Falecimento

Arquitetura

Morre Ruy Ohtake, arquiteto que projetou o Hotel Unique e os “redondinhos” de Heliópolis

Luan Galani
27/11/2021 17:21
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O arquiteto e designer Ruy Ohtake morreu na manhã deste sábado (27), aos 83 anos, vítima da mielodisplasia, um tipo raro de câncer na medula. O velório será restrito à família, na residência do arquiteto, em São Paulo, e a cremação será no Horto da Paz, às 17h, ainda neste sábado.
Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU), em 1960, Ohtake conseguiu unir as duas principais escolas de arquitetura brasileira — a escola carioca, cujo expoente é Oscar Niemeyer (1907-2012), e a escola paulista com Vilanova Artigas (1915-1985) — em sua produção. Ele também era bastante conhecido por ser filho da artista plástica nipo-brasileira Tomie Ohtake, que morreu em 2015, aos 101 anos.
Ruy Ohtake em entrevista exclusiva para HAUS em 2016.
Ruy Ohtake em entrevista exclusiva para HAUS em 2016.
Entre seus principais projetos, destaca-se o Hotel Unique, localizado na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, na capital paulista. A estrutura de sete andares lembra um navio pelo seu traço de arco invertido e tem uma piscina vermelha assinada em conjunto com o paisagista Gilberto Elkis. Segundo o crítico Paul Goldberg, o hotel é um dos prédios mais importantes do mundo.
Hotel Unique, em São Paulo, concluído em 2002, é um dos prédios mais importantes do mundo, segundo o crítico Paul Goldberg.
Hotel Unique, em São Paulo, concluído em 2002, é um dos prédios mais importantes do mundo, segundo o crítico Paul Goldberg.
Piscina vermelha do Hotel Unique.
Piscina vermelha do Hotel Unique.
Outra obra de destaque são os prédios "redondinhos", como ficaram conhecidos os edifícios cilíndricos do conjunto habitacional de Heliópolis.
Vista aérea do conjunto dos “Redondinhos”, em Heliópolis, São Paulo, um dos projetos mais conhecidos de Ruy Ohtake.
Vista aérea do conjunto dos “Redondinhos”, em Heliópolis, São Paulo, um dos projetos mais conhecidos de Ruy Ohtake.
A ideia aconteceu graças a uma fala mal interpretada de Ruy Ohtake. Em 2003, uma revista publicou a seguinte declaração atribuída ao arquiteto: “O que acho mais feio em São Paulo é Heliópolis”. Depois de ver a reportagem, Ohtake esclareceu que a intenção foi dizer que o mais feio na cidade era a diferença entre bairros ricos e pobres — “a diferença entre o bairro do Morumbi e Heliópolis, a maior favela”, corrigiu.
Na semana seguinte à declaração, João Miranda, líder comunitário em Heliópolis, ligou para Ohtake. Em vez de exigir explicações, pediu ao profissional que ajudasse o lugar a ficar mais bonito. E então o arquiteto topou o que ele chamou de "Arquitetura real", e mergulhou em uma cruzada pessoal contra a “desagradabilíssima” desigualdade social, em suas próprias palavras em entrevista para HAUS em 2016.
Parte central do conjunto habitacional dos "redondinhos" tem equipamentos públicos.
Parte central do conjunto habitacional dos "redondinhos" tem equipamentos públicos.
Também é dele o premiado Parque Ecológico do Tietê, e o Expresso Tiradentes, ambos em São Paulo. Bem como o projeto da Embaixada Brasileira em Tóquio.
A partir da construção da Embaixada Brasileira em Tóquio em 1981, assumiu um compromisso maior com as cores e suas obras viraram sinônimo de folia cromática. Ao todo, tem mais de 400 projetos construídos.
Embaixada do Brasil em Tóquio é um manifesto em defesa das cores.
Embaixada do Brasil em Tóquio é um manifesto em defesa das cores.
Mais recentemente, Ohtake se dedicava ao design de produtos. Sua coleção de cubas para a Roca, inspirada no formato de ovo, foi amplamente premiada, ganhando inclusive a categoria máxima de um dos prêmios de maior prestígio mundial no campo do design: o Red Dot Award 2019, concedido pelo Design Zentrum Nordrhein Westfalen, na Alemanha.
Cuba Ovo, criada por Ruy Ohtake.
Cuba Ovo, criada por Ruy Ohtake.
Em entrevista para HAUS em 2016, em visita a Curitiba, o arquiteto defendeu cidades mais democráticas: "A arquitetura é feita para as pessoas, para o povo. E a arquitetura tem que significar determinada época. Mas temos que saber olhar para o futuro, que é importante para o desenvolvimento das pessoas. Em 50 anos, teremos no país, segundo estatísticas, 50 milhões de pessoas entre 20 e 25 anos. É importante que todos se preocupem e façam alguma coisa. A formação desses jovens que estão ávidos por informações é papel de todos, inclusive da arquitetura", explicou.
E cobrou um compromisso para com o uso das cores. "O Brasil sempre foi um país que usou muita cor. Tanto pela natureza amazônica, o Pantanal, o mar, como também pelas construções das primeiras vilas e aldeias. Entretanto, nos últimos 100 anos, o Brasil foi colonizado culturalmente pela Europa. Em Paris, por exemplo, não se colocava mais tanta cor, largando a importância e a alegria dela. Por este motivo faço esforço para os projetos terem cor. E cor forte. Não é azul clarinho, nem vermelho rosa. É vermelho forte. Porque a cor tem que ter compromisso. ‘Quebrar o branco com uma corzinha’… não é assim. É azul forte, vermelho forte, verde forte. É cor, cor mesmo. Não é simples tintura para efeito decorativo", criticou Ohtake.
Prédio do Instituto Tomie Ohtake, também projetado por Ruy Ohtake.
Prédio do Instituto Tomie Ohtake, também projetado por Ruy Ohtake.

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