Adeus ao pai da Curitiba moderna

Arquitetura

Morre Jaime Lerner, um dos grandes nomes da arquitetura e do urbanismo mundial

Sharon Abdalla
27/05/2021 10:48
Thumbnail
Um dos grandes nomes do urbanismo brasileiro e mundial, o arquiteto Jaime Lerner faleceu nesta quinta-feira (27), aos 83 anos, vítima de uma complicação renal. O corpo do ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná será velado a partir das 10h30 no Cemitério Israelita do Água Verde. O sepultamento está previsto para as 15h desta quinta no Cemitério Israelita do Santa Cândida.
À frente da revolução urbana que levou o nome da capital paranaense para os quatros cantos do mundo a partir dos anos 1970, Lerner foi o responsável pelo fechamento da Rua XV de Novembro, criou os parques urbanos que deram a cara da Curitiba moderna e o sistema de transporte por canaletas exclusivas (o BRT), copiado em mais de 250 cidades.
Tais fatos, inclusive, fizeram com que seu nome fosse reverenciado e requisitado por onde passasse (são muitas as cidades que contam com projetos assinados por Lerner) e figurasse como o do segundo maior urbanista do mundo, de acordo com a revista norte-americana de planejamento urbano Planetizen, que em 2018 listou os 100 profissionais do setor mais influentes de todos os tempos - sendo Lerner o único brasileiro.
A publicação não foi a primeira a exaltar o trabalho realizado pelo ex-prefeito e ex-governador que, afastado da vida política há mais de uma década, teve na capital paranaense seu maior legado. Anos antes a revista "Time" já havia destacado Jaime Lerner entre os 25 pensadores mais influentes do mundo. “[Curitiba] É uma resposta para uma pergunta que de outra forma seria hipotética: como as cidades seriam se urbanistas, e não políticos, estivessem no poder?”, completou o “The New York Times”, em 2007.

O urbanista 

Filho de imigrantes judaico-poloneses e graduado em Arquitetura e Engenharia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lerner conheceu na academia muitos dos profissionais que estiveram ao seu lado na estruturação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), em 1965, e que trabalharam ao seu lado nas soluções urbanas e de transporte que colocaram Curitiba no mapa. Estão nesta lista figuras como Lubomir Ficinski Dunin (falecido em 2017), Domingos Bongestabs, Abrão Assad e Osvaldo Navaro.
Jaime Lerner em encontro com a reportagem de HAUS, na ocasião da celebração de seus 80 anos, em 2017.
Jaime Lerner em encontro com a reportagem de HAUS, na ocasião da celebração de seus 80 anos, em 2017.
No início dos anos 1970, a indicação do seu nome à prefeitura deu ao arquiteto a oportunidade de colocar todas elas em prática. E para os críticos de plantão, a resposta vinha em tom de bom humor, como quando colocou as crianças para pintarem no calçadão recém-inaugurado na Rua XV de Novembro e assim conteve o protesto de um clube de automóveis que era contrário ao fechamento da via para os veículos.
Foi assim também com as canaletas para a circulação exclusiva dos ônibus ‘expressos’, que trouxeram para a superfície o conceito do metrô, modal tido como “caro” na avaliação do urbanista.

A segunda revolução 

Nos anos 1990, os olhos de Lerner se voltaram ao meio ambiente e à sustentabilidade, tão em voga nos dias atuais, em um movimento que muitos podem avaliar como de vanguarda. Em sua terceira gestão como prefeito de Curitiba, ele ensinou a cidade a separar o lixo orgânico do reciclável ao criar o programa “Lixo que não é lixo”, e fez da Família Folha a cara da então “Capital Ecológica”.
Lerner e suas eternas tarturagas, animal que simbolizava o que o urbanista acreditava ser o ideal para uma cidade: trabalho, moradia e lazer localizados perto um dos dos outros.
Lerner e suas eternas tarturagas, animal que simbolizava o que o urbanista acreditava ser o ideal para uma cidade: trabalho, moradia e lazer localizados perto um dos dos outros.
São desta época, também, parques como a Ópera de Arame, o Jardim Botânico e a Rua 24 Horas que, erguidos em metal e vidro, inauguraram uma nova linguagem arquitetônica para a cidade e até hoje mantêm sua soberania quando se fala dos cartões-postais curitibanos.
“[Esta linguagem foi uma] boa coincidência. Estas eram obras que precisavam ser construídas rapidamente, e o material metálico foi o escolhido pela agilidade [que proporciona]. Elas estão incluídas na escola da boa arquitetura, que é a arquitetura simples, marcante e rápida em sua execução”, detalhou Lerner em entrevista à HAUS, em 2017.
Para o arquiteto e urbanista, como gostava de ser reconhecido e lembrado, e que trabalhou até os últimos dias em seu escritório, localizado no Cabral, faltou apenas uma coisa: “mais vida”, como Lerner mesmo destacou em seu último encontro presencial com a reportagem de HAUS, em dezembro daquele ano, quando celebrou seu 80º aniversário.

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!