Arquitetura

Novo aeroporto ameaça destruir Machu Picchu e o Vale Sagrado dos Incas

Luan Galani
15/07/2019 21:07
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Foto: Ana Paula Nardini/Pexels/Reprodução

O Vale Sagrado dos Incas, composto por inúmeros terraços, pequenas construções e rotas projetadas pela próprios povos pré-colombianos, e a cidadela de Machu Picchu, ambas no Peru, correm risco real de destruição de sua paisagem cultural e histórica — uma das mais importantes do mundo.
O alerta é de centenas de historiadores, antropólogos e arqueólogos do Peru e do resto do mundo, que publicaram uma enxurrada de artigos em revistas científicas e de turismo contra a construção de um novo aeroporto internacional em Chinchero.
A pequena cidade fica 30 km a noroeste de Cusco, capital do império inca por quase 300 anos, onde há um aeroporto que recebe voos regionais e 2,5 milhões de turistas por ano.
Com o novo aeroporto, previsto para estar pronto em 2023 com projeto multimilionário de construtoras canadenses e sul-coreanas, a região passaria a receber 6 milhões de visitantes por ano, cerca de 22 mil pessoas a mais por dia que o recomendado pela Unesco.
Na opinião dos pesquisadores, o fluxo de pessoas irá causar urbanização descontrolada e mudanças irreversíveis a fauna, a flora e aos sítios arqueológicos. “Corremos o risco de fazer o que os espanhóis não conseguiram: destruir tudo”, disse à renomada revista ‘Science’ a historiadora peruana Mónica Ricketts, da Universidade Temple, nos Estados Unidos.
Aproximadamente 200 especialistas peruanos assinaram uma carta conjunta pedindo o cancelamento do projeto. Até mesmo a ex-ministra da cultura, Ulla Holmquist, assinou a petição contra o aeroporto. Eles defendem práticas mais sustentáveis de turismo e de exploração da estrutura histórica.
“Esta é uma paisagem construída. Há terraços e rotas projetadas pelos Incas ”, diz Natalia Majluf, historiadora da Universidade de Cambridge que ajudou a conceber o abaixo-assinado, ao britânico ‘The Guardian’. “Construir um aeroporto aqui irá destruí-la.”
As obras ameaçam outros pontos históricos da região. Além de Machu Picchu, o Vale Sagrado é formado por sítios arqueológicos como Pisac, Moray e Ollantaytambo. “Perderemos a paisagem cultural mais importante do Peru”, frisa Majluf à rede de TV norte-americana CNN.
Apesar de todo o protesto, o atual presidente do Peru, Martín Vizcarra — do partido de centro-direita PPK (Peruanos Por el Kambio) –, está determinado a seguir em frente. Desde janeiro um terreno próximo está em fase de terraplanagem para o novo aeroporto internacional.
Há pouco tempo o ministro das Finanças do Peru, Carlos Oliva, disse em coletiva que o empreendimento deve ser construído o “mais rápido possível”, porque é “muito necessário” para a cidade de Cusco. “Há uma série de estudos técnicos que apoiam o projeto”, afirmou.
A teimosia do governo é incompreensível, como defende reportagem do diário ‘The New York Times’. Como ficará a 37 mil metros de altura, cerca de 450 metros mais alto que o aeroporto de Cusco, neblina, ventos fortes e chuvas de granizo, bem comum nessas altitudes, tornam pousos e decolagens bem perigosos.
A ideia do aeroporto existe desde 1980, quando um proeminente senador e empresário de Cusco convenceu o então presidente Fernando Belaúnde da necessidade do projeto. Por diversos motivos, o projeto ficou engavetado e foi recuperado em 2018 por Viscarra para angariar suporte eleitoral no sul do Peru.

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