Arquitetura
Japão investe R$ 100 milhões em espaço cultural na Avenida Paulista
Japan House, na Avenida Paulista, foi inaugurada no começo de maio. Recebeu um aporte de R$ 100 milhões do governo japonês. Fotos: Rogério Cassimiro/Divulgação
O endereço é dos mais nobres do país, a Avenida Paulista, no cruzamento com a Rua 13 de Maio, no coração de São Paulo. E a construção faz jus ao espaço. A Japan House, inaugurada no início de maio, tem um objetivo: apresentar ao Brasil um Japão contemporâneo, diferente daquele que as primeiras levas de imigrantes trouxeram para o Brasil – e que, como representação estagnada no tempo, segue sendo a referência dos brasileiros do que seria o país do extremo Oriente.
Ao custo de R$ 100 milhões em uma iniciativa do governo japonês, o espaço combina arte, cultura, gastronomia, estilo de vida, tecnologia e negócios. Outras duas metrópoles do mundo, Londres e Los Angeles, receberão espaços parecidos.
“Inauguramos um marco fértil na relação entre o Brasil e o Japão e um novo modelo de instituição de intercâmbio cultural. Seremos um braço estendido para colaborar com toda troca que beneficiará as duas nações”, explica Angela Hirata, presidente do empreendimento.
Conheça o projeto
O projeto é do escritório FGMF Arquitetos, liderado pelo trio Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz, em parceria com o renomado arquiteto japonês Kengo Kuma. A Japan House foi instalada em um prédio antigo, que recebeu um retrofit.
Na casa de 2,5 mil metros quadrados Kengo Kuma imprimiu sua marca registrada: o uso de materiais naturais em releituras de técnicas e elementos tradicionais das construções de seu país de origem, a começar pela fachada construída pelo encaixe de réguas de hinoki, uma madeira nipônica resistente – a resistência, aliás, é uma característica marcante do povo japonês.
Espaços
No segundo andar, um restaurante em que o cream cheese não chega perto do sushi divide espaço com exposições selecionadas pelo curador Marcello Dantas. A primeira dessas mostras é sobre o bambu, recurso natural renovável e sustentável que existe em abundância no Brasil, embora seu potencial não seja totalmente explorado pelos ocidentais.
“O bambu não é um ícone de identidade para o Japão como o é a folha de maple para o Canadá, por exemplo. Mas tem uma presença silenciosa, de respeito, de que nem os japoneses se dão conta. Assim como eles, o bambu é forte, resiliente, e carrega consigo uma força e uma espiritualidade. E não é estrangeiro ao Brasil. A diferença é que, enquanto o Japão tem cerca de 5 mil usos catalogados do bambu, o Brasil tem, a rigor, um só: a vara de pescar”, conta Dantas.
Somam-se a isso um salão para eventos e workshops (ajudando a fomentar contatos, conhecimento e novos negócios), um café com doces japoneses, espaço multimídia com cerca de 1,9 mil livros de assuntos que variam de viagens a crianças e duas lojas.
A estrutura circular de bambu que fica logo na entrada do estabelecimento chama muita atenção. Após tirar os sapatos, conforme manda a tradição, o visitante pode entrar na inesperada sala de cinema e se deitar no tatame para assistir ao longa-metragem de animação O Conto da Princesa Kaguya, cedido pelo Studio Ghibli (o mesmo do premiado A Viagem de Chihiro), projetado diretamente no teto. A entrada na Japan House é franca – são cobrados apenas os workshops.
Só no primeiro fim de semana, a Japan House atingiu a marca de 7,3 mil visitantes e levou brasileiros ao Parque Ibirapuera para assistir a dois gigantes da música japonesa – Jun Miyake e Ryuichi Sakamoto, que compôs um álbum inteiro na casa de seu ídolo Tom Jobim. Os números mostram que o empreendimento não parece estar tão longe de alcançar o seu objetivo: fazer o visitante se sentir um pouco mais perto do Japão do século 21.
*Jéssica Nakamura, RBS