Mercado imobiliário

Arquitetura

Novo ou usado?

Marcos Kahtalian*
13/10/2022 19:47
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Segundo consta, o tal “cheirinho de carro novo” inebriaria os consumidores com um não sei quê de felicidade, uma química da conquista. Não se sabe se existe um equivalente para o mercado imobiliário, mas dá para desconfiar que sim. Mas isso implicaria saber antes se, afinal, os consumidores preferem apartamentos novos ou usados. Há defensores das duas posições – e com bons motivos. Comecemos pelos novos.
Pesquisas qualitativas e quantitativas que temos realizado demonstram uma grande emoção na compra do apartamento novo (zero km, por assim dizer) e, mais ainda, uma grande sensação de realização na mudança para um apartamento nunca dantes utilizado.
Algumas razões para tanto: um imóvel novo está impecável e não tem passado. Como uma página em branco, há toda uma nova história a construir naquele apartamento. O imóvel novo é, em geral, mais adaptado às necessidades da vida moderna, mais tecnológico, com maior qualidade construtiva, arquitetura contemporânea, com a pintura e os acabamentos perfeitos, sem falhas e ao gosto dos consumidores. Sonha-se com ele até o momento de sua entrega. Eis o momento das chaves: o apartamento está novíssimo, tudo muito bom - mas não pronto para se mudar. Você já gastou muito dinheiro, mas vai gastar mais, dizem os defensores do usado.
É que, como se sabe – e aí para a semelhança com o carro novo, que você compra e sai dirigindo –, os novos imóveis ainda exigirão um tempo de ajuste e obras adicionais, isto é, mais tempo e dinheiro: pois é frequentemente necessário colocar algumas louças, metais diversos, aquecedor, box de banheiro, instalações de acabamento, e tudo o mais que uma mudança de fato exige, como por exemplo, o mobiliário de cozinha, área de serviço, cortinas, luminárias e outros detalhes.
Já o apartamento usado quase sempre está pronto para usar (está testado, por óbvio) e normalmente já entrega algum tipo de mobiliário de uso mais geral, quando não quase uma mobília completa. Em geral é mais barato, maior, e muitas vezes igualmente bem localizado. Qual o problema com eles então?
Começa com a decoração, com o tipo de piso, com a pintura, com os acabamentos gerais, com o desenho dos cômodos, com as vagas apertadas, enfim com tudo aquilo que ele carrega e que não te agrada, dizem os defensores dos novos. Olhar a vida inteira para uma cozinha que não satisfaz é uma perspectiva que tira o apetite de qualquer um. Claro, será sempre possível reformar; mas este é um cenário imprevisível, que se sabe como começa e nunca como termina.
Apesar desses contratempos com o
usado, ainda assim as pesquisas mostram uma igual satisfação com essa
conquista.
É compreensível; afinal, o imóvel usado é também novo para o cliente que o adquire – ainda que ele não o seja novo em sentido estrito.
O que importa, portanto, é menos se é novo ou usado o imóvel, mas a conquista: a história será sempre nova, pois será a sua.
Assim, não existe o certo ou o
errado aqui, pois sempre haveremos de olhar, em nossa compra, para o lado bom
que o imóvel nos entrega. E que não é pouca coisa.
É o novo, a novidade, a perspectiva
de um futuro melhor.
Na
química da felicidade imobiliária, o que vale mesmo são as chaves na mão. Não é
tanto o cheiro do apartamento, mas o barulhinho das chaves.
Marcos Kahtalian é sócio-fundador da Brain Inteligência Estratégica*

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