Arquitetura

Integração de ambientes

Daliane Nogueira
23/01/2014 02:12
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Para aproveitar ao máximo da sacada, Estér Kloss e Helaine Pinterich, da Esphera Arquitetura, tiraram parte da parede e nivelaram o piso com o da sala. O resultado é um espaço gourmet unido ao living e jantar. Um mix de texturas com a mesma nuance de cor é visto nos revestimentos e acabamentos dos móveis

Fazendo uma viagem no tempo e voltando duas ou três décadas, eram raros os projetos de moradia em que a cozinha se comunicava com a sala principal ou o escritório invadia a área de jantar. O que se via eram ambientes separados para funções distintas (visita, almoço e tevê) e o espaço de preparo dos alimentos relegado aos fundos da residência. “A relação com o morar mudou muito nos últimos anos. Hoje, procura-se por refúgios onde o conforto e a possibilidade de receber amigos de forma descontraída é o mais importante”, explica o designer de interior Claudiney Simião.
Assim, pouco a pouco as paredes foram literalmente “caindo”, dando lugar a ambientes integrados, onde as amplitudes visual e física garantem uma diversidade de atividades e uma maior comunicação entre as pessoas. “Deixamos de projetar apenas ambientes e passamos a pensar nas atividades que ocorrerão no espaço, proporcionando flexibilidade para a casa”, observa a arquiteta Simone Volpi, da Volpi Arquitetura. Mas para que essa união aconteça sem deixar o layout bagunçado ou confuso, é necessário ter alguns cuidados que vão desde a estrutura do imóvel até a combinação de cores e disposição dos móveis.
Estrutura
O primeiro passo é avaliar quais paredes podem, realmente, ser derrubadas. Vale lembrar que a maioria das edificações é construída em concreto armado, formando um esqueleto de lajes, colunas e vigas, responsáveis pela sustentação e distribuição do peso da construção. Esses componentes não podem sofrer alterações. As paredes de fechamento ou vedação são as que, normalmente, podem ser removidas.
No entanto, é preciso ter a avaliação de profissionais de engenharia e arquitetura. De acordo com o Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape), uma prática segura é remover a parede por partes, permitindo que o engenheiro avalie o comportamento da construção a cada etapa e, eventualmente, suspenda a retirada.
Simone Volpi lembra que mesmo as paredes que podem ser derrubadas costumam ter embutidas cabos de fiação elétrica e tubulação hidráulica. “É muito importante consultar os projetos da construção para verificar se um ponto elétrico ou hidráulico a ser eliminado não está alimentando outro, obrigando uma avaliação da obra”, justifica. Quando não é possível remover toda a parede, pode-se optar por uma integração parcial e usar a estrutura em favor da decoração, indica a profissional.
Acabamentos
Cinco elementos são essenciais para o sucesso da decoração de um ambiente integrado: cores, texturas, revestimentos, iluminação e altura dos móveis. A matiz de cor deve ser definida antes de iniciar a obra e as arquitetas Estér Kloss e Helaine Pinterich, da Esphera Arquitetura, orientam escolher uma base neutra e investir em cor para os objetos e elementos menores. “O ideal é distribuir as cores por todo o espaço, fazendo com que um complete o outro. Dá para ter um vaso azul em um ambiente ‘conversando’ com as almofadas do sofá no mesmo tom”, dá como exemplo Helaine.
Quanto menos cores forem usadas, maior liberdade haverá para a aplicação de texturas, principalmente, nos revestimentos das paredes. “A mistura de um painel de madeira para uma tevê, combinado com papel de parede, pintura acrílica e detalhes pontuais em vidro, pode compor muito bem um ambiente integrado”, sugere a arquiteta.
No chão, o mais indicado é ficar com o mesmo revestimento em todo o espaço e, caso seja necessário, usar um tapete para demarcar um ambiente. Mas, para cômodos pequenos, esse artifício dará a sensação de redução da área. Outro cuidado é com os pisos estampados ou de cores muito fortes que terão muita presença visual. “Pode-se ainda investir na moldura do piso, incluindo uma borda de granito ou mármore em um revestimento de porcelanato”, indica Simone.
Sintonia
Apesar de haver integração, é necessário deixar claro a existência da diversidade de funções e cada espaço da casa. Móveis bem dispostos e iluminação planejada são os elementos que mais ajudam nessa delimitação. Para o mobiliário, a principal dica é evitar peças altas que farão o bloqueio visual. Sofás muito grandes de costas para a sala de jantar devem ser repensados, dando lugar a pufes ou bancos que podem ser rearranjados com facilidade. “Móveis portáteis e multifuncionais são boas saídas para ambientes flexivíveis, especialmente quando não se tem muito espaço”, aponta Simone.
O controle da iluminação, para favorecer a delimitação dos ambientes, deve ser individualizado por espaços e um projeto bem definido é capaz de criar um “clima” para diversas situa­ções: jantar a dois, coquetel para amigos, festa, filme na televisão, entre outros. Com os sistemas de automação residencial, a escolha dos cenários pode ser programada previamente. “Além disso, deve-se criar pontos centrais de luz, como os pendentes sobre a mesa de jantar, que favorecem as atividades que serão realizadas no espaço”, aponta Claudiney Simião.
Para a sala de estar, a sugestão é usar iluminação cênica, com lâmpadas direcionadas a objetos específicos, como quadros e esculturas. A ideia é valorizar os objetos que são a base da decoração. “Quem opta por rebaixar o teto com gesso, deve investir em lâmpadas embutidas nessa estrutura”, completa Simone. Outra peça curinga é o abajur, que pode determinar o ambiente de leitura, dando a sensação de aconchego.
Living, cozinha, home theater e varanda ou sacada são os principais alvos da integração, mas não são os únicos. Quartos integrados com escritórios e closet são comuns e há ainda o conceito de loft, com integração completa, como propôs Simião no projeto da chamada “Box House”. “Até mesmo a garagem é integrada com a sala e os ambientes do mezanino podem ser observados do primeiro piso. É um verdadeiro refúgio urbano, onde a convivência da família ditou o layout do projeto”, relata.
Meio termo
Os ambientes integrados são mais fáceis de limpar e organizar e dão a impressão de que a casa é maior. Em contrapartida, há a consequente falta de privacidade, os riscos de muita informação visual e ainda a propagação de luz e odor, como é o caso de deixar a sala com o cheiro do jantar.
Modernos sistemas de exaustão, por outro lado, ajudam a reduzir o problema do cheiro, mas quando o uso da cozinha é intenso pode-se optar por uma porta para fazer a divisão dos cômodos, proporcionando a integração quando o morador assim quiser.
O recurso da porta (principalmente, de correr) vale ainda para salas equipadas com sistema de som potentes ou onde se quer menos luz para uma seção de filmes, por exemplo. “Há modelos de portas vidro, madeira ou metal e as ferragens evoluíram bastante e podem ficar aparentes, ajudando até a compor a decoração”, explica Simone.

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