Arquitetura
Opinião: Quem deve zelar pelo patrimônio cultural é o primeiro a abandoná-lo
Foto do arquivo de Juarez Machado mostra a inauguração do xadrez que ficava atrás do Paço Municipal nos anos 1970. Foto: Arquivo Juarez Machado.
Nos idos anos 1970 o catarinense Juarez Machado, um dos mais brilhantes artistas plásticos brasileiros, recebeu um desafio do prefeito Jaime Lerner: criar um jogo de xadrez para a parte de trás do Paço Municipal, atual Praça José Borges de Macedo. A criação virou o xadrez mais encantador que o mundo já viu. Peças gigantes de pouco mais de um metro e meio esculpidas a partir de tubos de PVC em azul e laranja.
O jogo permaneceu pouco tempo na praça e a partir de então iniciou uma peregrinação pela cidade, até encontrar abrigo no Centro de Criatividade do Parque São Lourenço. Por décadas elas ficaram esquecidas.
Foram restauradas, mas somente seis peças, de um total de 32, sobreviveram. Voltaram para os depósitos da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). A HAUS foi atrás do xadrez e descobriu que somente duas peças sobreviveram ao vai e vem pelos galpões.
Foram restauradas, mas somente seis peças, de um total de 32, sobreviveram. Voltaram para os depósitos da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). A HAUS foi atrás do xadrez e descobriu que somente duas peças sobreviveram ao vai e vem pelos galpões.
A destruição do xadrez de Juarez Machado é um exemplo cristalino do tratamento que nosso patrimônio cultural muitas vezes recebe. Como pode justamente a instituição que deveria cuidar da integridade física das peças ser justamente o Pilatos do nosso microcosmo?
Profissionais do setor batem na mesmíssima tecla. Ouvem-se várias desculpas disparadas vez ou outra. Orçamento reduzido, falta de vontade política de inúmeras gestões, burocracias. Não ignoram-se os fatos.
Profissionais do setor batem na mesmíssima tecla. Ouvem-se várias desculpas disparadas vez ou outra. Orçamento reduzido, falta de vontade política de inúmeras gestões, burocracias. Não ignoram-se os fatos.
Mas como aceitar o abandono das obras de um dos mais célebres artistas plásticos brasileiros? Dele e de tantos outros. Ou melhor: quando aceitou-se que os depósitos da Fundação Cultural de Curitiba adquirissem os contornos de túmulos que esbanjam hoje? Não existe explicação que dê conta de justificar a destruição das obras.
E que tal falar em responsabilidade? Ninguém nunca se levantará para assumir a omissão. De todos os motivos que podem ser aventados para esclarecer o fato, o mais importante é que a falta de responsabilidade neste caso é coletiva. Uma sucessão típica de “empurrar com a barriga” do poder público.
E que tal falar em responsabilidade? Ninguém nunca se levantará para assumir a omissão. De todos os motivos que podem ser aventados para esclarecer o fato, o mais importante é que a falta de responsabilidade neste caso é coletiva. Uma sucessão típica de “empurrar com a barriga” do poder público.
Isso somado ao nosso silêncio complacente como cidadãos. Não nos esqueçamos da nossa parcela de responsabilidade. Por isso cobrem.
A casa Erbo Stenzel está no mesmo balaio. Um dos exemplares mais especiais de casa de madeira tradicional paranaense sendo carcomido pelo tempo e pela umidade do Parque São Lourenço. E a pulga atrás da orelha começa a saltitar de novo: por onde será que andam os objetos da casa? Em qual depósito oficial estão em processo de decomposição?
Será que só saberemos dos sumiços em época de eleição e só quando for oportuno? O que falta a nós e às nossas instituições para pararmos de “lavar as mãos”?
A casa Erbo Stenzel está no mesmo balaio. Um dos exemplares mais especiais de casa de madeira tradicional paranaense sendo carcomido pelo tempo e pela umidade do Parque São Lourenço. E a pulga atrás da orelha começa a saltitar de novo: por onde será que andam os objetos da casa? Em qual depósito oficial estão em processo de decomposição?
Será que só saberemos dos sumiços em época de eleição e só quando for oportuno? O que falta a nós e às nossas instituições para pararmos de “lavar as mãos”?
* Luan Galani é repórter de HAUS