Arquitetura

Ícone da arquitetura brutalista brasileira, Catedral de Maringá completa 45 anos

Carolina Werneck*
10/05/2017 18:57
Thumbnail

Vista da Catedral Metropolitana de Maringá. Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo | GAZETA

São 45 anos desde o término das obras, mas a Catedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Glória, em Maringá, continua chamando a atenção por sua arquitetura moderna e inovadora. Entregue no dia 10 de maio de 1972, dia do aniversário da cidade, a obra tornou-se um cartão postal, ponto de parada obrigatória para turistas e moradores.
Registro da construção da Catedral de Maringá. Foto: Kenji Ueta/Arquivo
Registro da construção da Catedral de Maringá. Foto: Kenji Ueta/Arquivo
O projeto da Catedral foi desenvolvido pelo arquiteto José Augusto Belucci e levou 13 anos para ficar pronto. De acordo com a Diretoria de Turismo e Entretenimento da Prefeitura de Maringá, o edifício tem 114 metros de altura e capacidade de 3.500 lugares. A construção tem quatro vitrais principais, de 20 metros de altura, que simbolizam os quatro pontos cardeais. Além desses, outros 12 vitrais menores, com 12 metros de altura, simbolizam os 12 apóstolos. Quem assina todos eles é Lorenz Helmair. No interior da igreja há ainda trabalhos de Zanzal Matter e Conrado Mozzer. A obra, que utilizou cinco mil metros cúbicos de concreto, é um exemplo importante da arquitetura brutalista.
Os vitrais da Catedral de Maringá são assinados por Lorenz Helmair. Foto: Daniel Castellano / AGP / Arquivo Agência de Noticias Gazeta do Povo
Os vitrais da Catedral de Maringá são assinados por Lorenz Helmair. Foto: Daniel Castellano / AGP / Arquivo Agência de Noticias Gazeta do Povo
Renato Leão Rego é professor do departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e autor do livro “As cidades plantadas. Os britânicos e a construção da paisagem do norte do Paraná”. Ele explica que a arquitetura brutalista é “baseada em sólidos geométricos elementares e no material bruto – [no caso da Catedral] o concreto armado aparente”.
Esse estilo arquitetônico, bastante popular em São Paulo ao longo da segunda metade do século 20, carregava forte crítica social. “Sua difusão e, consequentemente, sua adaptação em outros contextos descartaram este aspecto, prevalecendo a questão estética. Grandes vãos, estrutura definidora da forma arquitetônica e estética dos materiais brutos – em particular, o concreto – são aspectos da arquitetura brutalista”, afirma o professor.
A aparência do concreto bruto era bastante difundida nas obras da época. Encarada como “sinônimo de modernidade”, de acordo com o professor, quase foi descartada do projeto da Catedral por questões de qualidade. “Há um comentário do filho do arquiteto projetista da Catedral, de que o pai pensava na possibilidade de revestir a superfície externa do edifício por duvidar da qualidade do concreto do acabamento”, conta. A ideia foi posta de lado depois que Belucci teve a confirmação de que o acabamento era de confiança.
Mas a arquitetura da Catedral de Maringá teve ainda outras influências, além do estilo brutalista. Rego diz entender que “a principal referência do projeto é a verticalidade das catedrais góticas”. As grandes estruturas em forma de pirâmide que circundam o volume principal foram a saída encontrada pelo arquiteto para apoiar o cone do centro e permitir a iluminação natural do térreo da obra, opina.
Detalhe das estruturas piramidais que circundam a Catedral de Maringá. Foto: Rubens Vandresen / RPC
Detalhe das estruturas piramidais que circundam a Catedral de Maringá. Foto: Rubens Vandresen / RPC
Muitas vezes comparada ao foguete russo Sputnik II, a forma de cone da construção nada tem a ver com a corrida espacial, que estava em seu auge na época da edificação. “O filho do projetista disse que o pai refutava esta analogia com um foguete espacial. Toda a simbologia que ele reconhece ter empregado no projeto advém do universo religioso”, esclarece Rego.
O formato da Catedral já foi comparado ao foguete espacial Sputnik II. Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo
O formato da Catedral já foi comparado ao foguete espacial Sputnik II. Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo
Além das formas geométricas, da característica brutalista, das influências góticas e modernistas, a Catedral tem detalhes construtivos quase sempre ignorados. O professor chama a atenção para um desses detalhes. “A estrutura do cone é dupla. Na verdade, são dois cones, duas paredes de concreto que estruturam o edifício.” Por esse motivo, no interior da igreja Belucci instalou os famosos pilares triplos, inclinados. Eles são projetados para dar sustentação aos dois cones centrais.
Os pilares triplos no interior da Catedral foram projetados para sustentar a estrutura dupla do cone principal. Foto: Daniel Castellano / Arquivo AGP / Agência de Notícias Gazeta do Povo
Os pilares triplos no interior da Catedral foram projetados para sustentar a estrutura dupla do cone principal. Foto: Daniel Castellano / Arquivo AGP / Agência de Notícias Gazeta do Povo
A localização escolhida para a construção é um dos motivos do encanto causado por ela. “Quando ainda havia a estação ferroviária, a Catedral arrematava a perspectiva de quem desembarcava na cidade, posicionada ao final da avenida central. Ela se tornou um marco visual, uma referência para a localização das pessoas na paisagem de Maringá”, detalha Rego. Quase meio século depois de sua edificação, a obra é um símbolo da cidade e não parece ter perdido a capacidade de impressionar quem a vê pela primeira vez. Em 2016, a Catedral foi mencionada pela revista italiana Designboom como um dos ícones do movimento moderno da arquitetura brasileira.
*especial para a Gazeta

LEIA TAMBÉM

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!