Arquitetura

Arquiteto muda a paisagem asiática com edifícios arrojados e colossais

Luciane Belin*
19/02/2019 17:15
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Traços incomuns caracterizam o Joe Lalli Narada Resort, na cidade de Moganshan, na China. Foto: Blackstation&Kevin/ JADE+QA

A assinatura visual do arquiteto britânico Martin Jochman está gravada em grandes proporções nos mais inesperados lugares do mundo. Da extravagante Dubai à discreta vila de Komotini, na Grécia; das geladas áreas da Sibéria aos campos quentes de Xangai, Martin transita entre a Europa e a Ásia, marcando os lugares por onde passa com desafiadoras obras de tamanhos variados e formatos inusitados.
Seu estilo, segundo o próprio Martin, faz parte de uma escola de arquitetura que ainda não existe. Ele quer olhar para o futuro, e o futuro do arquiteto e diretor de design da JADE+QA não inclui nenhum dos estilos já consolidados.
Ansiar pelo novo é algo presente na vida do profissional desde muito cedo. Quando concluiu a faculdade de Arquitetura, no Reino Unido, Martin Jochman não hesitou em deixar a zona de conforto para trás e partiu para Hong Kong, onde foi trabalhar em um escritório local.
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Desde então, ele já assinou dezenas de projetos que têm em comum a grandeza e as formas únicas, que incorporam diferentes formatos geométricos, linhas curvas e arredondadas, e mesclam prédios de tamanhos variados com recursos visuais impressionantes. Seu mais recente e premiado sucesso é o Shimao Intercontinental Hotel, instalado no interior de uma pedreira abandonada próximo a Xangai, na China.
O Quarry Hotel, como também é chamado por conta do nome da pedreira, tem 18 andares – dos quais dois são subaquáticos – e um visual único e futurista. Premiado internacionalmente, levou 12 anos para ser construído e foi fruto de um concurso vencido por Martin e sua equipe em 2006.
Agora, o escritório do arquiteto saiu vitorioso de mais uma concorrência para um novo hotel, também em Xangai, o Jiabei Park, que terá 280 quartos. HAUS conversou com Jochman sobre os principais desafios que encontra em suas obras gigantescas e o que marca seu estilo de trabalho.
Shimao International Hotel: construído dentro de uma pedreira de 88 metros de profundidade.
Shimao International Hotel: construído dentro de uma pedreira de 88 metros de profundidade.
Seus trabalhos estão em Dubai, na Grécia e na China. Como sua trajetória o levou até estes lugares e o que muda de sua terra natal em relação a eles?
Eu sempre estive interessado em viajar e explorar o mundo. Tendo me qualificado como arquiteto no Reino Unido, estava pronto para tentar trabalhar em outros países e consegui um emprego em Hong Kong. Isso me apresentou as possibilidades de trabalhar internacionalmente. No meu retorno de Hong Kong, fui contratado por uma consultoria internacional e lá tive a oportunidade de projetar, além do Reino Unido, em lugares como Ucrânia, Grécia e Dubai. Mais tarde, por acaso, consegui projetos na China, onde tive mais oportunidades de fazer uma arquitetura interessante. E sim, é muito diferente de trabalhar no Reino Unido. Na China, o designer precisa considerar imensas diferenças culturais nas expectativas do cliente e do público. O apoio da equipe chinesa é essencial.
Quantos projetos criou até agora?
Eu tenho planejado há tanto tempo que são muitos projetos, então eu só contarei aqueles com os quais eu estou muito feliz comigo mesmo. Deve ser em torno de 18 projetos, localizados no Reino Unido, Dubai, Grécia e na China.
Traços incomuns caracterizam o Joe Lalli Narada Resort, na cidade de Moganshan, na China. Foto: Blackstation&Kevin/ JADE+QA
Traços incomuns caracterizam o Joe Lalli Narada Resort, na cidade de Moganshan, na China. Foto: Blackstation&Kevin/ JADE+QA
Seus projetos são muito ambiciosos e exigem grande volume de trabalho e muito planejamento – somente no Shimao, foram 288 milhões de dólares, o que dá cerca de R$ 1,08 bilhão – e mais de cinco mil profissionais envolvidos. Quais os principais entraves desse tipo de obra e qual deles foi o mais desafiador?
O Shimao Wonderland Intercontinental Hotel foi facilmente o mais desafiador para todos os envolvidos, incluindo eu. A incomum pedreira de 88 m de profundidade – basicamente um buraco no
chão – como canteiro de obras criou enormes desafios técnicos, de construção e operacionais.
Eu não necessariamente me especializei neste tipo de projeto. Por menor que seja um projeto, se me interessar, vou tratá-lo igualmente a importantes projetos de referência que realizei. Na
minha longa carreira como arquiteto, abordei praticamente todos os tipos de edifícios, incluindo a renovação de edifícios históricos. Tive a sorte de ter oportunidades de design maravilhosas com
todos os meus empregadores anteriores e gostei do trabalho, espero produzir alguma arquitetura significativa. O mais desafiador é encontrar uma solução apropriada que não apenas crie
um conceito original e funcional, mas também satisfaça as necessidades do cliente e suas próprias expectativas estéticas, especialmente aqui na China.
Foto: Divulgação
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Muitos de seus projetos têm excelentes vistas do topo – como o hotel Shimao Wonderland, o Joe Lalli Narada Resort e o residencial estudantil na Grécia. Como você concebe isso em seu planejamento e como isso começou?
Acredito que o plano diretor e o prédio localizado dentro dele devam criar uma composição atraente não apenas em três dimensões, mas também como uma “obra de arte” bidimensional. É claro que todo planejamento de projeto de construção precisa ser funcional. Eu instintivamente tento ver padrões no design em desenvolvimento que criam complexidade aparente com a combinação de componentes simples.
Os hotéis Shimao e Moganshan foram concebidos como objetos esculturais únicos expressando o caráter de seu contexto e a função com sua massa, composta de tais componentes. Estou preocupado com proporções e relacionamentos de massa para criar objetos esteticamente agradáveis.
Vistos de cima, os projetos de Jochman formam composições geométricas.
Vistos de cima, os projetos de Jochman formam composições geométricas.
Seus projetos brincam com as formas geométricas e com linhas curvas e pouco uniformes. O que essa escolha diz sobre o seu trabalho?
Acredito que a forma do edifício pode ser divertida. Eu gosto de conseguir em edifícios formas interessantes e esculturais que sejam apropriadas ao seu contexto histórico, cultural e de localização. No entanto, “contexto” é a palavra importante. Em certas situações, essas formas podem ser inadequadas e a construção precisa se encaixar em seu ambiente com mais força. Uma das minhas grandes inspirações foi a escultora inglesa Barbara Hepworth. Em seu jardim de esculturas em St. Ives, na Cornualha, encontrei várias ideias inspiradoras que tiram sua mente da rigidez. Isso, combinado com o poder do computador e visualização 3D, resultou em mais formas esculturais para os meus edifícios.
Você se considera um modernista?
Modernista não é palavra correta aqui. É muito sobre um “estilo” específico. Eu gostaria de pensar em mim como arquiteto de hoje e do futuro. Embora eu ame estilos históricos originais, sinto que fazem parte da nossa história e devemos avançar não recriando o passado. Meus modelos na arquitetura são arquitetos como Jean Nouvel [francês conhecido pela ousadia e desconexão entre as obras]. Se você olhar para os seus edifícios, não há fio comum, nem estilo definido. Seus prédios respondem ao tempo, contexto e função. Eles são inspirados pelo ambiente em que se encaixam, enquanto compõem uma forte estética, original e única. É isso que eu gostaria de alcançar nos meus edifícios.
*Especial para Haus.

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