Arquitetura

O primeiro arranha-céu de Curitiba é dos tempos do art déco

Mariana Domakoski*
17/01/2017 20:59
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Edifício Moreira Garcez, na Boca Maldita. Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo | GAZETA

As colunas do Edifício Moreira Garcez, na Boca Maldita, as linhas verticais na fachada da sede dos Correios e os efeitos produzidos pelas sacadas do Edifício Marumby, ambos na Praça Santos Andrade, decretaram, por volta dos anos 1930, o fim do rococó nas edificações. Era a vez do racional art déco, que veio acompanhado do uso crescente do concreto armado, com amostras de estilos intermediários.
“É interessante pensar que símbolos curitibanos foram levantados com referências à estética”, reflete o arquiteto Emerson José Vidigal sobre o Garcez –primeiro arranha-céu da cidade e por tempos considerado o terceiro prédio mais alto do Brasil – e o Marumby, primeiro edifício residencial daqui.
Foto: Antônio More/Gazeta do Povo
Foto: Antônio More/Gazeta do Povo
Assim como outras cidades brasileiras, Curitiba, que antes só via construções em madeira ou tijolo com vigas em metal, passou a ganhar mais e mais exemplares feitos com concreto, revestidos em pó de pedra, com escalonamento, verticalidade e brincadeiras volumétricas. Os balcões de madeira e metal dão lugar a sacadas e parapeitos curvos, que criam um jogo entre espaços cheios e vazios, inclusive em faces localizadas nos cruzamentos de duas ruas.
“Antes, um edifício era só parede sobre parede e ia subindo. Com o art déco, começa a haver uma valorização da esquina”, afirma o arquiteto Guilherme de Macedo. O art déco decreta também a economia nos ornamentos, ou pelo menos a geometrização deles. O termo veio depois do estilo e foi criado para abreviar o nome da Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes, realizada em 1925 na França, que apresentou um universo de artes e design com traços mais simplificados.
Só em 1966, com a exposição Les Années 25, em Paris, a expressão ganhou força como conceito. Em busca dessas formas mais simples, sem muitos elementos decorativos, arquitetos de uma das vertentes deste movimento no mundo voltaram-se à arqueologia, a exemplares de antes da Grécia clássica, como descreve Irã Dudeque em seu livro “Espirais de madeira – Uma História da Arquitetura de Curitiba”. Deram de cara com “construções cúbicas, com pilares que eram apenas pilares, e vigas que eram apenas vigas”.
O resgate, a manutenção e até mesmo o descarte são resultados naturais de mudanças na sociedade. “Acredito que todo movimento marca uma diferença peculiar em relação à maneira de ver o mundo. O art déco quis simplificar o desenho e a execução, refletindo os modos de produção da época, que passaram a ser industrializados”, reflete Vidigal.
Para o alto
Com as possibilidades oferecidas pelo concreto armado e a industrialização, alcançar as alturas era uma realidade, além de sinalizar progresso, entre as décadas de 1930 e 1960. Começaram a pipocar desde os “prédios deitados” – estruturas de no máximo dois andares que abrigavam pequenos apartamentos em terrenos onde seriam construídas casas unifamiliares – até os mais altos. “O concreto possibilitou mais liberdade, mais altura, volumes mais complexos. Permitiu grandes vãos e janelas amplas”, afirma o arquiteto Fábio Domingos Batista.
Esses edifícios foram sinônimo de vanguarda, por apresentarem uma estética à frente do seu tempo. Há vários exemplares pela cidade, datados desse período. “Observando fotos antigas, vemos que muitos foram demolidos ou descaracterizados, principalmente os de porte pequeno e médio”, de acordo com Batista.
O número 250 da Praça Tiradentes é do Santa Rosa, um edifício de 1940 revestido com pó de pedra, com oito pavimentos e um charme lateral: uma estrutura metálica de janelas em formato tubular que reforça a verticalidade da construção. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo
O número 250 da Praça Tiradentes é do Santa Rosa, um edifício de 1940 revestido com pó de pedra, com oito pavimentos e um charme lateral: uma estrutura metálica de janelas em formato tubular que reforça a verticalidade da construção. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo
Macedo também percebe pouca atenção a eles. “Por aqui vemos muita informação sobre o modernismo, mas esquecemos do que abriu caminho para ele. Os edifícios art déco dessa época são tão importantes quanto os modernistas, mas meio que se dá as costas a eles, talvez por existirem em grande número, o que acaba se transformando em algo comum, banal”, avalia.
* especial para a Gazeta do Povo

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