Luto
Arquitetura
“Pai” da Estrada da Graciosa, arquiteto Lolô Cornelsen morre aos 97 anos
O arquiteto e ex-jogador de futebol Lolô Cornelsen foi um ícone do modernismo paranaense. | André Rodrigues/ Arquivo Gazeta do Povo
Morreu nesta quinta-feira (5) o arquiteto e engenheiro Ayrton João Cornelsen, conhecido por todos como Lolô Cornelsen. “Pai” de projetos icônicos, como a Estrada da Graciosa e Rodovia do Café – estradas que desenhou quando comandava o Departamento de Estradas e Rodagens do Paraná nos anos 50 —Lolô figura entre os grandes nomes do modernismo brasileiro.
Lolô foi vítima de uma falência múltipla dos órgãos e acabou falecendo no Hospital Vita, em Curitiba, nesta madrugada. Ele deixa quatro filhos, sete netos e sete bisnetos, além da esposa Cleuza Cornelsen. O funeral ocorrerá no Cemitério Luterano de Curitiba, no Alto da Glória, a partir das 15h.
Nos últimos anos, Lolô dedicou-se a pintar e projetar campos de golfe. Ele também fazia parte do Banco de Ideias do Instituto de Engenharia do Paraná, no qual ajudou a projetar e aprimorar casas pré-moldadas (baratas e de fácil construção) para auxiliar na reconstrução do Haiti, após a destruição do terremoto de 2010.
Inventor do Paraná
Lolô Cornelsen se formou simultaneamente em arquitetura e engenharia civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), ganhando projeção nacional como um dos últimos arquitetos da geração de modernistas brasileiros.
Decidiu se dedicar à arquitetura depois de receber a bênção do urbanista francês Alfred Agache em 1941, que viu no jovem um futuro promissor. Como diretor do DER-PR, as linhas de seu lápis deram origem a mais de 400 km em estradas. Além disso, planejou a colonização do oeste e sudoeste do Paraná, estruturando diversas novas cidades com planos diretores, e foi responsável pelo projeto de alguns marcos do urbanismo, entre eles o ferry-boat de Guaratuba.
Carreira internacional
Após ser tachado de comunista durante o Governo Juscelino Kubitschek-- graças ao seu gosto pela cor vermelha e por ter sido enviado pelo presidente para divulgar a arquitetura brasileira em Moscou--, Lolô imigrou para Portugal durante os anos de governo militar.
Em seus anos no exterior moldou um extenso currículo com casas modernistas, clubes, hospitais, escolas, campos de golfe e hotéis em países da Europa, África, América do Norte e do Sul. Em 1976 retorna para Curitiba e cria diversas casas com influências claras da arquitetura portuguesa, como a Vila Camões, tida como o primeiro condomínio residencial da capital paranaense.
A vida de Lolô chegou a ser retratada em um documentário, Homem Asfalto (2017), um projeto idealizado pela Planeta Brasil, produtora dirigida por seu neto, Patrik Cornelsen.
Esporte e arquitetura
Apaixonado por esportes, foi jogador de vôlei, arriscou-se na corrida com barreiras e chegou a defender a Seleção Paranaense de Basquete. Mas foi no futebol que teve suas maiores conquistas esportistas. Foi tricampeão do Campeonato Paranaense com a camisa do Clube Atlético Paranaense, em 1943, 1944 e em 1945. O arquiteto também foi convidado a redesenhar o escudo do clube Atlético Paranaense, sendo o criador do tradicional CAP estilizado e inspirado no estilo barroco que acompanhou o rubro-negro até 2019.
A paixão pelos esportes também acompanhou seus projetos. Além dos estádios Couto Pereira e Pinheirão, em Curitiba, Lolô também foi responsável pela Vila Olímpica do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro. Sua experiência com estradas também renderam a Lolô emblemáticas participações na construção de autódromos como o Autódromo Internacional de Curitiba, Autódromo de Jacarepaguá (Rio de Janeiro), Autódromo de Luanda (Angola) e Autódromo de Estoril (Portugal).