Arquitetura

Fotos inéditas mostram os seis meses de construção do MON

Helena Carnieri
23/09/2019 10:55
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Fotos: Nani Góis/Divulgação

Há 17 anos, Curitiba tem uma testemunha ocular que vela sobre a cidade. A mais de 30 metros do chão, o “Olho” do Museu Oscar Niemeyer (MON) serve tanto de cartão-postal, atraindo milhares de turistas, quanto como uma espécie de convite ao mundo das artes.
Um paranaense de Sertanópolis pode se considerar testemunha do surgimento dessa edificação, que já nasceu integrando catálogos de arquitetura internacionais.
Durante os seis meses da obra tocada em tempo recorde e inaugurada em novembro de 2002, o fotógrafo Nani Góis registrou diariamente o trabalho dos profissionais que se dedicaram a esse feito que mudaria a paisagem da capital. O resultado foram cerca de três mil imagens, fruto de um projeto individual do artista, hoje com 67 anos. Algumas das fotografias foram cedidas ao museu, que as expôs na Torre do Olho.
Agora, uma seleção dos cliques ganha as páginas do livro “O Olho de Curitiba”, editado por Góis, com o apoio de nomes como Nilson Monteiro e outros jornalistas envolvidos na cobertura do surgimento do importante museu brasileiro, além de políticos e outras personalidades, em um total de 20 depoimentos. O lançamento ocorre dia 24 de setembro, às 19h, no MON.
É surpreendente folhear a obra e descobrir o esqueleto por dentro da estrutura curvilínea do “Olho”, e emocionante perceber quantos trabalhadores suaram a camisa para que a obra pudesse ser entregue no prazo. “Quando eu chegava, já me davam capacete e luva”, brinca o fotógrafo, que conversou com HAUS. “Uma tarde estava em casa e pensei: ‘vou lá na obra’. De repente, para uma van e desce Niemeyer em pessoa. Aos 94 anos, ele tinha uma cabeça… sabia todos os detalhes daquilo.” A foto do visitante ilustre, que faleceu em 2012, foi parar no livro.
O fotógrafo descreve o clima da obra como “uma alegria só”. Para ele, os 600 trabalhadores “não sabiam exatamente o que estavam fazendo, mas faziam com muito prazer”. Góis chegou a interromper os trabalhos durante uma hora para registrar todo o grupo em frente ao canteiro de obras.
Autor de um dos depoimentos que constam no livro, o então governador Jaime Lerner foi o responsável por renovar o prédio construído em 1967, com projeto de Niemeyer, originalmente para o Instituto de Educação, mas que, em 2002, abrigava secretarias de estado. Lerner considera a série de fotos muito coerente com a trajetória profissional de Góis, que assina outras obras retratando momentos históricos do Brasil e de Curitiba.
“Me lembro que, quando visitava a obra, ele estava lá, registrando tudo. Foi uma homenagem aos operários, calculistas e todos os envolvidos, mas principalmente ao Oscar Niemeyer”, conta Lerner.

Marco arquitetônico na cidade

O livro acaba sendo também uma aula de arquitetura, ao trazer detalhes do processo nas palavras de Lerner e do próprio Niemeyer. “De início, achávamos que bastava reciclar o prédio, mas Niemeyer ponderou que havia uma limitação a ser vencida. Apesar das grandes dimensões da edificação, o pé-direito não era alto o suficiente para determinadas exposições. (…) Foi então que ele desenhou o olho”, escreve Lerner.
“Para o projeto, eu tinha que levar em conta que essa escola já fazia parte da cidade de Curitiba como uma de suas obras mais representativas. Não deveria, portanto, ficar escondida, o que explica ter projetado o museu ‘solto no ar’, dois metros acima de sua cobertura”, explicou Niemeyer em texto da época.
Para Lerner, os trabalhadores retratados em “O Olho de Curitiba” sabiam, sim, o que estavam fazendo, e por isso demonstravam tanta alegria: seria um dos museus mais importantes do mundo.

SERVIÇO:

“O Olho de Curitiba”, de Nani Góis;
Lançamento: 24 de setembro, às 19h;
Local: Museu Oscar Niemeyer;
Edição do autor, 276 páginas, R$ 80.

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