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O “arquiteto do Greca”: quem é o jovem que está encabeçando projetos de urbanismo em Curitiba

Isadora Rupp, especial para a HAUS
01/02/2021 22:01
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Memorial Paranista é a primeira obra “do zero” do arquiteto Guilherme Klock. | Alexandre Mazzo/Gazeta do Povo

Guilherme Klock ainda era estudante de arquitetura, em 2011, quando recebeu uma mensagem um tanto inusitada em seu perfil no Facebook. Na época ele fazia intercâmbio na Universidade Marista de Mérida, na península de Yucatán, e costumava postar algumas de suas ideias e projetos, muitos deles inspirados na sua vivência mexicana.
Além da interação com amigos e colegas, quem começou a comentar os posts com os projetos foi o engenheiro e atual prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM). Ao voltar da temporada fora, os dois foram tomar um café - uma das manias de Klock -, e Greca lhe mostrou um caderno com projetos que ele estava desenhando para a campanha municipal em 2012 (na época, a eleição foi vencida por Gustavo Fruet). Entre os projetos, estavam o já declinado metrô aéreo e a pirâmide solar no Caximba; essa deve se tornar realidade no antigo aterro sanitário até 2022.
Até se formar e começar a atuar na arquitetura urbana, primeiro no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), onde ficou de 2017 a 2019, e atualmente na Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Guilherme Klock, 30, trabalhou em outros projetos com Greca, como o de pesquisador-assistente do livro “Curitiba - Luz dos Pinhais”, de autoria do prefeito. “Fiquei seis meses escrevendo com ele, o que foi uma coisa fantástica. Eu aprendi muitas coisas de história da cidade. Eu ia de manhã cedo para a casa dele, ficávamos escrevendo direto até à noite, pesquisando, lendo, ele relembrando histórias. Foi muito gratificante aprender tudo isso e ter essa vivência”, conta sobre Greca, um de seus mentores. “Ele me ensinou praticamente tudo de arte, arquitetura, urbanismo. Poder trabalhar com ele foi uma oportunidade que eu agarrei, e agora cheguei aqui. Foi naquele momento que tive que fazer a escolha de ser um arquiteto urbano”.
Nascido nos anos 1990 em Curitiba, Klock era criança quando Greca assumia a prefeitura em 1993, sucessor do arquiteto Jaime Lerner. “Frequentei os parques que ele inaugurou e, de alguma forma, acompanhei a transformação que ele fez na cidade. Isso fica na nossa memória”, crê. “Curitiba tem uma mágica do planejamento urbano, algo que sempre me interessou.”
"Mágica do Planejamento Urbano" de Curitiba é uma das coisa que atraiu Guilherme para a arquitetura.
"Mágica do Planejamento Urbano" de Curitiba é uma das coisa que atraiu Guilherme para a arquitetura.
Assim como o mentor - e agora chefe - é perceptível o quanto Guilherme se envolve com a cidade onde, quando não está pensando projetos, está circulando por seus vários cafés, ou colecionando orquídeas. O arquiteto tem cerca de 1 mil plantas em casa, um sobrado no Jardim Social, e já pensa em se mudar para uma chácara na Região Metropolitana para comportar sua coleção.  “Tenho uma paixão especial pelas orquídeas brasileiras”, fala.
Colecionar, aliás, é algo caro para o arquiteto que, ao contrário de muitos jovens de sua geração, não é, definitivamente, um minimalista: além das plantas, guarda desde criança rochas e minerais. Livros e quadros são outra mania - ele chegou a estudar gravura no Solar do Barão e escultura na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. A escolha por arquitetura foi muito por ser uma área que reúne história, arte e futuro. "É uma das únicas profissões que conseguimos deixar um legado construído, uma marca”, acredita.

A grande obra até aqui 

A vontade de Guilherme Klock de deixar legados materializados foi conquistado aos poucos nesses anos no Ippuc e na Secretaria do Meio Ambiente. Ele foi responsável por projetos como o Worktiba, o primeiro coworking municipal do Brasil; a Escola de Patrimônio & Liceu das Artes; o Largo da China, no Centro Cívico; as lojas de turismo #CuritibaSuaLinda e a reforma do Mercado Municipal. “Foi uma experiência muito boa a oportunidade de promover um espaço que frequento desde criança, de dar um destaque” salienta o arquiteto. Neste projeto do mercado especificamente, Klock foi destacado por Greca para realizá-lo. O prefeito, segundo ele, é de convivência tranquila no trabalho. “Ele é aberto a ideias e, se não gosta de algo, é direto e pede para modificar. Tudo é conversado”.
O xodó de Guilherme até agora, porém, é o Memorial Paranista e o Jardim das Esculturas João Turin, no Parque São Lourenço, inaugurado no final de 2020, para contar a história do movimento artístico-cultural. O local foi pensado por Klock junto com o arquiteto Fernando Canalli, e foi o primeiro trabalho “do zero” realizado pelo jovem profissional. O espaço ainda continua com as obras em curso e deve ser inaugurado em definitivo no final de março, no aniversário da cidade.
Detalhe de temas paranistas presentes no Memorial homônimo.
Detalhe de temas paranistas presentes no Memorial homônimo.
De acordo com Klock, o projeto dele e de Canalli partiu de um eixo central logo na entrada do parque. “Antes, quando as pessoas passavam por aqui, elas entravam pela ciclovia, viam um parquinho e o Centro de Criatividade era cercado. Nós criamos esse acesso por meio dos blocos para trazer as pessoas para esse espaço de arte e cultura, e para que elas percebam e venham ao parque.”
Uma sala de exposições com obras - réplicas e inéditas - do acervo do artista João Turin é um dos locais do bloco, que abrigará ainda o auditório Cleon Jaques e uma fundição-ateliê para que as pessoas vejam de que forma as obras são feitas. Um café e um ateliê de cerâmica também farão parte do Memorial. 
A galeria, de vidro e ferro, que à noite se torna uma espécie de “luminária" para o parque, traz linhas e materiais contemporâneos; os elementos do movimento paranista estão nos detalhes, como no puxador das portas em formato de pinhão. No jardim, além das esculturas ampliadas em tamanho monumental, Klock e Canalli reproduziram a fachada da casa-ateliê de Turin.
Em um momento pós-pandemia, a expectativa de Guilherme Klock é que as pessoas visitem em peso locais como o Memorial Paranista. “Acho que agora as pessoas vão querer aproveitar ao máximo os parques, as praças, a Rua XV, os restaurantes, os cafés. Acho que vai vir muita gente de fora conhecer a cidade. Vão ocupar o espaço público”, aposta.

Veja mais fotos do memorial:

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