Conjunto Urbanístico de Brasília

Arquitetura

Iphan propõe plano de ação para restauro do patrimônio depredado em Brasília

Sharon Abdalla e Cristina Seciuk
13/01/2023 15:20
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Em sua vistoria dos bens culturais afetados pelos atos de vandalismo cometidos em Brasília no último domingo (8), o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) apontou que não foram encontrados danos "irreparáveis" aos edifícios. No relatório, os técnicos fazem um primeiro panorama geral dos estragos causados aos bens arquitetônicos protegidos pelo Instituto, bem como aos seus bens integrados, além de apontar ações emergenciais, de médio e longo prazos para a recuperação do patrimônio.
O documento deve subsidiar a tomada de decisão do Iphan, do Ministério da Cultura e da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em tarefas relacionadas à restauração e à preservação dos bens culturais afetados.
Como ações emergenciais, as indicações visam recompor as edificações para permitir o seu pleno funcionamento. Algumas já estão em andamento, como a substituição de vidraças quebradas, instalação de tapumes, limpeza de pichações e recolhimento e catalogação do mobiliário danificado.
A médio prazo, a indicação é pelo planejamento do restauro do mobiliário e das obras de arte de todos os edifícios (incluindo os painéis e murais integrados) e de um projeto de reconstituição do Plenário do STF - uma das áreas mais vandalizadas -, com substituição do carpete, poltronas, forro de madeira e restauro do painel de mármore, de autoria de Athos Bulcão.
Também são listados o mapeamento dos danos aos revestimentos de mármore do Planalto, do STF (Supremo Tribunal Federal) e do Senado; do piso de granito do Salão Negro da Câmara (riscado pelo pisoteamento de cacos de vidro); recuperação de esquadrias; substituição de carpetes (com pontos queimados ou completamente encharcados pelo sistema contra incêndio). Na Câmara dos Deputados, será necessária a substituição de mobiliário e do equipamento eletrônico no Plenário.
Como ações de longo prazo, o Iphan indica a efetiva execução das ações de restauro de mobiliário e das obras de arte, do plenário do Supremo e das fachadas do Congresso Nacional. Ainda a recuperação, o restauro e a recomposição dos revestimentos ou pisos de mármore, restauro no Painel Ventania de Athos Bulcão e a execução de obra para proteção das esquadrias do térreo do Senado Federal contra invasões.

Patrimônio Cultural Mundial

Conforme previsão constitucional, a preservação e a salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro são atribuições de todos os entes federativos, com a contribuição da sociedade. Ao Iphan, cabe a responsabilidade de zelar pela preservação de edifícios protegidos pelo tombamento federal, que é o caso dos edifícios do Congresso Nacional, Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal, do Museu da Cidade e do Espaço Lucio Costa, além da Praça dos Três Poderes, todos depredados no último fim de semana.
No relatório, o Iphan frisa que os acervos de bens móveis expostos nos prédios - como quadros, esculturas e murais - não integram o tombamento, “o que não impede que o Instituto ofereça orientação técnica em ações de salvamento e na contratação de serviços e profissionais para o devido restauro, quando solicitado”. Estes itens são de responsabilidade dos diferentes órgãos da administração pública federal.
Como já sabido (ao menos parcialmente) a partir das imagens que foram feitas no próprio domingo pelos próprios manifestantes e por equipes de reportagem que estiveram no local imediatamente após a retirada dos mesmos, inúmeras fachadas tiveram vidros quebrados ou pichados, assim como os pilares externos do STF e do Congresso. No interior dos edifícios, foram encontradas pichações em paredes, forros, teto e em obras de arte, além de arranhões e perfurações em forros de gesso, painéis de madeira; espelhos e painéis de vidro internos também foram quebrados.
Danos mais extensos foram encontrados no mármore da rampa de acesso ao Palácio do Planalto, que teve peças quebradas e com arranhões de até 60 cm de comprimento. O acesso ao STF também teve peças de mármore quebradas em diversos pontos e, internamente, o piso da mesma pedra ficou severamente arranhado devido ao pisoteamento de cacos de vidro - mesmo dano encontrado no piso de granito do Salão Negro da Câmara dos Deputados.
A vistoria apontou alguns alívios: não foram encontrados danos aparentes nos painéis de Burle Marx e de Athos Bulcão, obras de arte integradas ao Palácio do Planalto. Já as obras integradas à sede do STF não tiveram mesma sorte: 'A Justiça', escultura da recepção do edifício, foi removida e arremessada para fora do prédio (com danos ainda a serem avaliados), o Painel de Mármore de Bulcão afixado no plenário sofreu arranhões e a escultura 'A Justiça', na praça dos Três Poderes, foi pichada.
Os vitrais de Marianne Peretti, na Câmara e no Senado não tiveram danos, assim como um dos painéis de Athos Bulcão (localizado na lanchonete da Câmara). Já no painel 'Ventania' (de Bulcão), no Muro Escultórico em madeira laqueada do Salão Verde e no painel vermelho que integra o edifício do Senado foram observados danos pontuais. No Museu do Senado, uma tapeçaria de Burle Marx foi rasgada e um quadro de Guido Mondim, danificado.
Não tombadas, há inúmeras peças do acervo danificadas por exposição ao fogo e à água, como a pintura sobre madeira 'Bandeira do Brasil', de autoria de Jorge Eduardo, que tem danos potencialmente irreversíveis segundo o Iphan. Também já conhecidas, as perfurações, abrasões e intervenções para descaracterização de pinturas, desmontagens, fragmentação, arranhões que acometeram 'As mulatas', de Emiliano Di Cavalcanti, a escultura em bronze 'O flautista', de Bruno Giorgi (fragmentada em toda sua extensão), a escultura em madeira, de Frans Krajcberg (rompida em quatro pontos, um deles com completa separação do suporte) e o relógio de Balthazar Martinot (fragmentado em toda sua extensão, apresentando fissuras, deformações e perdas).

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