UIA2021RIO

Arquitetura

Kengo Kuma fala sobre arquitetura que conversa com obras de Niemeyer, mas com foco na sustentabilidade

Sharon Abdalla
21/07/2021 20:52
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Um dos arquitetos mais respeitados e inventivos do Japão, Kengo Kuma apresentou na manhã desta quarta-feira (21) palestra em vídeo no UIA2021RIO (27º Congresso Mundial de Arquitetos), na qual falou sobre aspectos relacionados à sustentabilidade e ao que se esperar das construções e da arquitetura para o pós-pandemia da Covid-19.
Antes disso, no entanto, o premiado profissional e doutor em Arquitetura, que é professor da Universidade de Tóquio e já foi professor convidado das universidade de Columbia e Illinois, nos Estados Unidos, fez questão de destacar o fato de que o Brasil "produziu muitos arquitetos maravilhosos" e celebrou a obra de um dos mais representativos deles: Oscar Niemeyer, que "criou uma arquitetura única".
Para tanto, Kuma apresentou o projeto da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, em Brasília, apontando a preocupação do arquiteto brasileiro não apenas com o desenho da edificação em si, mas também com seus detalhes, como o revestimento com azulejos assinados pelo pintor, escultor e desenhista Athos Bulcão, que "traduzem a cultura brasileira para a modernidade".
Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, integrante do conjunto de obras de Niemeyer em Brasília.
Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, integrante do conjunto de obras de Niemeyer em Brasília.
O arquiteto destacou, também, a projeção da laje de concreto da construção para além dos limites de suas paredes, o que cria um espaço de permanência coberto, com sombra, uma interseção entre o interior e o exterior, e vice-versa. "Acho que no mundo pós-coronavírus o espaço entre área interna e externa vai se tornar um lugar importante para as pessoas trabalharem e viverem. O Niemeyer compreendia a qualidade desses vazios", aponta Kuma, ao lembrar que o espaço externo de uma das bibliotecas que assina tem inspiração nas obras do mestre do modernismo brasileiro.

O Japão no Brasil

O arquiteto comentou, também, sobre o projeto que assina com o escritório FGMF Arquitetos no Brasil: o complexo cultural Japan House. Localizado na Avenida Paulista, em São Paulo, o prédio apresenta uma estética que em nada lembra a "selva de pedra" paulistana ou outros ícones arquitetônicos do endereço (como o Masp) e que busca "refletir a cultura dos dois países".
Projeto da Japan House, em São Paulo, usa madeiras brasileiras e japonesas para representar a conexão entre os dois países.
Projeto da Japan House, em São Paulo, usa madeiras brasileiras e japonesas para representar a conexão entre os dois países.
"A estrutura de madeira foi feita por um carpinteiro japonês em Hida-Takayama, que fica para dentro das montanhas. A madeira mais escura é do Brasil e, a mais clara, do Japão. Elas se misturam de dois em dois. Além disso, usei fibra de carbono, material 10 vezes mais resistente do que o ferro. Usei essa técnica moderna, a técnica de carpintaria japonesa, materiais do Brasil e do Japão e materiais industriais de última geração. Queria construir uma arquitetura enraizada em solo brasileiro, mas que estivesse voltada para o futuro", descreve Kuma.

Local e artesanal

O trabalho com a madeira, o bambu e com fazeres artesanais é uma das características que marcam a produção do arquiteto japonês, que conta com projetos no Japão, China, França, Suíça, Itália e Reino Unido, para citar alguns.
No Estádio Nacional do Japão, em Tóquio, por exemplo, Kuma utilizou madeiras das 47 províncias japonesas (que são de cores distintas), como forma de representar na obra todas as localidades. Mais do que isso, ele as instalou em referência à posição geográfica delas, sendo as do portão sul madeiras de Okinawa, localizada ao sul do país, e as do norte, de Hokkaido, respectivamente. Assim, ao se deslocar pela construção, as pessoas podem perceber qual a cor da madeira do local onde nasceram ou vivem.
O Estádio Nacional do Japão foi construído com madeiras das 47 províncias locais.
O Estádio Nacional do Japão foi construído com madeiras das 47 províncias locais.
"Normalmente as instalações esportivas têm paredes de concreto. Mas eu pensei em usar bastante madeira. Dessa forma, o estádio iria se fundir ao jardim externo da floresta ao redor. A madeira cria beirais que vão se sobrepondo para que o vento possa soprar. É diferente dessa cultura do ar-condicionado. Eu acho que o mundo depois do coronavírus irá para uma direção diferente. Todos estão começando a pensar que não querem viver e trabalhar dentro de uma caixa, com ar-condicionado, mas sim em um espaço agradável, em um entre-espaço. Fiz um Estádio Nacional que seja adequado a essa nova era", reforça.
O profissional concluiu com um pensamento que tem aparecido em grande parte das falas apresentadas até agora no UIA2021RIO, que é a do poder da arquitetura em intervir nas questões ambientais.
"Acredito que o tema da nossa sociedade a partir de agora será 'Como vamos proteger o meio ambiente?'. Eu acho que isso é possível através da arquitetura, utilizando materiais locais e criando esse fluxo que é bom para a floresta e para os seres humanos. E fazer isso com um desenho de arquitetura que utilize bem o vento, a luz natural", frisou.

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