instalados no teto), alarme de incêndio em pleno funcionamento e porta corta-fogo.
O que sobrou do prédio do Museu Nacional após o incêndio. Foto: Mauro Pimentel/AFP
O que sobrou do prédio do Museu Nacional após o incêndio. Foto: Mauro Pimentel/AFP
A equipe da PF não encontrou hidrantes com mangueira nas paredes nem alarmes funcionando. Um extintor “nunca faria frente para combater um incêndio daqueles”, disse. Sem contar que, sem porta corta-fogo, “a propagação [do fogo] foi facilitada”.
Também não acharam, baseando-se em fotos anteriores ao fogaréu, placas em vários aposentos que sinalizassem o que fazer em caso de incêndio, como para qual saída de emergência ir. Se o museu estivesse aberto, a tragédia poderia ser ainda maior.

Sem ato intencional

A PF não encontrou evidências de um ato intencional que tenha desencadeado a pane que acabou por destruir o maior museu de história natural e antropológica da América Latina e também o mais antigo do Brasil, hoje com 201 anos. Dom João 6º o fundou em 1818, em outro endereço, e o chamou então de Museu Real. O acervo hoje fica num palacete que serviu de residência para a família real de 1808 a 1889, na Quinta da Boa Vista, no bairro de São Cristóvão (zona norte carioca).
Um incêndio criminoso costuma deixar rastros, como o uso de produtos químicos que ajudem a alastrar o fogo. Peritos não encontraram vestígios de algo do tipo.
Também descartaram a hipótese de que um balão ou uma descarga atmosférica tenham provocado as chamas que engoliram milhares dos mais de 20 milhões de itens ali guardados.
Esqueleto mais antigo descoberto nas Américas, popularmente conhecido como Luzia e uma das peças perdidas durante o incêndio. Foto: Museu Nacional
Esqueleto mais antigo descoberto nas Américas, popularmente conhecido como Luzia e uma das peças perdidas durante o incêndio. Foto: Museu Nacional
Num primeiro momento, deu-se quase tudo como perdido, mas itens valiosos do acervo foram resgatados em buscas pelos escombros que se estenderam por meses. Caso do crânio de Luzia, a mulher mais antiga que a ciência brasileira tem nas mãos e uma das mais antigas das Américas, com cerca de 12 mil anos.
À frente da investigação, o delegado Paulo Teles lembrou das dificuldades para o trabalho de sua equipe. A começar pela dimensão do espaço: 13 mil metros quadrados, considerando seus três pisos.
Segundo Teles, “a mais importante pergunta, se alguém agiu de forma dolosa ou culposa”, ainda não será respondida. A PF, em parceria com o TCU (Tribunal de Contas da União), vai “chegar a algum termo no final da investigação”. Não disse quando isso seria.
*Com Folhapress

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