Sustentabilidade 4.0

Arquitetura

Inovação e sustentabilidade são as marcas do primeiro projeto do italiano Mario Cucinella no Brasil

Fernanda Massarotto, especial para a HAUS
30/03/2022 13:58
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Primeiro projeto do italiano Mario Cucinella será a nova fábrica da multinacional Nice, em Limeira (SP)

O arquiteto Paulo Mendes da Rocha, falecido em maio do ano passado, aos 92 anos, nunca escondeu que, para ele, a primeira e primordial arquitetura era a geografia. O mesmo lema segue Mario Cucinella, colega e admirador do capixaba, com suas obras que dialogam com a paisagem. Na nova sede da multinacional Nice no Brasil, seu primeiro grande projeto no país, o arquiteto italiano coloca mais uma vez em prática o conceito de Mendes da Rocha. O headquarter para a América Latina do grupo italiano, que atua no mercado de automação de portões e segurança residencial e industrial, será inaugurado na metade do ano, em Limeira, a 150 km de São Paulo.
Um dos principais nomes da arquitetura sustentável não só em seu país, mas nos quatro cantos do mundo, Cucinella concebeu um complexo industrial moderno e sustentável em uma área de cerca de 20 mil metros quadrados. A ideia base, como conta, por telefone, à HAUS, é calcada no conceito de Indústria 4.0, que engloba automação, tecnologia da informação e principais inovações em simbiose com a natureza.
O terreno de 40 mil metros quadrados fica ao lado da Universidade Paulista (Unip) e às margens da Rodovia Anhanguera. A nova sede, que custou cerca de 20 milhões de euros - em torno de 106 milhões de reais -, irá acolher as áreas administrativa e comercial, de pesquisa e desenvolvimento, além de serviço ao consumidor e industrial da empresa.
Projeto é simples e funcional, e visa reduzir o consumo de energia e impacto ambiental
Projeto é simples e funcional, e visa reduzir o consumo de energia e impacto ambiental

Projeto Made in Brazil 

Se há algo que Mario Cucinella preza em seus projetos é uma visão abrangente que leve em conta as características estéticas e funcionais dos espaços, interligando-as às qualidades energéticas desse lugar. Isso tudo sempre ligado ao tema da sustentabilidade, que é a sua marca registrada.
"Em um complexo industrial desse porte, em um país tropical, como não desfrutar da natureza?", questiona ele, que admite ter se inspirado muito não só na vegetação local, mas também nos fenômenos naturais da região: muito sol, muita luz e muito vento. "É um constante diálogo entre interno e externo que resulta em eficiência produtiva e conforto para quem lá trabalha. Um edifício funcional, de dois andares, simples em sua estrutura e projetado para reduzir o consumo de energia e impacto ambiental", completa.
Uma das características do edifício é sua cobertura na forma de folha tropical, que proporciona sombra em uma área que acolhe toda a parte administrativa, o showroom e a fábrica. "Como estamos em uma região próxima à linha do Equador, o sol bate verticalmente, dando a possibilidade de desfrutarmos da sombra que protege inclusive toda a fachada de vidro durante as horas mais quentes do dia", explica o arquiteto, que optou por grandes janelas de vidro na entrada principal do prédio e desenhou uma clarabóia em forma de funil para a entrada de luz natural no saguão da sede.
A claraboia permite a entrada iluminação e a ventilação naturais
A claraboia permite a entrada iluminação e a ventilação naturais
Mais que um elemento que funde in e out, o funil é uma verdadeira obra de arte orgânica realizada em metal e membrana feita de plástico e fibra resistente tensionada, duplamente curvada e termossoldada. "A intenção é fazer com que o público que passa por esse espaço possa não só ver a luz, mas sentir a brisa e até o cheiro da chuva que vem filtrada desse funil".

Vidro, aço e cimento

Além dos espaços destinados à produção, o projeto ainda prevê uma série de passagens que conduzem a espaços comuns como academia, creche e uma área com churrasqueira para os funcionários e suas famílias. Em relação aos materiais, Cucinella optou por uma estrutura simples para conceber a sede da Nice. "Vidro, aço e cimento", diz.
O projeto privilegia a iluminação natural - e por isso mesmo o arquiteto desenhou o edifício como uma fachada que mais parece uma grande vitrine: até mesmo a área de produção e o processo de automação, que ficam na parte de trás, podem ser admirados. É o chamado conceito show-factory.
Fábrica é projetada como uma grande vitrine
Fábrica é projetada como uma grande vitrine
Nos escritórios - distribuídos em dois andares - e no showroom foi concebido um sistema de ventilação natural que funciona o ano todo sem que haja necessidade do uso de ar-condicionado. Painéis solares foram instalados no teto - um total de 4 mil metros quadrados -, suprindo a demanda por energia elétrica da sede principalmente nos dias de sol. Foi instalado ainda um sistema de armazenamento de águas da chuva destinadas a irrigação e como fonte de suprimento para usos não potáveis.
Enquanto a arquitetura da nova sede da multinacional italiana interage continuamente com o clima da região, o projeto paisagístico propõe uma interpretação quase que alegórica da flora brasileira. Cucinella trouxe um pouco do cerrado brasileiro para compor a mini-floresta projetada na parte de trás do edifício. "A vegetação natural incorporada à obra acrescenta ainda mais valor à biodiversidade da região", complementa ele, que vê na realização da obra um cartão de visitas para entrar definitivamente no mercado brasileiro.  "Espero que seja o primeiro de muitos projetos no Brasil."
O rascunho do projeto
O rascunho do projeto

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